domingo, 15 de dezembro de 2024

NATAL DE FACHADA E DAS FACHADAS


Gosto de olhar os pormenores. Também nesta quadra de Natal. Continuo a acreditar que o seu centro (causa primeira) seja celebrar o nascimento de Jesus, o Salvador e preparar a Sua vinda gloriosa. Caso contrário, seria mais um feriado, como o Carnaval, o 25 de abril, o 1º de maio ou os santos populares, cada um com as suas motivações, adereços e encenações.
Esta semana tive a oportunidade de passar por todas as comunidades que me estão confiadas e dei-me conta de um pequeno pormaior: na sua maioria, as casas que tinham mais luzes, estandartes e enfeites de Natal eram de famílias que nem sequer na Eucaristia dominical participam e sem um mínimo sentido de pertença à comunidade! É curioso, haver tanta preocupação com estes sinais exteriores de fe(sta) sem haver compromisso efetivo com o mais importante da fé!
Das duas uma.
(1) Pensam que isso basta para ser cristão: cuidar da(s) fachada(s), tentar impressionar os outros pela imagem e aparência, e exibir sinais exteriores para compensar o vazio e ausência de Deus, sinais claros do mundanismo espiritual.
(2) Ou sofrem de tamanha e tacanha imaturidade espiritual (infantilidade) que julgam bastar uns enfeites no Natal e abrir a porta à Cruz na Páscoa para se apresentarem, peito feito, como católicos! O verdadeiro ato de fé destes (in)fiéis é acreditar que basta iluminar a casa no Natal e convidar os amigos para beijar a Cruz na Páscoa para se dizerem católicos, quase sempre acrescido do atributo snobe “não praticantes”!
«Ai de vós, doutores da lei e fariseus hipócritas, porque sois semelhantes a túmulos caiados, que por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda a impureza. Assim também vós: por fora pareceis justos aos homens, mas por dentro estais repletos de hipocrisia e iniquidade.» (Mt 23, 27-28)
Como é possível celebrar o Natal sem tão pouco pôr os pés na Igreja? Que respeito merece este tipo de in(fiéis) que, a propósito de comemorar um nascimento (de Jesus), se entretém a promover reuniões familiares, compras, presentes, passeios temáticos, iluminações e afins e sem qualquer sinal de atenção (apreço, amor) para com o Menino?
«Vamos a Belém…: assim disseram e fizeram os pastores. Também nós, Senhor, queremos vir a Belém. O caminho, ainda hoje, é difícil: é preciso superar os cumes do egoísmo, evitar escorregar nos precipícios da mundanidade e do consumismo. Quero chegar a Belém, Senhor, porque é lá que me esperas. E dar-me conta de que Tu, colocado numa manjedoura, és o pão da minha vida.» (Papa Francisco, 24.12.2018)
Dá-me pena haver quem valorize mais bonecos e imagens que o encontro real com Cristo na Palavra e no Pão. Dá-me pena a soberba mental não entender que «onde dois ou três se reúnem em Meu nome, Eu estou no meio deles». Dá-me pena que igrejas e santuários, sacramentos de Vida e Salvação, sejam trocados por modas e meios de consumo, alienação, libertinagem e envaidecimento. Dá-me pena que o Vivente esteja a ser habilmente afastado da vida de pessoas e famílias nitidamente moribundas na fé. Sinal dos tempos ou um tempo de sinais?
(P. António Magalhães Sousa), aqui

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