quinta-feira, 1 de junho de 2023

O roteiro do Vaticano para o uso das redes sociais

O Dicastério para a Comunicação do Vaticano expôs suas ideias sobre o uso cristão das redes sociais em um documento intitulado "Rumo à presença plena", publicado em 29 de maio de 2023. Afirmando que "todo cristão é um microinfluenciador", o texto convida todos - inclusive os bispos - a se absterem de escrever ou compartilhar conteúdo que possa provocar mal-entendidos ou exacerbar divisões.

Resultado de uma reflexão coletiva envolvendo especialistas, professores, leigos, padres e religiosos, esse documento de 20 páginas, traduzido em 5 idiomas, tem como objetivo dar sentido à presença dos cristãos nas redes sociais. "Muitos cristãos estão pedindo inspiração e conselhos", diz o texto, assinado por Paolo Ruffini, Prefeito do Dicastério para a Comunicação, e Dom Lucio Ruiz, Secretário do mesmo Dicastério.

Os autores começam fazendo uma retrospectiva da desilusão gerada pela era digital, que "deveria ser uma 'terra prometida' onde as pessoas poderiam confiar em informações compartilhadas com base na transparência, na confiança e na experiência". Em vez disso, os ideais deram lugar às leis do mercado, e os usuários da Internet foram transformados em "consumidores" e "mercadorias", com seus perfis e dados sendo vendidos.

Outra armadilha identificada pelo departamento é que, no mundo digital, um grande número de pessoas continua marginalizado devido à "exclusão digital". As redes que deveriam unir as pessoas, em vez disso, "aprofundaram várias formas de divisão". Paolo Ruffini e Monsenhor Ruiz apontam para a criação de "bolhas de filtro" por algoritmos que impedem que os usuários "encontrem o 'outro' que é diferente", mas incentivam pessoas semelhantes a se encontrarem. No final, "as redes sociais estão se tornando um caminho que leva muitas pessoas à indiferença, à polarização e ao extremismo".

Mas o documento não é fatalista. "A rede social não é imutável. Nós podemos mudá-la", dizem os autores, que esperam que os cristãos possam se tornar "impulsionadores da mudança" e "incentivar as empresas de mídia a reconsiderar seu papel e permitir que a Internet se torne um espaço público genuíno".

Em uma escala diferente, o usuário cristão da Internet também deve ser capaz de realizar um "exame de consciência", para mostrar "discernimento" e "prudência". Nas redes, trata-se de garantir que "transmitamos informações verdadeiras, não apenas quando criamos conteúdo, mas também quando o compartilhamos", insiste o documento, que nos convida a fazer a nós mesmos a pergunta "Quem é meu próximo?" na Internet.

"Todos nós devemos levar a sério nossa 'influência'", adverte o dicastério, assegurando-nos de que "todo cristão é um microinfluenciador". Quanto maior o número de seguidores, maior a responsabilidade. Eles alertam contra a publicação ou o compartilhamento de "conteúdo que possa provocar mal-entendidos, exacerbar divisões, incitar conflitos e aprofundar preconceitos".

Os autores não hesitam em expressar sua tristeza pelo fato de que "bispos eminentes, pastores e líderes leigos" às vezes também se entregam a uma comunicação "polêmica e superficial". Diante disso, "o melhor curso de ação é, muitas vezes, não reagir ou reagir com o silêncio para não dar peso a essa falsa dinâmica", apontam.

Sobre o tema do silêncio, o texto reconhece que a cultura digital, "com a sobrecarga de estímulos e dados que recebemos", está desafiando os ambientes educacionais e de trabalho, bem como as famílias e as comunidades. O "silêncio" pode, portanto, ser comparado a uma "desintoxicação digital", que não é simplesmente "abstinência, mas sim um meio de estabelecer um contato mais profundo com Deus e com os outros".

Outros conselhos incluem não fazer "proselitismo" na internet, mas sim ouvir e dar testemunho. A comunicação não deve ser simplesmente uma "estratégia", diz o documento, e a busca por um público não deve ser um fim em si mesma. O texto lembra a atitude de Jesus, que não hesitou em se retirar e fugir das multidões para descansar e orar. "Seu objetivo […] não era aumentar sua audiência, mas revelar o amor do Pai", analisa o dicastério.

E quanto à liturgia digital?

"Não se pode compartilhar uma refeição através de uma tela". Reconhecendo que as redes sociais desempenharam um papel essencial e reconfortante na divulgação das celebrações litúrgicas durante a pandemia, o Dicastério para a Comunicação acredita que "ainda é necessária muita reflexão […] sobre como aproveitar o ambiente digital de uma forma que complemente a vida sacramental". De fato, "questões teológicas e pastorais foram levantadas", particularmente em relação à "exploração comercial da retransmissão da Santa Missa".

A era digital não deve apagar a atenção à "Igreja doméstica", insiste-se, a "Igreja que se reúne em casa e ao redor da mesa". Em outras palavras: a Internet pode complementar, mas não substituir, porque "a Eucaristia não é algo que podemos simplesmente 'assistir', é algo que realmente nos nutre".

In Aleteia

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