quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Estudam pouco, sabem pouco e não estão preparados para este mundo cruel

O ESTUDO E A CULTURA
 Li, há pouco tempo num jornal, que um determinado colégio quis recrutar dois professores de que necessitava. O diretor, que já correu mundo a ensinar português, resolveu fazer uma entrevista a cada um. Esses dois professores não só eram licenciados como eram mestres em ciências da educação.
O diretor do dito colégio, além de várias questões pertinentes, perguntou-lhes se sabiam, geograficamente, em que região se situava o colégio e como se chamava o rio que por ali passava. Deve dizer-se que o rio é um dos principais cursos de água a nível ibérico. Pois, segundo o jornalista, nenhum deles soube responder a tão insignificantes questões.
Não vamos agora aqui afirmar que, só por isso, não seriam bons professores, contudo certas ignorâncias dizem muito sobre o nível cultural de alguns licenciados e mestrados. Será por isso que têm medo do exame que o Ministério quer fazer para o ingresso na carreira docente? Pelos vistos têm.
Antigamente, quando muito poucos chegavam às Universidades, o emprego era garantido e, às vezes, os filhos continuavam a profissão dos pais. Hoje, porém, com o aumento da escolaridade e com a elevada frequência das Universidades, tudo é muito mais difícil. Só trinta e sete mil professores não foram colocados! Isto de certeza tem as suas causas. O que é que isto quer dizer? Primeiro, esses trinta e sete mil não se formaram de um dia para o outro. Já sabiam pois que as colocações seriam problemáticas. Então porquê frequentaram esses cursos? Segundo, porquê muitos, não tendo notas para entrar nas universidades públicas, entraram em universidades particulares onde, de preferência, só há esses cursos? Terceiro porquê escolheram os cursos que se tiram com mais facilidade? Isto sem contar com as despesas que os pais fizeram sempre com a esperança de terem um filho doutor. Falo dos professores como podia falar de outros profissionais. A crise só veio agudizar a situação.
Será que a competição, por vezes feroz, alertou esses jovens para as dificuldades e para a importância de se estudar verdadeiramente e de ultrapassar os obstáculos que lhes surgirão pelo caminho? A resposta é não.
Estudam pouco e sabem pouco e não estão preparados para este mundo cruel, competitivo e pouco dado a facilidades. Não acreditam nas vidas duras dos seus pais e avós que souberam ultrapassar tudo com menos estudos mas, talvez, com mais cultura. Para confirmar o que escrevo, passo a citar Inês Pedrosa sobre o assunto: "Culpa dos
papás
? Sem dúvida: viveram a sacrificar-se pelos filhos, deram-lhes tudo menos a noção de sacrifício.
Esqueceram-se de lhes ensinar que a democracia é um sistema frágil e que sem a coragem dos seus antepassados não teriam as regalias que têm.
Esqueceram-se de lhes ensinar a lutar por mais do que um lugar ao sol. Esqueceram-se do essencial".

Carlos A.Borges Simão

2 comentários:

  1. Não posso deixar de comentar esta postagem que me levou às lágrimas em fio... porque me vejo na situação difícil de ser professora, mas não nas diversas considerações que o autor refere. Os meus pais ensinaram-me que a vida não é fácil, o meu curso não foi fácil,entrei numa universidade pública com nota superior à que me pediam, não sabia que ia ser assim tão difícil um lugar, não ao sol, mas sim à chuva (porque os meus colegas conseguiam colocação, só deixou de haver com mais facilidade quando eu terminei, que ironia), não estive à espera de um lugar caído do céu, fiz outras coisas, uma delas bem árdua por sinal, antes de entrar no ensino, e continuo a estudar, porque tenho consciência de que o meu caminho terá ainda muitos mais obstáculos. Ainda a propósito disso, hoje estava na sala de professores e, em ouvindo alguns colegas, dei comigo a pensar " que mania dos professores terem a petulância de acharem que sabem tudo." Eu não sei tudo nem quero saber, porque obrigar-me-ia a parar, que é o que costumam fazer aqueles que acham que sabem tudo! E é injusto quando somos todos enfiados no mesmo saco...revolta-me, não me calo, mas choro!!!! Gostava que muita gente vivesse a experiência de um mês no professorado e logo discutiriamos com mais assertividade o assunto! Ah, e eu não quero ser mestre nem doutora!!!

    Beijinho sereno

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  2. Ana Patrícia:

    O post que comentou é de um professor, o Dr Carlos Simão, que não sei se ainda está no activo ou já se reformou (o mais certo).
    Aliás este texto enviou-o para o jornal da Paróquia, eu é que achei interessante trazer para aqui o seu ponto de vista para análise de quem o quiser fazer.
    É um ponto de vista. Respeitável como outros pontos de vista.
    Pessoalmente, tocou-me aquele momento em que o autor refere a necessidade de educar para o sacrifício, porque a corda da vida sobe-se a pulso.
    Nestas como noutras coisas, as generalizações são abusos. Conheço jovens que lutam mesmo por um lugar ao sol. Que não fogem a sacrifícios nem se alienam com futilidades. Jovens que sabem o que querem e lutam pelo que acreditam.
    Entusiasma-me a beleza jovem dessas pessoas.
    Beijunho

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