sábado, 5 de fevereiro de 2011

Uma luta impopular

1. Não me interessa rigorosamente nada saber da pequena intriga sobre a eventual diminuição do número de deputados no Parlamento. Se o Governo PS tem nova divergência interna (e parece que tem). Se o PSD pretende um real entendimento ou, apenas, alimentar mais uma discussão. A verdade é que Portugal precisa de ser pensado e reorganizado ao nível dos custos. Temos deputados a mais (230). Municípios a mais (308). Freguesias a mais (4257). Numa altura de crise, em que deveríamos emagrecer o Estado para que este, no futuro, melhor pudesse continuar a cumprir as obrigações junto das pessoas mais carenciadas, este seria o momento ideal para gente responsável olhar para o mapa da política portuguesa e consensualizar cortes que, além de poupar dinheiro ao Estado, significassem até uma eficácia acrescida.
Estamos, no entanto, perante uma luta impopular.
Os partidos, as suas clientelas e as populações não querem redução de cargos nem de divisões administrativas ao nível das autarquias. Estão todos habituados ao Portugal fragmentado e aos inúmeros poderes que ele gera. Acredito, aliás, que uma consulta aos portugueses até desse, muito democraticamente, força a quem pretendesse acrescentar mais uma mão-cheia de cidades e umas dezenas de freguesias.
Este é um daqueles temas perante o qual uma democracia se testa a si própria, os políticos se definem e os partidos nos esclarecem quanto à sua natureza. Não tenho, por isso, grandes expectativas de que o PS e o PSD venham a entender-se quanto ao número de deputados e muito menos de que resolvam questionar o retalho administrativo de Portugal. Vai tudo continuar na mesma.
2. Jerónimo de Sousa introduziu ontem um facto político relevante na agenda ao admitir que, numa eventual votação de uma qualquer moção de censura, o PCP não dará "qualquer sustentação a este Governo PS". Para além da novidade - nunca o PCP votou até agora ao lado daquilo que considera "a direita" -, fica aberta a possibilidade real de o Governo cair se o PSD ou o CDS avançarem, num determinado momento e com pretexto, para a censura que até agora era difícil que recebesse o apoio de qualquer um dos dois partidos à esquerda do PS.
Esta radicalização do discurso faz, provavelmente, parte da marcação ao Bloco de Esquerda, que nos últimos tempos tem feito crer que está finalmente disponível para a construção de uma alternativa de poder. Escreveu Louçã em artigo esta semana publicado no DN: "A campanha de Manuel Alegre significou um importantíssimo passo em frente na afirmação de uma esquerda que governe."
Ou seja, para o PCP é tempo de mudar de "cassete" e, sobretudo, de tentar evitar que caiba ao Bloco a catalisação de todo o descontentamento. O PCP volta a ser a esquerda da esquerda - e houve alturas em que não se teve tanta certeza disso...
Segundo Carlos Costa, presidente do Banco de Portugal, as imparidades do Banco Português de Negócios (BPN) ascendem actualmente a 2078 milhões de euros, das quais "grande parte, 750 milhões de euros, terá sido resultante de presumíveis fraudes". Este caso é absolutamente fantástico! Sobretudo porque ninguém, ao mais alto nível, financeiro e político, admite sequer ter desconfiado do que por lá se passou. Que coisa tão estranha!...
JOÃO MARCELINO, in Diário de Notícias

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