- E se, de repente, quisermos localizar um facto positivo, onde poderemos aterrar? A quem poderemos recorrer?
Por
muito que queiramos fugir ao caudal de más notícias, é muito difícil (para não
dizer impossível) passar ao lado da terra que treme, da chuva que destrói, do
acidente que mata, da violência que não dá tréguas nem parece conhecer limites.
- Será curial nada dizer sobre o que ocorre? Um problema abafado nunca é um problema resolvido. Será sempre um problema adiado, um problema em penoso crescimento.
A
indiferença diante de um problema não ajuda a superar o problema. A realidade
tem de ser encarada de frente.
- Há que transformar os problemas em oportunidades se não queremos que as oportunidades se convertam em problemas.
E
o positivo não surge por inéicia, por uma espécie de lance de mágica. O
positivo nasce pelo esforço, pelo empenho, pela capacidade de transformação.
- Acresce, porém, que o negativo vende melhor que o positivo. Daí que a comunicação social insista, muitas vezes até à exaustão, no tratamento de acontecimentos trágicos.
Ela
sabe que o mercado está assegurado e o êxito garantido. Existe até aquele
adágio, muito popular nos meios jornalísticos, segundo o qual a boa notícia não
é notícia (bonnes nouvelks, pas de nouvelles). Isto cria, quase sem darmos
por isso, um ambiente depressivo e uma atmosfera deprimente.
- Até parece que o negativo atrai negativo. O negativo lá fora gera negativo cá dentro. Com o passar do tempo, tornamo-nos pessimistas, azedos e, não raramente, insuportáveis.
E
se é certo que a notícia de um facto negativo pode ajudar a avencê- lo, também
é verdade que, mesmo involuntariamente pode contribuir para o
disseminar. Regra geral, a notícia de um assalto acaba por ser
sucedida pela notícia de mais assaltos. Dir-se-á que é a lei da vida e,
particularmente, do mercado.
6.
Uma
coisa, entretanto, tem de ser reconhecida. Se não fosse
a comunicação social, muitos seriam os casos esquecidos, imensas seriam as
pessoas ignoradas.
Muita gente se indigna com os excessos da imprensa, da rádio e da
televisão. Mas não será caso para nos indignarmos mais com a indiferença
diante da violência?
7.
Ainda bem que a comunicação social cumpre a sua função de alerta,
de sentinela, de despertador. Poderá ter alguns pecados. Mas é bom que
reconheçamos também as suas virtudes.
Acresce que a apetência pelo negativo não é um exclusivo dos
órgãos de informação. É uma apetência de todos nós. Se o público não consumisse
tanto este género de notícias, não haveria certamente a mesma insistência
nelas.
8. Todos
nós percebemos a necessidade de se respeitar um ponto prévio, que está a
montante de toda a discussão: se um facto existe, que motivo para o silenciar? A questão que se coloca é: será que só
existe o negativo?
Subsiste, entretanto, outra pergunta: não haverá por aí nenhuma
boa notícia para dar, não será possível encontrar nenhum facto positivo para
difundir?
9.
E claro que há e não penso apenas nas vitórias do clube da
simpatia de cada um. Penso no encanto de tantas crianças, na bondade de tantas
pessoas, na heróica resistência de tantas famílias.
Há tanta gente que opera verdadeiros milagres. Que é capaz de,
com tão pouco, alimentar os filhos, pô-los na escola, oferecer-lhes valores.
10.
Há tanta gente que, apesar da competição desenfreada, jamais
pactua com a mentira ou a duplicidade. Há tanta gente que, mesmo na pobreza,
consegue ser tão rica em atitudes, tão pródiga em gestos, tão transparente na
franqueza e tão luminosa no sorriso.
Nada disto vem à superfície da informação. Muitas vezes, é na rua
que recebemos as maiores lições e encontramos as melhores notícias.
(In "Sempre em Mudança)
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