Há mais de quatro décadas. Viviam no mesmo povo.
Igualdina era um mulherão, forte, alta, espadaúda. Dizia-se que era capaz de pegar numa saca de batatas de 100 quilos e transportá-la mais célere do que qualquer valente homem. Ana era coxa, franzina, baixita. Mas com língua de meia légua.
Tinham terrenos pegados e, muitas vezes, as rixas aconteciam. E era sempre a Ana Coxa que começava. Ora "porque os teus filhos deixaram ir os animais para aquilo que é meu", ora "porque andas a regar na minha hora", ora "porque atravessaste a minha lameira, e isto tem dono"...
Igualdina olhava-a com desdém lá desde a sua altura.Virava costas e seguia o seu caminho. Só que a outra não largava. Mancando e andado, seguia a vizinha, azucrinando-lhe os ouvidos.
Quando os cordelinhos da paciência ameaçavam romper-se, Igualdina virava-se para trás e sussurrava entre dentes: "Não tarde a aquecer-te o forno!" A outra afinava então, cacarejando em tom desafiador um chorrilho de ofensas, mais vasto e sinuoso do que a linha do Douro.
Desesperada, espumejando de raiva, Igualdina voltava-se para trás, dava uns passos apressados , pegava na cabeça da Ana, metia-a entre as suas pernas, levantava-lhe a saia e aí vai disto! Deixava cair com força e velocidade supersónica aquelas manápulas no "rabo" da pobre coxa. Esta nem gritar podia, pois além de o saião da grandalhona lhe tapar a boca, as suas pernas apertavam o garganete da infeliz palradeira a ponto de ficar quase sem "suspiração".
Era o que se dizia então no povo: "Uns têm as palavras, outros têm as obras."
Uma semana de muita paz para todos.
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