terça-feira, 20 de outubro de 2015

"Dê-me a mão!"


Já lá vão muitos anos. Acompanhava então um grupo de pessoas que peregrinavam até Fátima.
No autocarro, havia falado com os peregrinos sobre promessas, sacrifícios violentos, velas, etc. Senti que as pessoas me ouviram e percebi gestos de assentimento.
Disse-lhes então que o grande sacrifício que Deus nos pede é a conversão, mudança de vida, para pautarmos a nossa existência pelo ar fresco e novo do Evangelho. É Jesus quem nos desafia: "Convertei-vos e acreditai no Evangelho".
Em Fátima, já noite entradota, passava pelo recinto na companhia de um grupo de jovens. A certa altura apercebi-me de uma senhora que, no sentido Cruz Alta - Capelinha das Aparições,  caminhava ajoelhada. Ao aproximarmo-nos, dei conta que era uma das do nosso grupo. Fiz sinal aos jovens para seguirem em frente e dirigi-me à referida senhora, reconheço que com alguma impetuosidade:
- Então foi isso que falámos no autocarro? Acha que é isso que Deus quer?
A pessoa olhou para mim com ar dorido, continuou a caminhar de joelhos e murmurou:
- Dê-me a mão!
E assim fiz. Sem mais palavras. Com um misto de sentimentos: misericórdia e alguma revolta.
Quando chegámos à Capelinha, cada um esteve um tempo em oração. Não me recordo o que então disse à Mãe diante da sua Imagem. Só sei que, ao sairmos, a senhora com um profundo e feliz sorriso me disse:
- Pronto, agora estou bem. Obrigado.


*Muitos referem Igreja como incentivadora de tão brutais sacrifícios físicos. Outros acusam  a hierarquia da Igreja de não atuar, não esclarecer, não formar. Não é isso.
A Igreja, na fidelidade ao Evangelho, fala de conversão, mudança de vida, no sentido de conformarmos a nossa existência com a Palavra e a Pessoa de Jesus Cristo. É certo que a conversão exige esforço, continuidade, perseverança. Esse é o sacrifício libertador a que somos chamados. Por exemplo, se uma pessoa é alcoólica, e segue numa linha de conversão, claro que para se libertar do vício vai passar por sacrifícios que sente na pele.


*Vindos do fundo dos tempos, persistem nos genes de muita gente, rastos de uma religião sacrificial, ligados a antigas religiões pagãs, que se manifestam em sacrifícios físicos brutais para agradar à divindade. E nem 21 séculos de cristianismo conseguiram ultrapassar esta realidade.


*Cada pessoa é um mistério. "O coração tem razões que a razão desconhece."  Cada pessoa tem a sua idiossincrasia, os seus sentimentos, a sua psicologia religiosa. Muitas vezes, estes aspetos situam-se à margem das normas, diretrizes, orientações da organização religiosa a que pertence e realizam-se numa maneira especial de encontro com Deus.

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