Há espaço para um diálogo sereno, esclarecedor e construtivo sobre a possibilidade ou não de os divorciados recasados acederem aos sacramentos? Será possível dialogar sem ceder à tentação fácil de catalogar uns de conservadores e outros de progressistas? Ou pior, de chamar fariseus a uns e apóstatas, hereges a outros? Sim, é possível. Pelo menos assim acreditam dois bispos Franceses, — Marc Aillet e Jean-Paul Vesco, bispos de Bayonne, Lescar e Oloron, e de Oran, respectivamente — que aceitaram debater publicamente as suas concepções sobre a família e as suas divergências. O debate teve lugar em 2 de Outubro, no contexto da quinta edição dos Estados gerais do Cristianismo, entre 2 a 4 Outubro, em Estrasburgo, França. Quando há um ano, na abertura da Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, o Papa pedia aos padres sinodais para falarem claro e da necessidade de dizerem tudo o que sentiam com parrésia (com franqueza), Francisco esperava tudo, menos o de transformar a discussão num campo de batalha. E, em boa verdade, o que se tem vindo a assistir, na generalidade dos casos, é precisamente isso.~
Não temos a pretensão de sermos os intérpretes das intenções do Papa, mas facilmente se intui que a exposição do cardeal Kasper sobre a família, no consistório extraordinário do ano passado, tinha como objectivos agitar as águas, abrir internamente um amplo debate sobre a família e, em particular, sobre questão dos divorciados recasados. Como afirmou o cardeal Maradiaga, “o cardeal Kasper recebeu uma ordem do Santo Padre no sentido de dar uma «sacudidela» teológica a muitos que, no melhor dos casos, apenas conseguiriam repetir o que se disse na Familiares Consortio”.
Uma das notas características do pontificado do Papa Francisco, que vem emergindo cada vez com maior evidência, é precisamente a do diálogo. No discurso aos bispos estadunidenses, o papa foi muito claro ao afirmar que o “caminho a seguir é o do diálogo: diálogo entre vós, diálogo nos vossos presbitérios, diálogo com os leigos, diálogo com as famílias, diálogo com a sociedade. Não me cansarei jamais de vos encorajar a dialogar sem medo”. “O diálogo é o nosso método, não por astuciosa estratégia, mas por fidelidade Àquele que nunca Se cansa de passar e repassar pelas praças dos homens até às cinco horas da tarde a fim de lhes propor o seu convite de amor”. Convidando o episcopado norte-americano a não ter “medo de efectuar o êxodo que é necessário em cada diálogo autêntico. Caso contrário, não é possível entender as razões do outro, nem compreender profundamente que o irmão que devemos encontrar e resgatar, com a força e a proximidade do amor, conta mais do que as posições que, apesar de certezas autênticas, julgamos distantes das nossas”. E advertiu que “a linguagem dura e belicosa da divisão não fica bem nos lábios do pastor, não tem direito de cidadania no seu coração e, embora de momento pareça garantir uma aparente hegemonia, só o fascínio duradouro da bondade e do amor é que permanece verdadeiramente convincente”.
Se pensarmos bem, talvez até cheguemos à conclusão que a agitação dentro e fora da Igreja, a propósito do Sínodo da família, se deva ao facto de não de se terem criado instâncias de diálogo abertas e transparentes, onde posições seriamente divergentes pudessem ser expressas em clima de liberdade e serenidade.
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