segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Vote em quem acreditar, mas vote, por favor

Não foi para estes lamaçais em tempo de chuva que Vítor Alves e Salgueiro Maia fizeram a Revolução.
Daqui a dias estaremos a votar para as presidenciais.
Pelo que a experiência de anteriores situações nos mostra, a abstenção neste tipo de eleições ronda os 50%.
Muitos cidadãos com direito de voto assumem um dos vários argumentos possíveis para justificar a sua atitude.
A saber:
- Eles, os políticos, que se entendam! Está frio e nada me leva a sair de casa. Para este peditório já dei.
- Não poderão dizer que foi pelo meu voto que chegaram ao poder. Porque, depois de eleitos, fazem o oposto do que juraram fazer quando eram candidatos. A legitimidade democrática que alegarão ter nunca lhes será dada pelo meu voto!
- Os partidos, as ideologias e os valores bateram no fundo da albufeira do Alqueva e. não sabem nadar. A divisão entre esquerda e direita deixou de ter um significado que possamos compreender. Os deputados da primeira fila, os que falam, parecem actores a representar personagens cujo boneco não lhes serve. Cobrem-se uns aos outros nos processos de corrupção, de abusos sexuais de crianças, de crimes contra a humanidade, ou para defenderem o petróleo dos donos do mundo. Eu não quero ser cúmplice dessas situações.
Cada um de nós poderá acrescentar a estes mais dois ou três argumentos.
Argumentos que, em síntese, são um sinal de descrédito na democracia.
Foi esta semana cremado Vítor Alves, um dos mais marcantes militares intervenientes no 25 de Abril. Morreu de cancro, como Salgueiro Maia, mas podia ter morrido de desgosto.
Não foi para estes lamaçais em tempo de chuva ou em tempo de seca que, quando eram jovens, eles fizeram a Revolução.
A democracia é um modelo com muitas limitações, mas os humanos ainda não inventaram outro que tenha provado servi-los melhor.
A indiferença de muitos portugueses perante os fait-divers lamacentos, com os quais alguns candidatos se agridem mutuamente (e que, espremidos, não chegam a dar um shot) é sinal de uma doença profunda cujos sintomas já não identificamos.
Recordo-me, a propósito, de um episódio - ou lenda histórica - do tempo do Marquês de Pombal.
Reinava D. José I, que entre caçadas e touradas gastava o seu real tempo, enquanto o plenipotenciário primeiro-ministro Sebastião José decidia bem e mal os destinos e as intrigas do Reino.
Um dia, nuestros hermanos invadiram-nos algures no norte do país. Pombal procurou o Rei, que assistia feliz a mais uma tourada em Salvaterra de Magos. Por má sorte, quando Pombal chegou, um touro - no seu pleno direito - tinha acabado de matar o Marquês de Marialva.
Carvalho e Melo, com voz gélida, interpelou Sua Majestade dizendo: enquanto os espanhóis invadem Portugal, Vossa Majestade perde a flor da nossa fidalguia em jogos primitivos.
É tempo de tomarmos consciência da força que pode ter o voto de 50% dos portugueses - uma vez que já não vivemos em monarquia absoluta.
Enquanto alemães, franceses e outros que tais nos tratam como adolescentes irresponsáveis, os staffs dos candidatos do regime atiram balões de água uns aos outros.
Não deixe que tal continue a acontecer. Por si, pelos seus filhos ou pelos seus netos, mude de atitude e arrisque votar no dia 23. Vote em quem acreditar, mas vote, por favor.
catalinapestana@gmail.com, aqui

2 comentários:

  1. Já encontrei o candidato que há-de levar o meu cartão vermelho às elites portuguesas, esse candidato é o José Manuel Coelho.

    Palhaço e maluco é o povo que vota sempre da mesma maneira esperando obter resultados diferentes!

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  2. Não vivemos em monarquia absoluta e ainda bem. Já passámos da ditadura da 2ª república e ainda bem. Pena é que continuemos a viver em república não democrática. Uma república que não conta votos brancos, não conta votos nulos, não conta abstenção. Não se anula, elege-se sempre mesmo que essa não seja a vontade do povo e mais, não permite perguntar a vontade do povo. Podemos não viver em ditadura, mas também não vivemos em plena democracia. Eu não vou votar e não o vou fazer porque não concordo com o regime, como o regime não se permite referendar, eu não participo nele e isso implica não votar nas presidenciais.

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