quinta-feira, 10 de junho de 2010

Senhor Padre, que fazem as freiras?


  • NA IGREJA DA SANTÍSSIMA TRINDADE

    As crianças são sempre um manancial de surpresa. Estávamos ontem na Igreja da Santíssima Trindade aguardando a encenação sob o título "Jacinta, flor que sorri para o Céu", quando aparece uma Irmã a falar com os pequenos e a motivá-los para aquilo que iriam observar.
    - Senhor Padre, o que fazem as freiras? - pergunta um dos pequenos que estava sentado junto a mim.
    Daí a pouco, à laia de apresentação, a Irmã começou a chamar pelas várias dioceses do país por ordem alfabética. Os catequizandos presentes das dioceses referidas levantavam-se abanavam os seus bonés e soltavam um grito de presença.
    Os meus pequenos então levantam-se, rodeiam-me e perguntam:
    - Qual é a nossa diocese?
    - Ó patifes, ainda não sabeis!? É Lamego!
    Já só tinham as pontas dos pés apoiadas no chão, prontos para saltar mal ouvissem o nome "Lamego". O que fizeram com enorme estrondo e vibração.
    Um deles acrescenta daí a ponto, como que a certificar-se:
    - Então o distrito de Viseu tem duas dioceses, é isso?
    - No fundo é isso - acrescentei.
    Comentaram a grandeza da nova Igreja, deixando-os a placa dourada de boca aberta. Mas o que mais os intrigou foi a imagem do Cristo crucificado...
    - Ó senhor Padre desculpe, mas parece um drogado!- comentava um.
    - , , parece mais um deficiente mental - acrescentava outro.
    Lá procurei ajudá-los a ler aquela imagem o melhor que pude. Não me questionaram mais, mas vi que não ficaram muito convencidos...


    NA EUCARISTIA CAMPAL

    Já houve anos em que senti, vivi e vi que as crianças viviam esta Eucaristia, ponto central da Peregrinação das Crianças a Fátima.
    Há tempos a esta parte , as coisas já não são bem assim.
    Duas horas no recinto!? Crianças!? Se está calor, é um tormento; se está frio ou chuva, outro tormento.
    Os cânticos podem ser muito litúrgicos, não duvido. Mas as crianças não lhe pegam. É urgente rever, na minha humilde opinião, o tipo de cânticos para aquela celebração.
    A própria proclamação da Palavra de Deus parece muito dramatizada, muito postiça, como se as crianças tivessem sido ensaiadas para um teatro.
    Depois, existe um panóplia de monições que as crianças já não são capazes de ouvir. E a partir de certa altura, basta olhar para perceber que os pequenos já lá não estão. Tanto tempo vai para além da sua capacidade de concentração...
    O aspecto simbólico, este ano, pareceu-me que passou ao lado dos participantes, não colheu.
    Mas viu-se que a assembleia agarrou a encenação na Igreja da Santíssima Trindade.
    D. Manuel Clemente esteve bem, sorridente, atencioso, carinhoso e demorou pouco. A homilia foi clara, mas não me parece que tenha sido captada pelas crianças. Faltou um história que focasse a atenção dos miúdos...


    UM MAR DE GENTE

    A cada ano mais gente aparece. Ouço sempre o mesmo comentário com que sintonizo: "Este ano esteve mais gente do que no ano passado."
    E sinto que os pequenos intuem esta realidade. Não estão sós nas suas aldeias, vilas ou cidades. Milhares e milhares de miúdos da sua idade, noutros pontos do país, fazem a mesma caminhada na fé.
    Ao olhar para aquela multidão enorme, chamei os meus pequenos para junto de mim e perguntei-lhes:
    - Olhai bem em todas as direcções. Parece-vos que Jesus não está na moda?
    - Bolas! Só quem não tiver olhos! - exclama um deles.
    ---

    Veja aqui

3 comentários:

  1. "- O senhor Padre desculpe, mas parece um drogado!- comentava um.
    - Nã, nã, parece mais um deficiente mental - acrescentava outro.
    Lá procurei ajudá-los a ler aquela imagem o melhor que pude. Não me questionaram mais, mas vi que não ficaram muito convencidos..."

    Senhor Padre Carlos, da boca das crianças saíu a verdade ("o rei vai nu...") que muitos católicos não têm a coragem de afirmar.
    A nova "basilica" de Fatima é um atentado ao bom senso e ao bom gosto. A construção parece-se mais com um "bunker" (terá sido de propósito, destinada a refúgio dos senhores prelados perante qualquer ataque, agora que parece que estamos no fim dos tempos...?) do que com um templo católico...
    As imagens, de tão feias e inestéticas, chegam a assustar... e ofendem decerto o bom Deus.
    Enfim... obras feitas com o dinheiro dos católicos, não tendo, porém, estes, mais uma vez, sido convocados a dar uma opinião...
    Perante a monstruosidade da obra, disfuncional e aberrante, convenço-me (não só eu, mas muitos) de que se trata, de facto, de um "bunker" para salvar alguns de um eventual ataque bélico...

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  2. Tenho que dizer que gostei muito da celebração visionada pela TV. É natural que as crianças não tenham apreendido a mensagem toda mas algo de importante retiveram. As memórias que ficam gravadas vão muito para além de alguma impaciência momentânea. Não desistam!

    E também gosto muito do Cristo da SS Trindade. Sabe porquê? Porque me torna presente a ideia da universalidade. Repare nos traços das várias partes do rosto. Essa criança –as crianças raramente se enganam- identificou-o com um drogado…? Que bom… Que momento ideal de catequese… Jesus nunca se mostrou na ostentação dos grandes mas na humildade dos pobres e marginalizados. A degradação provocada pela droga não será um dos maiores flagelos dos nossos tempos? Terá, então, que fazer parte do Cristo dos nossos tempos… Concorda, Sr Padre?

    Um abraço bem disposto, Padre!

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  3. Olá, amigos!
    Boa tarde!

    1. Evágrio Pôntico, não está sozinho a pensar assim. Tenho encontrado muita gente, simples ou mais culta, que sente exactamente dessa maneira em relação à Igreja da SS.ma Trindade.
    Não é bem o meu caso. Não é uma obra que me encha a alma, mas também não acho assim tão detestável. Há eklementos que aprecio, há outros com quem não me identifico.

    2.Fá, quanto à celebração Eucarística, há já algum tempo que discordo do ritmo celebrativo sem que isso me tenha impedido de ano após ano acompanhar as minhas crianças junto das quais fico durante a celebração. Respeito os meus colegas que deixam os pequenos e vão concelebar, mas eu prefiro participar junto deles.
    Quanto à imagem de Cristo, congesso-lhe que não sou fã dela. Penso que se poderia ter ido bem mais longe, até pelo preço em que ficou. Mas isso é a minha pobre opinião.
    Quanto à catequese, ela parte sempre da experiência humana. Logo há que tê-la presente para lançar sobre a mesma a luz do Evangelho.

    3.Conto-lhes uma experiência. Há anos fui com um engenheiro e a comissão de um povo visitar a nova Igreja do Marco de Canaveses. Os homens, mal entraram, saíram rapidamente. "Parece um salão paroquial!" - diziam.
    Eu e o engenheiro ficamos. Ele ia explicando as linhas arquitectónicas do edifício e eu relacionei-as com a mensagem cristã. Resultado: ficamos os dois duas horas lá dentro. E no fim o comentário unânime: "Fantástico"!
    Penso que uma leitura destas seria útil para perceber a Igreja da Santíssima Trindade. Sem esta chave de leitura,mandam as impressões: "gosto", "não gosto".

    Muita paz no Senhor de todos, que a todos quer salvar porque a todos ama demais.

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