
Independentemente da política, o Mundial será um acontecimento que ficará na história. Em primeiro lugar porque é jogado em África, continente que nunca tivera tais honras, e porque coincide com uma das maiores crises financeiras dos últimos 50 anos. Alguém imaginaria, por exemplo, no Mundial de 2006, ver políticos a defender contenção nas despesas de alojamento e nos prémios de jogos? Não, nesse ano distante de 2006 ninguém queria que o futebol desse o exemplo. Os artistas não podiam ser chateados com questões menores de impostos sobre os prémios, ou servir de modelo de austeridade.
Em abono da verdade, o futebol tem conseguido quebrar barreiras que nenhum político ousou ultrapassar. No campo, consegue-se colocar frente-a-frente inimigos figadais e unir povos desavindos. Também é verdade que algumas guerras começaram ou ameaçaram começar por razões aliadas a jogos que descambaram em confrontos entre claques...
Mas o Mundial que hoje começa na África do Sul será um verdadeiro teste ao continente africano. Estará à altura de um acontecimento destas dimensões? Os problemas raciais não se farão sentir? Para já, os sul-africanos têm demonstrado uma hospitalidade invulgar. Em nenhum outro continente as selecções foram tão bem acolhidas.
O país escolhido pela FIFA para organizar o Mundial, há 20 anos não aceitava que brancos e negros viajassem no mesmo autocarro, não permitia casamentos mistos e o acesso à terra era limitado a zonas onde não havia qualquer tipo de riqueza. O Presidente de então, F. W. de Klerk, conseguiu fazer aprovar o fim do apartheid, sobressaindo depois a figura mítica de Mandela que uniu um povo em torno de um sonho: igualdade de direitos e de obrigações. Não passaram muitos anos desde então, mas Mandela ficará para sempre ligado à História. Espera-se que este campeonato possa também contribuir para aproximar culturas tão distintas como são as dos vários continentes. E já agora que sejam um bálsamo para a depressão mundial. O futebol é magia. Esperemos que funcione.
vitor.rainho@sol.pt
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