Ao olhar para o panorama nacional dos resultados autárquicos, alguns casos me chamaram a atenção.
Lisboa - Há anos e inesperadamente, Santana Lopes ganhou a Câmara. Esteve, saiu para o Governo, voltou a entrar. Pelo meio algumas trapalhadas. A seguir veio Carmona, apoiado pelo PSD, mas, pouco tempo depois perdeu o apoio deste partido. Vieram eleições antecipadas. Perante este panorama, o povo de Lisboa optou por quem lhe pareceu garantir estabilidade e confiança. Que há aqui de anormal? Ser autarca é uma nobre missão em si, nunca trampolim para outros vôos...
Porto - Há anos, Fernando Gomes, que era um autarca bem visto pelos portuenses, abandonou a Câmara para ser ministro. Quando voltou e se recandidatou, perdeu. Rui Rio pode não ser uma figura exuberante, jet set. Mas tem uma áurea de seriedade. E isso, num autarca é muito! Soube separar as águas, evitando pantanais com o futebol. À sua maneira, Pinto da Costa, o idolatrado presidente do FC Porto, parte para o ataque. Sem resultados. Em 2005 e em 2009, Rio obtém maioria absoluta. Até apetece a dizer: quanto mais o ataca Pinto da Costa, mais Rio sobe!
Os portuenses que cantam no Dragão: "Pinto da Costa, olé!", são os mesmos que no silêncio das cabines de voto dão maioria absoluta a Rui Rio. Admirável a postura cívica dos portuenses! Sabem, talvez como poucos neste país, separar as águas. Por isso, a cidade do Porto é a "pátria da liberdade", do grande D. António Ferreira Gomes.
Elisa Ferreira deu logo um passo de gigante para a derrota quando afirmou que se não ganhasse, não ficaria na Câmara do Porto, mas iria para Bruxelas. Em todo o lado, tal postura soaria mal, mas então no Porto...
Sintra - O concelho mais populoso deste país. Imensos problemas: bairros problemáticos, inserção de imigrantes, convivência dos muitos ricos com os muito pobres, ligações terrestres a Lisboa, fenómenos de marginalidade...
Fernando Seara arranca uma maioria absoluta e continua no cargo, vendo assim o povo sufragar a sua acção. Aqui gostei pessoalmente que Ana Gomes não tivesse ganho. Fala muito, fala de mais, "arma-se" em estrela política, parece que tem o "rei na barriga", está sempre em riste para abraçar causas fracturantes. Teve a votação que merecia. Derrotada! Para que ela e outros como ela aprendam. Claro, se souber o que é a humildade cívica...
CDS e Bloco de Esquerda - Ouvi na Televisão, durante a noite eleitoral, uma senhora representante do CDS reconhecer que o seu partido não tem ainda uma grande implantação autárquica. Ficou-lhe bem esta humildade democrática. Rara numa noite em que quase todos apareceram a cantar vitória.
O Bloco de Esquerda perdeu os vereadores que possuía nas Câmaras de Lisboa e Porto e tem só uma Câmara. Uma coisa são as eleições legislativas em que o Bloco funciona como válvula de escape para os descontentes, porque o sabem longe do centro do poder, outra bem diferente é a governação efectiva. E aqui as pessoas pensam. Um programa tão radical e fracturante como o deste partido deixa os cidadãos a pensar duas vezes...
Lisboa ficou a perder: Santana tinha um projecto melhor para a cidade, tinha ideias e concepções que são reconhecidas como preferíveis ao projecto vencedor.
ResponderEliminarA cidade de Lisboa, na perspectiva de quem nela habita, perde, sem dúvida, e perde para uma alegada robustez económico-financeira de que muito desconfio.
A esquerda radical teve, em Lisboa, idêntico comportamento (em relação ao Costa) que os indefectíveis "dragões" tiveram no Porto em relação ao Pintinho.
NPL