segunda-feira, 7 de agosto de 2023

VER E SENTIR

 
No princípio era a verba. Depois a incapacidade de organização, seguida pela insegurança e os perigos da criminalidade.
E o" estado em que isto está" a patrocinar o evento.
Em cada dia, a contabilidade " eram não sei quantos mil" cálculos "talvez renais" sobre quantos por metro quadrado vezes x não pode ser um milhão e meio.
E a destruição dos espaços que essa "malta" ia pisar.
Entre muitos outros bitaites eram também os mortos e feridos sem assistência médica no local, ou nos hospitais.
E claro, as larachas , mesmo sendo o humor uma manifestação de fineza de espírito, algumas rondavam o achincalhamento, mas pronto, o humor, dizem, não tem limites nem fronteiras.
Amigos, não é nada disto que vos vou escrever porque não quero conspurcar o meu estado de tranquilidade e paz interior com as guerras de alecrim murcho e manjerona sem odor, mas com dor.
Só para vos dizer que vi, senti, e trouxe para dentro de mim, mais um pequeno valor acrescentado para o resto dos meus dias.
Da minha idade, ontem no Parque Tejo, estávamos em ampla minoria, mas com todo o direito a um acto de rejuvenescimento interior.
Da janela do autocarro em que seguia, às 3 da tarde, via ranchos de gente nova, bandeiras daquelas que nem sempre identificamos, a caminhar alegremente os quilómetros que ainda faltavam para lá chegar. E acenavam com sorrisos.
O "caos" para entrar foi uma caminhada em terra batida, saudados por "miudagem" de T-shirts amarelas que nos indicavam o caminho.
Não sei se uma hora depois já lá estava o milhão e meio das análises geográfico/matemáticas, mas quando a Sandra e eu chegámos, devemos ter feito a conta certa.
Fui sendo abordado por rádios de pequena , média e grande dimensão que me perguntavam sempre o que estava a sentir e porquê ali.
"Quero ver, viver e sentir mais de perto, a personagem mais notável do século XXI"... "Sei de cor algumas das suas frases, mesmo aquela que impressionou tanta gente, a da" única condição em que um homem pode olhar de cima para baixo para outro homem..." que não foi escrita pelo Papa , ( sim Johnny Welch, atribuída por engano a Gabriel Garcia Marquez, bendito seja o Google para tantos culturistas da cultura), e tomei nota de outras para me ensinar ainda mais qualquer coisa sobre a arte de viver.
Já sentado, tentava olhar em volta para um mar sem ondas alterosas que desaguava no rio ali em frente.
Esperar algumas horas dá para rememorar.
"Quando apertares a mão a um deficiente ou um pobre, isso não se contamina. Não vás a correr lavá-las"
" Mais vale sujar as mãos do que o coração".
Do lugar onde estávamos, via apenas de lado o palco das manchetes ,mas agora com desconto. Assim vi tudo pelo enorme ecrã ao nosso lado.
Quando os jovens de amarelo se começaram a alinhar num cordão já sabíamos que Francisco vinha aí.
E assim passou a três metros de nós, eu mais alto, consegui a foto que vos mostro e decidi que aquele aceno sorridente tinha sido só para mim.
A Vigília que se seguiu foi um momento de uma insondável espiritualidade e um acto cultural de rara qualidade.
A orquestra e coros em peças encantatórias, os bailados o canto de Carminho, e os momentos de silêncio do tal milhão e meio, foram para nós um privilégio, porque não estávamos em casa a ver pela televisão.
A música foi inteira e os silêncios esmagadores, respeitados.
E o Papa falou entre o texto escrito e o improviso.
Disse que podemos ser todos sementes de alegria, insistiu para que ultrapassemos os medos , que gosta de futebol mas que tal como o avançado que marca o golo resulta do seu treino, também nós devemos treinar muito esta dádiva de viver, e que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos, mas dos fortes.
A noite caía e no céu desenhavam-se em estrelas, mensagens de amor.
Após o Papa sair, a festa do encontro continuou. Fui fazendo selfies com gente que me abraçava e até um jovem me disse:- Esta foto é para a minha avó que também usa um aparelho nos ouvidos como o seu!
No caminho por onde Francisco tinha passado, desfilava agora um pelotão da Polícia. E não é que aquela "malta" os aplaudiu com entusiasmo. Devem ter sido os mesmos ou outros peregrinos, que ajudaram a limpar o Parque Eduardo VII que não ficou destruído como "preconizado".
De volta passámos pelos hospitais de campanha em actividade tranquila para casos de desidratação, cansaço ou até ansiedade. Tudo resolvido pelos médicos e enfermeiros sem tragédias de primeira página.
E agora? O Papa partiu e o mundo vai ficar diferente...já?! E Portugal que foi reportado por cinco mil jornalistas para todo o mundo terá amanhã os seus problemas resolvidos, o pão, a habitação, saúde e educação, porque paz até parece que vai existindo.
Francisco não resolve, alerta, desperta e nós temos que fazer o nosso papel.
Por isso, não contem comigo para polemizar sobre o que vi , senti e vivi.
Lisboa tem cheiros de flores e de mar como o papa também disse, sem assumir direito de autoria.
Pelo meu lado, confesso que só sei de orações, o Pai nosso e a Avé Maria aprendidos na escola há muitos anos. Não foi preciso repeti-las porque na Vigília a oração era um colectivo de silêncio inspirador.
Mas é nas pausas às vezes em noites de insónias, que falo com Ele porque preciso de quem me ouça.
Dei agora por mim a recordar uma frase de Elton John, que não é católico: - Francisco é um milagre de humanidade na era da vaidade.

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