terça-feira, 9 de junho de 2015

DIA DE PORTUGAL EM LAMEGO, DIA DE LAMEGO EM PORTUGAL


  1. Desta vez, o Dia de Portugal sobe até ao norte para descer até às raízes. O Dia de Portugal em Lamego acabará por ser também um dia de Lamego em Portugal.

Portugal vai ter os olhos volvidos para Lamego, sabendo que Lamego tem o seu coração sempre voltado para Portugal.

 

  1. Nas terras de Lamego está depositado muito do passado de Portugal. Nas gentes de Lamego ardem muitos sonhos sobre o futuro de Portugal.

Faz bem ao país olhar para estas terras. E é bom que quem manda no país se habitue a escutar estas gentes.

 

  1. Afinal, aqui também é Portugal. Por aqui também se faz Portugal. Por aqui também se diz Portugal.

É triste que nem sempre se repare no Portugal que por aqui se faz. É pena que nem sempre se oiça o Portugal que por aqui se diz. Por aqui persiste um Portugal sofrido que anseia ser ouvido. Aqui labuta um Portugal escondido que merece ser mostrado.

 

  1. A história de Portugal é conhecida em Lamego, ainda que a história de Lamego nem sempre seja devidamente reconhecida em Portugal.

Visto de Lamego, Portugal é uma pátria sempre amada, com um poder muitas vezes avaro. Vista de Portugal, Lamego é uma terra de que se sabe o suficiente, mas que não se valoriza o bastante.

 

  1. Para muitos, Lamego é um lugar de passagem, mas de não muito investimento.

Os lamecenses transportam a mágoa de viverem numa terra a que pouco se dá e a que muito se vai tirando. Lamego está habituada a ouvir muitos elogios e a ver poucos apoios.

 

  1. A síntese angustiada de Pessoa mantém-se pertinente: «Cumpriu-se o Mar e o Império se desfez. Falta cumprir-se Portugal».

Falta que Portugal cumpra com cada um. Falta que cada um cumpra com Portugal.

 

  1. Hoje, voltam a dizer-nos que somos um país adiado, mas, nesse caso, já o somos há muitos séculos.

Não somos perfeitos. Às vezes, até nos mostramos contrafeitos. Temos defeitos. Eis o nosso drama, eis também a nossa sorte. Se não fossem os nossos defeitos, o que nos motivaria? Se tudo já estivesse feito (e bem feito), que futuro nos restaria?

 

  1. A tudo temos sobrevivido. Temos sobrevivido à realidade, cruel. E temos sobrevivido aos diagnósticos, nada estimulantes.

Seremos, como afirmava o Padre Manuel Antunes, uma «excepção». Constituímos um paradoxo vivo. Somos «um povo místico mas pouco metafísico; povo lírico mas pouco gregário; povo activo mas pouco organizado; povo empírico mas pouco pragmático; povo de surpresas mas que suporta mal as continuidades, principalmente quando duras; povo tradicional mas extraordinariamente poroso às influências alheias».

 

  1. Seja como for, continuamos a sentir Portugal, a fazer Portugal e, não raramente, a chorar Portugal. Tantas vezes, são essas lágrimas que nos identificam e pacificam. Aquilo que soa a desespero acaba por saber a esperança.

Apesar das tardes sofridas, acreditamos sempre que uma manhã radiosa voltará a sorrir. É por isso que nunca desistimos de nós. É por isso que, não obstante as nuvens, há sempre um Portugal a brilhar em milhões de corações espalhados pelo mundo.

 

  1. O Dia de Portugal serve para estimular a identidade nacional, fortalecendo a sua realização local. Um saudável regionalismo não apouca, antes favorece, o fervor patriótico.

Em Lamego cumpre-se o mesmo destino do resto de Portugal. A vocação dos lamecenses também é sair. E é assim que, em qualquer parte do mundo, corre muito sangue de Portugal. E escorre muito do sangue de Lamego!
Fonte: aqui

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