- Desta vez, o Dia de Portugal sobe até ao norte para descer até às raízes. O Dia de Portugal em Lamego acabará por ser também um dia de Lamego em Portugal.
Portugal vai ter os olhos volvidos para Lamego, sabendo que Lamego tem o
seu coração sempre voltado para Portugal.
- Nas terras de Lamego está depositado muito do passado de Portugal. Nas gentes de Lamego ardem muitos sonhos sobre o futuro de Portugal.
Faz bem ao país olhar para estas terras. E é bom que quem manda no país se
habitue a escutar estas gentes.
- Afinal, aqui também é Portugal. Por aqui também se faz Portugal. Por aqui também se diz Portugal.
É triste que nem sempre se repare no Portugal que por aqui se faz. É pena
que nem sempre se oiça o Portugal que por aqui se diz. Por aqui persiste um
Portugal sofrido que anseia ser ouvido. Aqui labuta um Portugal escondido que
merece ser mostrado.
- A história de Portugal é conhecida em Lamego, ainda que a história de Lamego nem sempre seja devidamente reconhecida em Portugal.
Visto de Lamego, Portugal é uma pátria sempre amada, com um poder muitas
vezes avaro. Vista de Portugal, Lamego é uma terra de que se sabe o suficiente,
mas que não se valoriza o bastante.
- Para muitos, Lamego é um lugar de passagem, mas de não muito investimento.
Os lamecenses transportam a mágoa de viverem numa terra a que pouco se dá e
a que muito se vai tirando. Lamego está habituada a ouvir muitos elogios e a
ver poucos apoios.
- A síntese angustiada de Pessoa mantém-se pertinente: «Cumpriu-se o Mar e o Império se desfez. Falta cumprir-se Portugal».
Falta que Portugal cumpra com cada um. Falta que cada um cumpra com
Portugal.
- Hoje, voltam a dizer-nos que somos um país adiado, mas, nesse caso, já o somos há muitos séculos.
Não somos perfeitos. Às vezes, até nos mostramos contrafeitos.
Temos defeitos. Eis o nosso drama, eis também a nossa sorte. Se não
fossem os nossos defeitos, o que nos motivaria? Se tudo já estivesse feito (e
bem feito), que futuro nos restaria?
- A tudo temos sobrevivido. Temos sobrevivido à realidade, cruel. E temos sobrevivido aos diagnósticos, nada estimulantes.
Seremos, como afirmava o Padre Manuel Antunes, uma «excepção».
Constituímos um paradoxo vivo. Somos «um povo místico mas pouco metafísico;
povo lírico mas pouco gregário; povo activo mas pouco organizado; povo empírico
mas pouco pragmático; povo de surpresas mas que suporta mal as continuidades,
principalmente quando duras; povo tradicional mas extraordinariamente poroso às
influências alheias».
- Seja como for, continuamos a sentir Portugal, a fazer Portugal e, não raramente, a chorar Portugal. Tantas vezes, são essas lágrimas que nos identificam e pacificam. Aquilo que soa a desespero acaba por saber a esperança.
Apesar das tardes sofridas, acreditamos sempre que uma manhã radiosa
voltará a sorrir. É por isso que nunca desistimos de nós. É por isso que, não
obstante as nuvens, há sempre um Portugal a brilhar em milhões de corações
espalhados pelo mundo.
- O Dia de Portugal serve para estimular a identidade nacional, fortalecendo a sua realização local. Um saudável regionalismo não apouca, antes favorece, o fervor patriótico.
Em Lamego cumpre-se o mesmo destino do resto de Portugal. A vocação dos
lamecenses também é sair. E é assim que, em qualquer parte do mundo, corre
muito sangue de Portugal. E escorre muito do sangue de Lamego!
Fonte: aqui
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