sábado, 26 de outubro de 2013

Porreirismo ou ídolos com pés de barro?

 
O condutor seguia pela estrada e ia dando boleia a quem lha pedia. Até o carro ter os lugares preenchidos. Fazia-o como quem ajuda, acolhe. Sentia-se feliz por isso.
Na mesma estrada, a horas diferentes, passou um segundo condutor. Repetiu a cena. Quantos lhe apareceram apanharam boleia. Iam amontoados, transgredia-se a lei? Não importava. O importante  para este condutor era dar nas vistas, ser referido como o melhor, o mais atencioso, o que resolvia todos os problemas.
 
O primeiro condutor chegou ao cruzamento e, porque estava o sinal vermelho, parou e aguardou que virasse verde. Um ou outro passageiro ainda lhe foi dizendo para seguir em frente, que não esperasse, que não vinha ninguém. Consciente, responsável, o este condutor foi explicando que a vida em sociedade tem regras que é preciso cumprir. Caso contrário não seremos uma sociedade organizada, mas uma selva.
 
O segundo condutor não ligava a sinais vermelhos. "Para a frente é que é o caminho", comentava narcisisticamente. Os passageiros aplaudiam. "O senhor é que é porreiro! Não nos faz esperar, chegamos mais depressa ao destino. Haviam de ser todos como o senhor!"
Entusiasmado, com o ego até aos cabelos, este condutor ainda abusou mais, cometendo todo o tipo de atropelos na estrada. E sempre com o aplauso dos passageiros.
 Os protestos, desabafos, queixumes de outros condutores eram mais do que muitos. As manobras que tiveram que fazer para evitar problemas foram sem conta. Mas que lhe interessava a ele? Estava na maior... Era um ídolo para aqueles que metera no carro.
Até que teve um acidente. E agora? Os que antes o aclamaram, barafustavam agora, queixavam-se, sentiram-se defraudados pela irresponsabilidade do condutor e marcados para a vida.
 
Assim é na vida. Parece que quem não cumpre, não respeita normas é que é porreiro, o maior. Os que cumprem são uns chatos, uns legalistas, uns antiquados, que só estorvam e chateiam.
As referências cívicas e humanas, que deviam pautar o nosso  viver  coletivo, são desprezadas, postas de lado.
O respeito pelos outros e por quem cumpre é atirado pela janela fora.
Surge assim o culto do porreirismo e dos porreiraços que, como ídolos com pés de barros, se expõem ao louvor efémero dos seus apaniguados. Até que estes descubram os pés de barro...
O porreirismo não passa de uma máscara para esconder a falta de trabalho sério e competente, de dedicação, de compromisso.
 
E isto não é só na sociedade. Também na Igreja abundam casos e mais casos. Infelizmente.

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