sexta-feira, 25 de abril de 2025

O Cravo Que Falta Florir

 A Liberdade chegou num Abril em flor, mas não veio inteira. Veio prometida, urgente, como se dissesse: "Estou aqui, mas sou vossa para construir". E assim é. Porque liberdade não é um ponto de chegada. É caminho. E neste caminho, há ainda passos por dar, rostos por ouvir, vidas por respeitar.

Ainda falta liberdade quando há quem trabalhe o mês inteiro e continue a não saber se vai conseguir pagar a renda. Quando há quem adoeça e tenha de esperar meses por um tratamento, como se o tempo pudesse ser negociado. Falta liberdade nas filas de quem procura casa, nas prateleiras vazias de quem escolhe entre aquecer a casa ou alimentar os filhos. Falta quando o elevador social está avariado e só sobe para alguns.
Falta liberdade quando se envelhece sozinho, sem cuidados nem companhia, como se a velhice fosse castigo e não coroa. Quando as mulheres ainda são mandadas calar, ou quando se levantam vozes contra quem ama de forma diferente, veste diferente, reza — ou não reza — de maneira própria. Falta liberdade onde ainda se tem medo de ser quem se é.
Falta liberdade quando se estuda com fome. Quando se desiste dos sonhos por cansaço. Quando se vive nas margens da cidade, sem acesso à mesma dignidade de quem vive no centro. Falta liberdade quando a cultura é luxo e não direito, quando a política parece distante e a justiça pesa mais sobre os que menos têm.
E, ainda assim, o espírito de Abril permanece. Não como memória que se repete, mas como impulso que nos convoca. A liberdade é viva ou não é. É presente ou é perda. E não se faz apenas de palavras, mas de condições reais: acesso, cuidado, escuta, partilha. É pão na mesa, tempo para os filhos, saúde no corpo, futuro nas mãos.
O cravo do 25 de Abril ainda floresce, sim — mas há muitos canteiros por cuidar. E a luta, essa, continua. Porque a liberdade só é verdadeira quando cabe dentro da vida concreta de todos. Até lá, não está completa.
Fonte: Padre João Torres, Facebook

quarta-feira, 23 de abril de 2025

OS PAPAS TAMBÉM MORREM


“Tudo tem uma duração. Todos temos. Até o papa tem uma duração, lá foi”, ouvia-se ontem nas redes sociais. É o óbvio, apesar de ter sido dito (e sentido) de um modo muito estranho... Recebi a notícia no final da primeira Eucaristia, através de um amigo e, por momentos, voltamos à igreja para, numa oração simples, agradecer ao Senhor o dom do seu pontificado. Na Eucaristia seguinte, numa outra paróquia – a anteceder a Visita Pascal - tivemo-lo presente nas nossas orações e intenções. Sobretudo em ação de graças!

Não sou papista (adorador de papas) nem a minha fé depende dos papas. Cresci com São João Paulo II (morreu também no dia da Visita Pascal numa das comunidades); aprendi e fui amadurecendo com muitos dos escritos de Bento XVI; ouvia e lia atentamente o papa Francisco. Qualquer cristão – minimamente formado e informado – sabe que a fé é encontro com Jesus: «Convido todo o cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de O procurar dia a dia sem cessar» (EG 3). Por isso, o Evangelho é a bússola mais fiável, a Doutrina e Magistério da Igreja os melhores garantes da sua leitura/interpretação.
Curiosamente, não me surpreende o fadário laudatório à volta do papa Francisco. Por duas ordens de razão: uns, sempre o usaram como argumento pessoal para uma putativa fé (subjetiva, seletiva, egocêntrica, sincretista), facilmente contradita pelas opções diárias; outros, montados nas suas afirmações soltas, nos seus apartes livres/dúbios evangelicamente e nas suas iniciativas informais viam o caminho desbravado para levar a água ao seu moinho, mormente o carreirismo, ânsia de protagonismo, culto da personalidade (vaidade sob a capa de humildade), oportunismo demagógico, serviços e mordomias.
Na minha vida, morreu mais um papa, mais um “Servus Servorum Dei”. Li TODOS os seus documentos oficiais. Anotei os critérios e prioridades do seu magistério. Citei-o centenas de vezes, não porque estava na moda ou caía no goto do povo, mas porque acreditava fazer sentido. O respeito que lhe devoto não é maior ou menor que aos seus antecessores. Não alinho em comparações, nem sou tão limitado para cair na tentação de insinuar que há uma Igreja antes do Papa Francisco e outra depois. Só por má-fé ou ignorância supina da História da Igreja alguém poderia ter tacanho atrevimento.
Preocupa-me a excitação de tantos por causa de “pormenores” e o desprezo total pelas grandes causas que ele abraçou: O Evangelho no centro da vida da Igreja (“Evangelium Gaudium”); a Santidade como meta de todos os cristãos (“Gaudete et Exsultate”); o cuidado de todos pela Casa Comum (“Laudato Si”), mormente a ecologia (“conversão ecológica”), o cuidar da Natureza (clima, água), o combate às desigualdades sociais e injustiças; a Fraternidade e Amizade Social (“Fratelli Tutti”), como a solidariedade, defesa dos direitos dos povos, da paz, a luta contra a pobreza e os excluídos; assumir o problema e encontrar soluções para a crise climática (“Laudate Deum”). Não me parece que sejam causas levadas a sério por muitos que o têm elogiado tanto nestes dias… Típico.
Também me preocupa que o recurso, sem mais, a chavões usados pelo papa Francisco seja tão-só a confirmação da demagogia e hipocrisia (oportunismo) tão caros a tantos e tantas. Por exemplo: «Na Igreja ninguém está a mais, há espaço para todos: todos, todos, todos.» E esclareceu (no avião de regresso da JMJ23): «A Igreja é aberta a todos, depois existem leis que regulam a vida dentro da Igreja. Alguém que está dentro está de acordo com a legislação, o que você diz é uma simplificação: “Não pode receber os sacramentos”. Isso não significa que a Igreja seja fechada, cada um encontra Deus pelo próprio caminho dentro da Igreja, e a Igreja é mãe e guia cada um pelo seu caminho.»
Outros sintomas curiosos é ouvir padres carreiristas a elogiar e chorar o papa Francisco, mas a viver em contramão total com as suas maiores denúncias: “O carreirismo é uma lepra. Por favor, nada de carreirismo!” «Pode acontecer que o coração se canse de lutar, porque, em última análise, se busca a si mesmo num carreirismo sedento de reconhecimentos, aplausos, prémios, promoções; então a pessoa não baixa os braços, mas já não tem garra, carece de ressurreição. Assim, o Evangelho, que é a mensagem mais bela que há neste mundo, fica sepultado sob muitas desculpas.» (EG 277)
Também há quem goste de citar algumas das suas frases soltas (fora do contexto, outras são mesmo “fake-news”) e viva em total mundanismo: «O mundanismo espiritual, que se esconde por detrás de aparências de religiosidade e até mesmo de amor à Igreja, é buscar, em vez da glória do Senhor, a glória humana e o bem-estar pessoal. É uma maneira subtil de procurar os próprios interesses, não os interesses de Jesus Cristo.» (EG 93) «O mundanismo espiritual leva alguns cristãos a estar em guerra com outros cristãos que se interpõem na sua busca pelo poder, prestígio, prazer ou segurança económica. Além disso, alguns deixam de viver uma adesão cordial à Igreja por alimentar um espírito de contenda. Mais do que pertencer à Igreja inteira, com a sua rica diversidade, pertencem a este ou àquele grupo que se sente diferente ou especial.» (EG 98)
Eu agradeço o dom do seu pontificado e tudo quanto me ensinou. Enquanto uns vão alinhando estratégias para a sucessão (“rei morto, rei posto”); e outros se vão deitando a adivinhar ou sugestionar o que deveria ser a seguir, prefiro meditar, séria e silenciosamente, as palavras finais do seu Testamento: «Que o Senhor dê a merecida recompensa àqueles que me amaram e continuam a rezar por mim. O sofrimento que se tornou presente na última parte da minha vida, ofereço-o ao Senhor pela paz no mundo e pela fraternidade entre os povos.»
(P. António Magalhães Sousa, in Facebook)

segunda-feira, 21 de abril de 2025

"Em Deus vivemos, nos movemos, e existimos"

Obrigado, Papa Francisco!

Nesta manhã do Anjo da Páscoa,
segunda-feira da oitava da Páscoa,
acordo um pouco mais tarde,
com a notícia da última Páscoa
do tão querido Papa Francisco.

É a Páscoa de Cristo em Francisco.
É a Páscoa de Francisco na Páscoa de Cristo.
Santa Páscoa, Papa Francisco.

Retenho no coração as primeiras
e as últimas imagens,
de alguém cujo nome
foi profecia e foi programa de vida.

Todos, todos, todos
estamos profundamente agradecidos,
mesmo se não tivermos
todos o meu grau de consciência
do imenso dom que foi o Pontificado
do Papa Francisco
para a Igreja e para o mundo.
Um verdadeiro sopro do Espírito,
de inspiração, de saída, de encontro.

Senti nas suas últimas visitas
à Basílica de Santa Maria Maior
e de São Pedro e ao presídio de Roma,
que o Papa estava a «despedir-se».

E agradeço a Deus não ter sido preciso
apresentar a 'resignação'.
O Papa não a pediu,
certamente não o fazia,
porque sabia bem como se sentia.
Deixemo-nos ancorar e encorajar,
no testemunho fantástico que este Papa
nos deixou de Cristo vivo no meio de nós.

Obrigado, Papa Francisco.
Chorámos todos, todos, todos,
por Ti, com Aquelas lágrimas
das quais disseste são a «lente»
para conhecer e reconhecer Jesus.

Santa Páscoa, Papa Francisco.
Amaro Gonçalo, Facebook

sexta-feira, 11 de abril de 2025

5 coisas que Jesus nunca disse, mas as pessoas acreditam

Porque está na moda,

Porque é socialmente correto,

Porque a comunicação social e as novas tecnologias insistem e persistem  em afirmar, como se fossem deuses,

Porque as pessoas gostam de ouvir o que lhes convém,

Porque a muitos interessa justificar com o nome de Jesus as suas afirmações,

HÁ 5 AFIRMAÇÕES QUE CIRCULAM POR AÍ E QUE JESUS NUNCA PROFERIU. 

Veja aqui

quarta-feira, 9 de abril de 2025

"Ter um amigo é bom, vê-lo partir faz sofrer"

Diz a canção:
"Ter um amigo é bom, vê-lo partir faz sofrer".
Apenas por isto: pressentir claramente que o caminho é errado, não tem saída e acarretará enorme sofrimento para o amigo que o segue.
Mas a liberdade humana acima de tudo...

EM FUGA LIVRE PARA O ABISMO...
Decidida e obstinadamente, aquela pessoa caminha para o abismo. Nada se pode fazer, porque... essa pessoa não quer nem aceita.
Mistérios da liberdade humana!
Alguns apoiam, incentivam, concordam, porque é fixe, porque gostam alinhar na onda, porque é socialmente correcto...
Na hora do desastre, muitos destes "assobiarão para o lado", outros olharão de banda, uns tantos rirão de gozo, e outros fingirão que não conhecem a vítima...
Na hora da verdade, a pessoa que caminha deliberadamente para o abismo reconhecerá que o mundo não tem a dimensão do seu umbigo, que na vida não vale tudo, que a ingratidão brutifica, que não se cura uma borracheira com outra borracheira, que há quem nos queira bem e quem nos utilize...

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Os padres impecáveis não existem

Os padres não têm de ser melhores que ninguém. Têm de, como todos os cristãos, tentar ser melhores. Claro que isso não justifica nem desculpa os erros dos padres. Não desculpa as suas más opções pastorais ou eclesiais. Não desculpa as vezes em que usam a sua vocação como um trampolim para os seus interesses pessoais ou gerem as paróquias e os sacramentos em discordância com as leis da Igreja ou o Evangelho. Não desculpa quando não se esforçam por serem melhores pastores. Mas os padres são, antes de mais, pessoas. E são pessoas com contextos, circunstâncias e vivências das quais não se conseguirão distanciar nunca, porque são também fruto disso. E se é certo que muitos padres se estão a marimbar para o que os outros pensam, também há quem sinta nos ombros um peso e uma pressão que superam as suas forças. O modelo de perfeição evangélica que é exigido aos padres, como se tivessem sempre de estar disponíveis, preparados e dedicados, acaba por afogar as suas vidas. O padre não pode deixar de viver a sua vida e de fazer a sua caminhada de fé para se tornar um funcionário das coisas de Deus ou da Igreja. O padre tem de viver em Deus como é, como tenta ser, como se esforça por ser, mas não como todo o mundo lhe exige ou espera que seja. Os padres impecáveis não existem. Existem apenas os esforçados e os que não se esforçam. Existem, quando muito, os que não ligam a nada e os que, porque ligam a tudo, vivem o ministério como um peso. Repito. Os padres impecáveis não existem.

Fonte: aqui

quinta-feira, 3 de abril de 2025

João Paulo II (1978-2005): O Papa dos paradoxos morreu há 20 anos

 

João Paulo II. Um longo pontificado. 

Veja aqui uma análise  deste pontificado. 

Concordando ou discordando, há muita objetividade nesta análise.