A princípio umas conversas, umas brincadeiras, contactos por telemóvel e internet...Depois surgiu a paixão que é sempre cega. Arrebatadora, envolvente, hipnotizante. Ele só via aquela pessoa, não existiam olhos nem coração para mais ninguém. O resto era paisagem.Em casa iam surgindo as mentiras, cada vez mais requintadas para parecerem mais autênticas. Claro, a vítima era o trabalho. Na atividade profissional buscava e rebuscava desculpas para ausências físicas e anímicas. Tornara-se numa autêntica máscara de si mesmo. Mas que lhe interessava isso se se sentia uma labareda? A paixão, a que chamava amor, dominava-o, envolvia-o, queimava-o, cegava-o.Naquele domingo à noite, a esposa pedira-lhe que levasse a filha mais nova ao comboio no regresso à Universidade. Que não, que não podia, que estava à espera de um contacto importantíssimo da empresa, assunto inadiável...
A filha abraçou-o, beijou-o e murmurou: "Gosto muito de ti, papá! Amo-te muito". Ouviu mas não escutou. Respondeu com um leve gesto como quem despacha a cena. Estava em brasas.
Mal o carro que a esposa conduzia saiu da garagem em direção à estação do comboio, ligou, frenético, o computador. Aproveitar até ao tutano cada segundo para estar, conversar, ver a pessoa por quem estava apaixonado.
Durante o dia, de longe em longe, irrompia do fundo da sua alma a frase da filha: "Gosto muito de ti, papá!" Procurou afastar rapidamente essa memória. Era perturbante para o fogo "amoroso". E isso ele não queria. O que lhe agradava era sentir-se imerso na espuma fofa da paixão.
Mas à medida que o dia avançava, a lembrança das palavras e gesto da filha tornavam-se mais persistentes como espinho que se vai cravando na carne. A noite foi complicada. Deu voltas e voltas na cama, levantou-se várias vezes, tomou uma bebida, deitou as mãos á cabeça. Parou junto do espelho da sala e olhou-se. Discretamente a esposa, envolvida no roupão, apareceu, colocou-lhe suavemente as mãos à volta do pescoço e sussurrou: "Que tens, meu querido!?" Instintivamente recorreu à carapaça da mentira: "Nada, problemas no trabalho!" Então olhou-se no espelho e, pela primeira vez desde que o caso começou, experimentou vergonha de si mesmo, sentiu-se um fantoche, sentiu o ridículo da máscara.
Nos dias imediatos, bailou-lhe na alma uma frase que ouvira à sua avó há muitos anos: "As paixões são como a chuva de trovoada, encharcam, mas não molham."
Começou a sentir-se menos bem nos contactos com a pessoa por quem se apaixonara, embora lhe continuasse a ser agradável. O dilema punha-se. Ou largava a mulher e os filhos que o amavam ou largava a sua paixão e regressava à família. Já não suportava mais a máscara da mentira. Sabia até que, mais cedo ou mais tarde, tudo seria conhecido e sabe Deus com que consequências.
Não, não se imaginava afastado da sua família, abandonado por esta, desprezado. Não aguentaria tal. Seria um infeliz. Por mais agradável, chamariz, queimante que fosse a pessoa por quem se apaixonara, o gelo da sua infelicidade viria a acabar com o fogo da paixão. E então seria ainda mais infeliz e deixaria mais alguém infeliz.
Tomou uma decisão. Não queria mais ser barco ao sabor das vagas alterosas da paixão. A partir de agora, tomaria o leme do seu próprio barco.
Não foi fácil para ele acabar a relação com a pessoa. Nem por ele nem pela pessoa que aperfeiçoou estratégias para o segurar. Primeiro, afetivamente; depois, vitimizando-se; por fim, ameaçando...
Pássaro livre, amadurecido e corajoso, seguiu o seu caminho. Terminou!
Nesse dia, sensibilidade partida, chegou a casa, abraçou a mulher, beijou-a e disse-lhe com todo o sentir do seu ser: "Amo-te!" Depois pegou no telemóvel e ligou a cada filho: "Amo-te, filho (a)!"
Algum tempo depois, recebe um telefonema da pessoa com quem tivera uma relação apaixonada. Tentou não atender. Mas estava tão ciente do que queria que atendeu. Do outro lado da linha, a voz quente que lhe havia queimado os sentidos, surpreendeu-o: " Dou-te os parabéns pela coragem e pela decisão. Sofri muito como calcularás. Mas compreendo agora que jamais me poderias fazer feliz, sendo tu infeliz!" Sê feliz na tua família que eu procurarei o meu rumo. Até sempre!"
A filha abraçou-o, beijou-o e murmurou: "Gosto muito de ti, papá! Amo-te muito". Ouviu mas não escutou. Respondeu com um leve gesto como quem despacha a cena. Estava em brasas.
Mal o carro que a esposa conduzia saiu da garagem em direção à estação do comboio, ligou, frenético, o computador. Aproveitar até ao tutano cada segundo para estar, conversar, ver a pessoa por quem estava apaixonado.
Durante o dia, de longe em longe, irrompia do fundo da sua alma a frase da filha: "Gosto muito de ti, papá!" Procurou afastar rapidamente essa memória. Era perturbante para o fogo "amoroso". E isso ele não queria. O que lhe agradava era sentir-se imerso na espuma fofa da paixão.
Mas à medida que o dia avançava, a lembrança das palavras e gesto da filha tornavam-se mais persistentes como espinho que se vai cravando na carne. A noite foi complicada. Deu voltas e voltas na cama, levantou-se várias vezes, tomou uma bebida, deitou as mãos á cabeça. Parou junto do espelho da sala e olhou-se. Discretamente a esposa, envolvida no roupão, apareceu, colocou-lhe suavemente as mãos à volta do pescoço e sussurrou: "Que tens, meu querido!?" Instintivamente recorreu à carapaça da mentira: "Nada, problemas no trabalho!" Então olhou-se no espelho e, pela primeira vez desde que o caso começou, experimentou vergonha de si mesmo, sentiu-se um fantoche, sentiu o ridículo da máscara.
Nos dias imediatos, bailou-lhe na alma uma frase que ouvira à sua avó há muitos anos: "As paixões são como a chuva de trovoada, encharcam, mas não molham."
Começou a sentir-se menos bem nos contactos com a pessoa por quem se apaixonara, embora lhe continuasse a ser agradável. O dilema punha-se. Ou largava a mulher e os filhos que o amavam ou largava a sua paixão e regressava à família. Já não suportava mais a máscara da mentira. Sabia até que, mais cedo ou mais tarde, tudo seria conhecido e sabe Deus com que consequências.
Não, não se imaginava afastado da sua família, abandonado por esta, desprezado. Não aguentaria tal. Seria um infeliz. Por mais agradável, chamariz, queimante que fosse a pessoa por quem se apaixonara, o gelo da sua infelicidade viria a acabar com o fogo da paixão. E então seria ainda mais infeliz e deixaria mais alguém infeliz.
Tomou uma decisão. Não queria mais ser barco ao sabor das vagas alterosas da paixão. A partir de agora, tomaria o leme do seu próprio barco.
Não foi fácil para ele acabar a relação com a pessoa. Nem por ele nem pela pessoa que aperfeiçoou estratégias para o segurar. Primeiro, afetivamente; depois, vitimizando-se; por fim, ameaçando...
Pássaro livre, amadurecido e corajoso, seguiu o seu caminho. Terminou!
Nesse dia, sensibilidade partida, chegou a casa, abraçou a mulher, beijou-a e disse-lhe com todo o sentir do seu ser: "Amo-te!" Depois pegou no telemóvel e ligou a cada filho: "Amo-te, filho (a)!"
Algum tempo depois, recebe um telefonema da pessoa com quem tivera uma relação apaixonada. Tentou não atender. Mas estava tão ciente do que queria que atendeu. Do outro lado da linha, a voz quente que lhe havia queimado os sentidos, surpreendeu-o: " Dou-te os parabéns pela coragem e pela decisão. Sofri muito como calcularás. Mas compreendo agora que jamais me poderias fazer feliz, sendo tu infeliz!" Sê feliz na tua família que eu procurarei o meu rumo. Até sempre!"
Não vives só no mundo. Não és o centro da história. Ninguém é feliz sozinho. Na vida não vale tudo! Por isso tem em conta quem tu amas, onde é que amas, porque é que amas, quando é que amas ou como é que amas.
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