É verdade que o celibato sacerdotal não é um mandato
divino, nem uma prescrição apostólica. Os Apóstolos, à exceção de Paulo,
casaram e o Novo Testamento dá-nos conta de bispos, presbíteros e diáconos casados.
Mas também é verdade, que muito pouco tempo depois, a Igreja assume o conselho
do Apóstolo Paulo (cf. 1 Cor 7,25) e reconhece que o coração indiviso,
ao serviço do Reino dos Céus e pelas coisas do Senhor, é muito adequado ao
exercício do ministério pastoral. É uma forma de seguir Jesus, que confere maior
disponibilidade afetiva e efetiva para o serviço do Evangelho, porque preserva
das justas preocupações e atenções devidas à família. Num tempo de urgência
missionária, esta liberdade interior e exterior é um tesouro frágil, é verdade,
mas preciso e precioso!
Além do mais, o celibato sacerdotal devia permanecer para
todos como um sinal luminoso de que o cenário deste mundo é passageiro (1 Cor 7,29) e como um sinal de esperança no futuro: mesmo quando o
mundo adormece indiferente à vinda do Senhor, há sempre alguém de vigia,
totalmente centrado e concentrado n’Ele, para ir ao Seu encontro.
A crise do celibato não é menor do que a crise do matrimónio
Não é fácil apelar às novas gerações para a beleza da vida sacerdotal,
num ambiente cultural carregado de estímulos eróticos, em que a fidelidade a um
tal propósito exige um alto grau de maturidade humana! Neste tempo, em que se perdeu
a dimensão do eterno e do definitivo, o celibato provocará sempre desconfiança e
desconforto! Mas a solução não será a simples revogação ou adaptação às modas e
modos deste tempo. Porque a crise do celibato, que é notícia até pela sua
raridade, não é menor do que a crise do matrimónio, numa cultura adversa a um amor
definitivo e exclusivo. Não se resolvem as dificuldades do celibato com o
casamento, porque, também na relação conjugal, é alto o preço da fidelidade e permanente
o risco da infidelidade. O coração humano, como órgão espiritual, precisa de cuidados
intermédios, contínuos e intensivos.
Movidos pelo amor de Deus, permaneçamos vigilantes perante
os riscos e atentos ao Senhor, que vem de repente ao nosso encontro e nos pede
prontidão na resposta! Que não nos falte o azeite na candeia acesa da fé e da
esperança, nem o vinho novo da alegria, na ânfora inesgotável do amor! Que entre
os padres e os casais cristãos haja estima e ajuda recíprocas. Que as nossas
famílias despertem o coração dos seus filhos para a alegria de uma resposta
pronta ao Senhor. Ele vem para a todos desposar no Seu amor. Digamos “sim” e “estaremos para sempre com o Senhor” (cf. 1 Ts 4,17).
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