terça-feira, 14 de novembro de 2017

Não será a ignorância religiosa o maior problema dos católicos portugueses?

- Noutros tempos, a família era a maior escola de catequese. Ali se transmitiam as verdades da fé. Ali se rezava. Ali se incutia desde o berço a sensibilidade ao transcendente.
Por outro lado, a sociedade concorria para uma prática cristã, de modo que quem não fosse à missa era olhado de lado e marcado socialmente. Aliás a própria sociedade era marcada pelos ritmos e valores cristãos. Domingos e dias santas eram como que férias repartidas para quem não as tinha.  Pessoa que praticasse o divórcio ou o aborto era posta à margem da sociedade, olhada como  desnaturada, condenada no tribunal social.
Existia uma fé simples, sem grandes razões de acreditar, bastante sentimentalista, fortemente condicionada pela tradição. Mas a ligação ao divino mantinha-se e celebrava-se.
- Já Santo Agostinha dizia que "ninguém ama aquilo que não conhece". Numa sociedade aberta, plural e multifacetada, a pressão social doutros tempos esvaiu-se.  As referência ou se vão apagando ou são outras hoje. A família  vai perdendo o sentido cristão da vida, enredada no trama e no drama daquilo a que o Papa Francisco chama de "mundanismo".
Neste contexto, ou há razões de acreditar e as pessoas sentem necessidade de celebrar comunitariamente a sua fé ou então debandam e entregam-se a uma religiosidade de cunho intimista e individualista. Em alternativa (quando não concomitantemente) voltam-se para os deuses pagãos: poder, ter, prazer, etc.
- A ignorância religiosa entre a gente nova é confrangedora. A catequese paroquial é um oasis de uma  hora semanal num deserto sem Deus de 168 horas semanais... Na família, nas escola, nos grupos a quem pertence, na sociedade, o catequizando  mergulha noutras referências ou desreferências.
Num mundo de movimento e movimentos, imediatista, de sensações rápidas e variadas, a fé apela à interioridade, ao silêncio, à contemplação. Exatamente o oposto ao que a sociedade propõe ao jovem.
Depois, a começar pela família, prolongando-se pela vida social, o jovem não encontra o testemunho daquilo que aprendeu na catequese.
- Há muito a fazer e a hora é de esperança. Acredito que, para além das nuvens, o Sol continua a brilhar.

Há que estar atento aos sinais dos tempos e rever processos e métodos de catequese, de modo que a Mensagem libertadora e bela de Jesus chegue ao coração dos jovens do nosso tempo.
Há que motivar e envolver a família na dinâmica da formação e crescimento da fé.
A hora da grande cristandade foi-se. É a hora de grupos, comunidades de base, porventura mais pequenas, mas imbuídas da alegria do Evangelho, celebrantes e caritativas, dinâmicas, apostólicas e testemunhantes. Tudo ao estilo das primeiras comunidades cristãs que, por isto, tinham um só coração e uma só alma.

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