O Papa Francisco disse hoje no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, que as instituições comunitárias têm de defender a democracia face aos perigos apresentados pelo “poder financeiro”.
“Manter viva a realidade das democracias é um desafio deste momento histórico, evitando que a sua força real – força política expressiva dos povos – seja removida face à pressão de interesses multinacionais não universais, que as enfraquecem e transformam em sistemas uniformizadores de poder financeiro ao serviço de impérios desconhecidos. Este é um desafio que hoje vos coloca a história”, declarou, diante dos representantes de mais de 500 milhões de habitantes dos 28 Estados-membros da União Europeia.
“A vós, legisladores, compete a tarefa de preservar e fazer crescer a identidade europeia, para que os cidadãos reencontrem confiança nas instituições da União e no projeto de paz e amizade que é o seu fundamento”, prosseguiu.
No primeiro dos dois discursos que vai pronunciar na cidade francesa, Francisco sublinhou a importância de “promover as políticas de emprego” e de “devolver dignidade ao trabalho”, procurando “novas maneiras para combinar a flexibilidade do mercado com as necessidades de estabilidade e certeza das perspetivas de emprego”.
Para tal, precisou, é necessário promover um contexto social que “não vise explorar as pessoas, mas garantir, através do trabalho, a possibilidade de construir uma família e educar os filhos”.
O Papa argentino falou, por isso, do papel central da “família unida, fecunda e indissolúvel” para a formação das novas gerações e o apoio aos idosos que muitas vezes são obrigados a “viver em condições de solidão e abandono, porque já não há o calor dum lar doméstico capaz de os acompanhar e apoiar”.
Além da família, Francisco destacou a importância da educação, que mais do que fornecer “conhecimentos técnicos” deve “favorecer o processo mais complexo do crescimento da pessoa humana na sua totalidade”.
O discurso, com mais de 35 minutos e interrompido mais de uma dezena de vezes pelas palmas dos eurodeputados, recordou que a Europa sempre esteve na vanguarda do compromisso ecológico e da promoção de fontes alternativas de energia, “cujo desenvolvimento muito beneficiaria a defesa do meio ambiente”.
Nesse contexto, aludiu ao setor agrícola e sublinhou que “não se pode tolerar que milhões de pessoas no mundo morram de fome, enquanto toneladas de produtos alimentares” são deitadas fora.
Francisco desafiou a Europa a enfrentar em conjunto a questão migratória.
“Não se pode tolerar que o Mar Mediterrâneo se torne um grande cemitério. Nos barcos que chegam diariamente às costas europeias, há homens e mulheres que precisam de acolhimento e ajuda”, advertiu.
Para o Papa, estas questões, bem como as ligadas à entrada de novos países na União Europeia, só serão resolvidas com uma definição clara da “identidade cultural” das instituições comunitárias, com a “consciência da própria identidade”, “indispensável nas relações com os outros países vizinhos”, particularmente os do Mediterrâneo, “muitos dos quais sofrem por causa de conflitos internos e pela pressão do fundamentalismo religioso e do terrorismo internacional”.
“O lema da União Europeia é Unidade na diversidade, mas a unidade não significa uniformidade política, económica, cultural ou de pensamento. Na realidade, toda a unidade autêntica vive da riqueza das diversidades que a compõem”, referiu Francisco.
Após a intervenção, o Papa encontrou-se com o primeiro-ministro italiano Matteo Renzi, presidente de turno do Conselho da União Europeia, Jean Claude Junker, presidente da Comissão Europeia, e Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu.
Francisco assinou o livro de ouro do Parlamento Europeu, onde deixou a seguinte mensagem: “Desejo que o Parlamento Europeu seja cada vez mais a sede onde cada um dos seus membros contribua para que a Europa, consciente do seu passado, olhe o futuro com confiança para viver com esperança o presente”.
In agência ecclesia
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