O nome do aluno que assina a composição não me traz recordações concretas, mas da turma a que ele pertencia conservo uma memória geral agradável. Eram alunos educados e alegres. E ainda sinto o prazer que me dava entrar naquela sala de aulas.
Por que motivo terei guardado aquela redacção? Não sei. Talvez o aluno tivesse faltado no dia da entrega dos trabalhos e depois me tivesse esquecido de lha entregar ou ele nunca tivesse reclamado a composição. Não sei...
Pela introdução ao trabalho, sei que o tema era livre. Gostava muito de este tipo de composições. Dava amplitude à criatividade, mormente quando se tratava de alunos mais velhos.
Este jovem colocou como título do seu trabalho "Estar apaixonado". Claro que se trata de um jovem, 17/18 anos, provavelmente.
Achei piada e transcrevo para os leitores uma parte da composição.
" Estar apaixonado é fabuloso. Deito-e e levanto-me a pensar nela.
Quando venho para a escola, dou uma voltinha por longe para passar à sua porta e, quando tenho a sorte de a ver, venho contente para a escola. Tão feliz que pareço outro homem. Nada me mete medo e sinto uma força e um ânimo que não imaginava possuir. Sou mais brincalhão, as aulas não me aborrecem e sou mais prestável. Os colegas até me dizem: "Viste passarinho novo!" Eu tento disfarçar, mas cá dentro sinto uma felicidade !...
Não nego que durante as aulas e até no recreio, o pensamento voa até ela e sinto que o seu sorriso e o seu olhar me invadem a alma como aragem fresca em dia de canícula.
De regresso das aulas, anseio que chegue a hora de ela regressar da sua escola. Parece que o tempo não anda e desgasto os olhos a barafustar com o relógio. Upa, está na hora! E lá vou eu ao seu encontro. Aquele tempinho que passamos juntos esfuma-se rapidamente, parece que o relógio galopa. Só queria estar ao pé dela horas, horas e horas... Sempre!
A despedia é feita em vários tempos. Após um "até amanhã, amor", as pernas teimam em voltar atrás, e segue-se mais uma, duas, três despedidas.
Sigo nas nuvens, tão nas nuvens que às vezes nem reparo nas pessoas com que me cruzo. E janto a pensar nela, estudo com ela no coração e adormeço embrulhado no "suma-à-uma" do nosso amor.
Sinto-me tão bem a fazer tudo o que sei que lhe agrada! Gestos, palavras, acções, atitudes.. Nunca me imaginei a fazer certas coisas, mas porque sei que ela gosta, até as faço agora com alegria. O amor tem cá uma força!
Sim, é bom estar apaixonado. Só quero que este amor dure para sempre!"
ResponderEliminarAquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.
Friedrich Nietzsche
Amor e paixão serão exactamente a mesma coisa?
ResponderEliminarSto Agostinho dizia: "Ama e faz o que quiseres."
Quem ama respeita; quem ama não prejudica; quem ama quer o bem da pessoa amada; quem ama quer o outro feliz; quem ama não inflige danos ao outro; quem ama não é egoísta.
É por isso que o AMOR é o perfeito cumprimento da lei.
Uma paixão pode surgir a quaquer um em qualquer instante. Mas muitas vezes o amor está no "regresso a casa".
Ninguém está livre de se apaixonar por quem não deve; todos somos livres para amar quem devemos.
É assim que muitos e muitas que, em determinada altura se apaixonaram por outra pessoa, acabaram por reencontrar em casa o amor que procuravam (na esposa, no marido).
Num tempo que idolatra o EU e relativiza os valores, tudo se aceita desde que agrade e dê prazer ao Eu, ainda que faça ou possa vir a fazer com que outros sofram.
Mas alguém pode ser feliz fazendo ou podendo vir a fazer o sofrimento de outros?
Isto de "um amor e uma cabana" foi chão que não deu uvas, mas espinhos...
Já vi lágrimas e corações sangrando de dor em muitos filhos, por causa de paixonetas de seu pai ou mãe... E quem provoca essas torrentes de dor pode ser feliz???