terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

QUANDO É QUE NÃO ESTIVEMOS EM CRISE?

1. O diagnóstico não pode ser mais devastador: «O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada e os caracteres corrompidos.

A prática de vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita.

Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.

A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria.

Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia.

Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Toda a vida espiritual, intelectual, parada.

O tédio invadiu as nossas almas. A mocidade arrasta-se, envelhecida, das mesas das secretarias para as mesas dos cafés.

A ruína económica cresce, cresce, cresce. As quebras sucedem-se. O pequeno comércio definha. A indústria enfraquece. A sorte dos operários é lamentável. O salário diminui».

2. As consequências não demoram: «A ignorância pesa sobre o povo como uma fatalidade.

A população dos campos puxa uma vida miserável, sacudida pela penhora: ignorante, entorpecida, de toda a vitalidade humana conserva apenas um egoísmo feroz e uma devoção automática.

A intriga política alastra-se. O país vive numa sonolência enfastiada.

Diz-se por toda a parte: o país está perdido! Ninguém se ilude. Todas as consciências certificam a podridão, mas todos os temperamentos se dão bem na podridão! A corrupção toma o lugar da filosofia!».

3. As palavras são fortes e o sentimento é quase depressivo.

No entanto, tudo quanto acaba de ser dito parece ajustar-se na perfeição ao que se passa no país.

Acontece que se trata de um texto com mais de cem anos. Foi escrito por Eça de Queiroz em 1871 e faz parte de As Farpas, que compôs em parceria com Ramalho Ortigão.

Mas, já muito antes, ouvíamos advertências de teor semelhante ao de muitas intervenções de hoje.

Reparem nesta denúncia: «A nossa juventude adora o luxo, é mal-educada, despreza a autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Os nossos filhos hoje são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem aos pais e são simplesmente maus»

Sabem a quem pertencem estas palavras? A Sócrates. O panorama cívico já não era famoso no século V a.C.

E vejam esta autêntica declaração de desespero: «Não tenho mais nenhuma esperança no futuro do nosso país se a juventude de hoje tomar o poder amanhã, porque esta juventude é insuportável, desenfreada, simplesmente horrível».

Foi Hesíodo quem disse tudo isto no século VIII a.C..
Não espanta por isso que, já dois mil anos antes de Jesus nascer, um sacerdote vaticinasse: «O nosso mundo atingiu o seu ponto crítico. Os filhos não ouvem mais os pais. O fim do mundo não pode estar muito longe».

Mais cedo ainda, na Babilónia, foi encontrada esta inscrição: «A juventude está estragada até o fundo do coração. Os jovens são maus e preguiçosos. Eles nunca serão como a juventude de antigamente. A juventude de hoje não será capaz de manter a nossa cultura».

4. Não há motivos para entrar em pânico. Em cada época, se sentia um ambiente de crise pressentindo-se, ao mesmo tempo, um clima de fim de ciclo, de fim de regime e até de fim de mundo.

Os ciclos mudam, os regimes acabam e o mundo vai-se mantendo…apesar de todas as crises, apesar da crise contínua.

Aliás, se repararmos bem, quando é que não estivemos em crise? Não será a crise que funciona como um permanente acicate para a nossa sobrevivência?

Convém, porém, não confiar na inércia. Hoje, flutuam de novo palavras carregadas de um tom alarmista, quase apocalíptico.

É importante amenizar o discurso, mas não deixemos de prestar atenção à realidade e aos avisos que nos são feitos.
Quem nos avisa, nosso amigo é.
http://theosfera.blogs.sapo.pt/

Excelente apontamento do Doutor João António. Vale a pena ler e reflectir. Para compreender e agir.

2 comentários:

  1. «A juventude está estragada até o fundo do coração. Os jovens são maus e preguiçosos. Eles nunca serão como a juventude de antigamente. A juventude de hoje não será capaz de manter a nossa cultura».

    Infelizmente nossa juventude está transviada. Os valores atuais, e a guerra que a mídia faz, vendendo entretenimento sem valor para a evolução espiritual nos impede de evoluir mais do que poderíamos.

    Filosofia dos anjos.

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  2. Como diz no comentário anterior, a juventude está estragada, e é a maior pura das verdades, mas presumo que as culpas veem de muitas fontes:

    A educação na vida familiar é da maior importânciam, mas a liberdade que lhe é dada pelos pais, é que origina a falta de educação e a falta de respeito para com os outros, que se vê nas Escolas a falta de respeito para com os Srs Professores(as).

    A Comuninação Social, telenovelas e jogos que nada tem aver com educação Espiritual, mas sim para desviar o semtido da educação e respeito pelo semelhante.

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