domingo, 16 de fevereiro de 2025

Morreu Pinto da Costa, o dirigente com maior longevidade mundial, maior currículo europeu e maior história nacional

Morreu Pinto da Costa, o dirigente com maior longevidade mundial, maior currículo europeu e maior história nacional


O FC Porto está de luto pelo falecimento de um nome histórico não só para o clube, mas para todo o mundo do futebol. De 23 de abril de 1982 a 7 de maio de 2024, contaram-se 42 anos e 16 mandatos. Percurso recordista e inigualável do presidente mais titulado de sempre, que aos dragões, termo que cunhou, dedicou quase toda a vida, entre seccionista, diretor para o futebol e presidente. Foram 69 títulos no futebol e mais de 2500 entre todas as modalidades. Transformou totalmente o clube, que de conformado, tímido e receoso se fez marca mundial, com expressão evidente no palmarés internacional, o mais rico do futebol português, com sete conquistas, incluindo duas Ligas dos Campeões. As alegrias que proporcionou aos portistas foram, por si mesmas, também uma das maiores felicidades de Pinto da Costa, que tantas evocava o impacto desses momentos na vida de quem tinha pouco mais por onde sorrir.

Disruptivo e obstinado, de sentido de humor sempre apurado, ironia refinada e orador natural – discursava 20 minutos sem olhar sequer para uma cábula – Pinto da Costa despertava paixões e ódios bem acesos. Foi venerado pela nação azul e branca em nome de um trajeto de sucesso que trilhou fazendo frente a tudo e todos. Rivalidades e disputas que bateram no máximo, à medida que o FC Porto se fazia cada vez maior: de várias formas, crescia na hostilidade, contra tudo e contra todos virou lema. Rodeado, nos primeiros tempos, por nomes de confiança extrema, como José Maria Pedroto, Luís Teles Roxo e Reinaldo Teles, o líder fazia da guerra ao centralismo uma bandeira paralela à azul e branca. Se nunca é só futebol, nos dragões ainda menos e Pinto da Costa nunca se incomodou ou hesitou em ser polémico. Animosidade será dizer pouco sobre as sensações que despertava nos rivais, mas indiferente a ele é que ninguém era.

Escutava várias opiniões, mas a decisão para o homem do leme cabia sempre a Pinto da Costa, que tinha um olho clínico para os escolher. Desde o “mestre” Pedroto a Sérgio Conceição, o mais longevo e titulado em 42 anos, foram poucos os treinadores que saíram do clube sem lhe acrescentar troféus, mesmo aqueles que chegaram às Antas e ao Dragão sem saber o que isso era. Como Artur Jorge, campeão europeu em Viena, em 1987. Bobby Robson, António Oliveira, José Mourinho, Jesualdo Ferreira, André Villas-Boas, que mais tarde haveria de reentrar no clube com estrondo, foram outros exemplos de apostas arrojadas e bem sucedidas, potenciando grandes equipas e jogadores para a história. Todos se rendiam à visão e palavra do presidente, astuto nos momentos mais delicados. Podia ser uma presença (sempre forte) num treino depois de um mau jogo, podia ser sair ao lado de Fernando Santos depois do Torreense deixar as Antas em choque – meses mais tarde, em 1999, celebrar-se-ia o único pentacampeonato que Portugal testemunhou.

O futebol mudou, vieram as sociedades anónimas desportivas e transferências por valores sempre crescentes. Veio uma Champions, a última ganha fora das grandes ligas, pouco antes de rebentar o processo Apito Dourado. Abanou o clube, mas Pinto da Costa foi absolvido de todas as acusações de corrupção desportiva e os seis pontos no campeonato que tinham sido retirados em 2007/08 acabaram por ser repostos.

Além de um novo estádio e um centro de treinos, chegou um pavilhão e um museu vanguardista. Os títulos continuavam a ser um hábito. O FC Porto potenciava talento, lucrava e repetia o processo, com Pinto da Costa reconhecido por ser negociador exigente.

No entanto, com a lei do tempo, veio também o desgaste. Traços marcantes da gestão viam-se menos e chegou o período mais duro: quatro épocas sem ganhar o campeonato (2014-2017) foram uma eternidade. Uma última investida, à boleia de Sérgio Conceição, repôs a normalidade em campo, mas a massa adepta que com Pinto da Costa se fez exigente e que durante décadas em nele tudo confiou, vaticinou outro rumo. Depois de alguns avisos, nas eleições de 2016 e 2020, o ato eleitoral mais participado de sempre deu a presidência a André Villas-Boas com 80% dos votos e Jorge Nuno, quase uma vida depois, recuperou o nome próprio e voltou a ser só adepto do FC Porto.

Um último livro, “Azul até ao fim”, impactou pela fotografia de Pinto da Costa ao lado do caixão que escolheu para o funeral que pagou do próprio bolso e de forma antecipada. Ao mesmo tempo que abraçou a inevitabilidade da morte com uma naturalidade desconcertante, assumiu mágoas e listou quem não queria presente nas cerimónias fúnebres.
Fonte: aqui

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