segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

SOMOS AS NOSSAS ESCOLHAS E PRIORIDADES (Cultura é diferente de soltura. E também há “concertos” sem conserto.)

 Diz a sabedoria popular que “uma mão lava a outra e as duas lavam o rosto”. Talvez seja uma referência a uma espécie de troca de favores necessária à existência humana; não era tanto, como nos nossos dias, uma alusão à concessão ilegítima de favores, mas uma admissão de que nenhum ser humano poderia viver sem os demais. Hoje, nas práticas “modernas” significa algo como "tu fazes-me um favorzinho, e eu faço-te outro em troca”; “tu alinhas connosco (aparas os nossos interesses) e nós deixamos-te em paz = a vida corre-te bem”. Não vou por aí. Corrupção conjuga-se de vários modos… Prefiro falar com os meus atos. Não vivo de demagogia, populismo ou meias-verdades. Serei senhor das minhas decisões. Sempre.

Há gente que continua a pensar que o padre é o parente pobre (bobo da festa) das suas arruadas sociais, estratégias políticas ou exibições religiosas. Àqueles que se desdobram por todos os poros em iniciativas ditas culturais poderia sempre contrapor que a primeira e principal “iniciativa cultural” para os católicos (desde antanho, milenar) é celebrar a fé que, demagoga e cinicamente, continuam a dizer professar, mas nada lhes diz = Eucaristia dominical. Uma coisa são as palavras (“leva-as o vento”) outra, bem diferente, são as ações, que confirmam de modo evidente o oportunismo (cinismo, populismo) vigente.
Há quem não tenha tempo (vontade) para cumprir o dever mínimo dos católicos, ou seja, participar ao Domingo na Missa (“Santificar Domingos e festas de guarda”), mas tenha tempo a rodos para participar em concertos e cantorias esganiçadas (e até as partilhar eufóricos nas redes sociais), afoitos em preservar as tradições profanas (fazendo-as passar por religiosas! = fezadas mundanas), passeatas pedonais, regabofes culturais, atividades desportivas, corridas temáticas ou festivais de gosto muito duvidoso.
O povo diz que “quem dá a noite não dá o dia”. Não tenho dúvidas. Desdobram-se em esforços para o que lhes interessa (dá jeito), atolam-se em razões para desculpar as ausências colossais e capitais. Quem não é capaz do essencial e se orgulha do acessório é, como diz o sábio das Escrituras, um insensato (néscio, leviano) ou, então, prima pela ilusão e/ou absurdo existencial: «Vaidade das vaidades – diz Coelet – vaidade das vaidades: tudo é vaidade». (Ecl 1,2)
Felizmente, sempre tive prioridades e não alinho em fantochadas, estratagemas pérfidos ou oportunismos bacocos. Onde quero estar, estou; onde não quero estar, não arranjo desculpas. Sempre fiz questão de assumir as rédeas da minha vida e não andar ao sabor de interesses pacóvios sejam de que ordem for. Cultura é muito mais que estar num lugar. Falta de cultura (analfabeto, inculto) é não saber discernir o essencial do acessório, as obrigações das paixões, as modas das negociatas.
Quem se vangloria do secundário e se desculpa do principal terá talvez/apenas a credibilidade das suas palavras rotas e gastas. Porque aquilo que vou vendo em muita gente que se diz culta revela bem mais soltura da língua que propriamente bagagem cultural. E quem acha que me come de cebolada com as suas cantilenas vãs ou “provocações parolas” apenas se dá ao desplante de atestar as suas limitações, porque há muito eu sei que "ao ‘amigo’ que não é certo, com um olho fechado e outro aberto".
(P. António Magalhães Sousa), aqui

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