sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

E TANTOS A VIVER SEM O DOMINGO!


 “Sem o domingo não podemos viver!” Esta foi a resposta de Emérito, diante do procônsul de Cartago, no ano 304, quando interpelado por estarem a celebrar a Eucaristia apesar das proibições do imperador Diocleciano. Ele e outros 48 cristãos de Abitene, na atual Tunísia, foram torturados e mortos, por quererem celebrar a sua fé: «No início do século IV, quando o culto cristão era ainda proibido pelas autoridades imperiais, alguns cristãos do norte da África, que se sentiam obrigados a celebrar o dia do Senhor, desafiaram tal proibição. Foram martirizados enquanto declaravam que não lhes era possível viver sem a Eucaristia, alimento do Senhor: “Sine dominico non possumus” – sem o domingo, não podemos viver» (Sacramentum Caritatis 95).

Diz-se que SÃO TARCÍSIO, um jovem que frequentava as Catacumbas de São Calisto, em Roma, era muito fiel aos compromissos cristãos. Amava muito a Eucaristia. Segundo a tradição, seria acólito. Eram anos em que o imperador Valeriano perseguia duramente os cristãos, obrigados a reunir-se escondidos nas casas particulares ou, às vezes, até mesmo nas Catacumbas, para ouvir a Palavra de Deus, rezar e celebrar a Santa Missa. Também o hábito de levar a Eucaristia aos prisioneiros e aos enfermos se tornava perigoso.
Certo dia, quando o sacerdote perguntou sobre quem estava disposto a levar a Eucaristia aos outros irmãos e irmãs que a esperavam, Tarcísio ergueu-se e disse: "Envie-me a mim!". “És demasiado jovem para um serviço tão exigente“, disse. "A minha juventude – retorquiu Tarcísio – será a melhor salvaguarda para a Eucaristia". Persuadido, o sacerdote confiou-lhe, então, o Pão Sagrado, dizendo-lhe: "Tarcísio, recorda-te que um tesouro celestial está a ser confiado aos teus frágeis cuidados. Evita os caminhos frequentados e não te esqueças de que as coisas santas não devem ser lançadas aos cães, nem as joias aos porcos. Conservarás com fidelidade e segurança os Sagrados Mistérios?". "Morrerei – respondeu com determinação Tarcísio – antes de os ceder!".
Ao longo do caminho, encontrou alguns amigos que, aproximando-se, lhe pediram para se juntar a eles. Dando uma resposta negativa, eles – que eram pagãos – começaram a suspeitar e a insistir, e observaram que apertava ao peito algo que parecia defender. Em vão procuraram arrancar-lhe o que trazia; a luta fez-se cada vez mais furiosa, sobretudo quando vieram a saber que Tarcísio era cristão; começaram a dar-lhe pontapés e lançaram-lhe pedras, mas não cedeu. Em agonia, foi levado ao sacerdote por um oficial pretoriano chamado Quadrato que, ocultamente, também viria a tornar-se cristão. Chegou ali sem vida, mas apertando ao peito ainda conservava um pequeno pedaço de linho com a Eucaristia. Foi sepultado imediatamente nas Catacumbas de São Calisto.
Dois milénios depois, a maioria dos católicos VIVE BEM SEM O DOMINGO. Há tanta coisa mais importante a fazer que reservar uma hora para estar com Jesus na Eucaristia (Santa Missa): descansar, passear, praticar desporto, trabalhar (para satisfazer luxos, prazeres e necessidades mundanas), organizar caminhadas, promover atividades lúdicas e recreativas, repousar dos excessos da noite...
Este desprezo pelo Domingo também se verifica em católicos com algum compromisso assumido na comunidade: ACÓLITOS que, "não estando ao serviço", não se veem na igreja; CATEQUISTAS e CATEQUIZANDOS que ainda são capazes de ir à Missa se a catequese for antes ou depois (nas férias ninguém os vê!); LEITORES e CORALISTAS que facilmente trocam a Eucaristia por iniciativas e propostas banais; FIÉIS que, não havendo Missa na paróquia, usam-na imediatamente como desculpa!
FALTAR À MISSA AO DOMINGO, sem motivo grave, é pecado mortal: «A Eucaristia dominical fundamenta e sanciona toda a prática cristã. É por isso que os fiéis têm obrigação de participar na Eucaristia nos dias de preceito, a menos que estejam justificados, por motivo sério (por exemplo, doença, obrigação de cuidar de crianças de peito) ou dispensados pelo seu pastor. Os que deliberadamente faltam a esta obrigação cometem um pecado grave.» (CIC 2181)
«São muitos os homens e as mulheres que um dia foram batizados pelos seus pais e hoje não saberiam definir exatamente qual é a sua postura diante da fé. Talvez a primeira pergunta que surge no seu interior seja muito simples: Para que crer? A vida muda alguma coisa pelo facto de crer ou não crer? Serve a fé realmente para alguma coisa? Estas perguntas nascem da sua própria experiência. São pessoas que, pouco a pouco, foram empurrando Deus para um canto da sua vida. Hoje Deus não conta absolutamente para elas na hora de orientar e dar sentido à sua existência. Deus não lhes diz nada. Para que crer? Esta pergunta só é possível quando alguém “foi batizado com água”, mas não descobriu o que significa “ser batizado com o Espírito de Jesus Cristo”. Quando alguém continua a pensar erroneamente que ter fé é crer numa série de coisas muito estranhas, que nada têm a ver com a vida, e não conhece ainda a experiência viva de Deus.» (J. Pagola)
(P. António Magalhães Sousa), aqui

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