segunda-feira, 12 de abril de 2021

A Anália, o Zé e o Ricardo ousam questionar-se vocacionalmente


Para o crente, a vocação é um dom de Deus - seja que vocação for. A iniciativa é sempre d'Ele. Só que Deus chama, mas "não pega pela orelha" para obrigar ninguém a seguir o caminho que propõe. Criou o homem livre e respeitará sempre a liberdade concedida. Deus manifesta-se no santuário do coração e nos sinais dos tempos. Ele não grita nem agride. A Sua voz é suave, meiga, acolhedora, envolvente.Diz o povo que "ninguém é feliz se não seguir a sua vocação."Logo é importante descobrir e assumir a vocação que Deus propõe a cada um. Conhecemos pessoas que seguiram um caminho difícil, exigente e espinhoso, mas são felizes. Conhecemos outras pessoas que seguiram caminhos economicamente rentáveis, socialmente prestigiados, mas sentem vazios interiores, não se sentem de bem com elas e com o mundo.
Apenas três casos.
A Anália era filha única e seus pais estavam bem na vida. Sonhavam para ela um curso de fama e a chegada, a seu tempo, de netinhos. A rapariga, apesar da indiferença religiosa dos pais, começou a sentir o chamamento à vida religiosa. Com o tempo, essa inquietante voz interior torna-se mais forte e clara. Recorre à ajuda do diretor espiritual que alguém lhe indicara. Finalmente comunica a decisão aos pais que a receberam como um raio fulminante sobre a sua vida.
Os pais - ainda mais o pai - não aceitam. Reagem com alguma violência psicológica. Ameaçam, chantageiam, aliciam. Nada. A rapariga vai em frente. Aguenta o corte de relações por parte do pai e a frieza cortante da mãe. No dia dos votos perpétuos, as cadeiras destinadas aos pais ficaram vazias...
Um dos trabalhos da congregação religiosa de que agora a Anália fazia parte era a dedicação e trabalho com crianças abandonadas. A Irmã Anália era uma mulher feliz, realizada, de bem consigo e com os outros. E essa felicidade toca os pais que, lentamente, se vão aproximando da filha. Às tantas, começam a visitar e a ajudar as crianças de que a filha tratava com tanto amor. Tornam-se como que os avós daquelas crianças.
Tanto que a mãe, exclama: "Deus tirou-me a filha para me dar a bênção de tantos netinhos!"

O Zé era um rapaz inteligente, respeitador, alegre, com carisma de liderança, de fé sólida. No Seminário era querido por todos, colegas e formadores. As pessoas da sua terra tratavam-nos carinhosamente por "nosso Zezito". Toda a gente lhe vaticinava uma bela carreira sacerdotal.
Da dúvida da adolescência, à certeza da juventude, voltou à inquietação em jovem maduro. De início a dúvida, depois a inquietação, por fim a convicção. "Não é por aqui que Deus me chama". Depois de longas conversas com o Director Espiritual e com os formadores e, apesar da tristeza destes, resolve abandonar o Seminário. Pais completamente abatidos; conterrâneos desiludidos.
O Zé completa os seus estudos na Universidade, vai para o mundo do trabalho, casa. É um marido dedicado e um ótimo pai. Na comunidade cristã onde está inserido, realiza a sua vocação laical. Responsável pelo coral, vai integrando grupos, associações, conselhos. A alegria, o espírito de liderança, a capacidade de acolher, fazem com que as pessoas comentam." Grupo onde esteja o Dr. Zé, é grupo forte e em crescimento."
Em nome da sua fé - como sempre faz questão de assinalar - é igualmente um leigo presente na vida da sociedade. Dos bombeiros à política local; da associação de pais ao grupo desportivo. Em tempos diferentes e em colaboração diversa, o Zé tem contribuído para o desenvolvimento da sociedade. Sempre em nome dos valores em que acredita.

O Ricardo, rapaz normal, a quem a mãe dizia às vezes a brincar "és o meu querido doidivanas", praticava desporto, tinha uma ligação forte às novas tecnologias, gostava de pregar partidas, alinhava numas borgas, era "engatadiço". Depois do Crisma, abandonou a Igreja.
Por mero acaso, encontra na internet um site. Por curiosidade passou por lá. Riu-se. Era um site vocacional. Pensou para si mesmo: "Onde esta gente gasta tempo!"
O que é certo é que aquilo começou a remoer dentro dele. Voltou, leu mais e sentia cada maior vontade de regressar àquele espaço. Começou a interrogar-se. "E se eu fosse padre!" Para logo a seguir concluir: "Oh! Que tontice! Eu, Ricardo, padre!? Só posso estar a delirar!" Por mais que tentasse, a ideia de ser padre voltava sempre.
Um dia confidencia à mãe o que se estava a passar com ele. A reacção materna foi fulminante: "Padre? Deves estar sob efeito da droga... Logo tu, meu doidivanas!"
Decidiu que expulsaria de dentro de si tal ideia quando ela o voltasse a apoquentar. Em vão. Era mais forte.
Na escola, ouviu falar a uma amiga de Convívios Fraternos, ela que era uma convicta conviva. Começou a fazer mais e mais perguntas à colega que, certa vez, lhe pergunta: "Queres fazer um Convívio? Garanto-te que vais gostar. Disse que sim a medo.
Foi. Gostou. Encontrou a luz. Regressou à Igreja. Continuou o discernimento vocacional. Sentia-se cada vez melhor consigo mesmo. Até que vai ter com o pároco e diz que achava que Deus o queria padre e estava disposto a fazer a vontade de Deus.
Está a acabar o curso. Querendo Deus, será ordenado sacerdotal dentro de pouco tempo. É feliz!

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