quinta-feira, 28 de abril de 2016

Batismo – Inconsistências

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Sinceramente, sinto que devo começar esta crónica reconhecendo-me publicamente pecador e imperfeito, muito longe de corresponder ao que Deus e a Igreja querem e esperam de mim.
Posto isto, continuo.
Diz o Papa Francisco que nós, os que fazemos parte da Igreja de Jesus, não somos nem temos que ser perfeitos, porque a Igreja não é necessariamente uma comunidade de justos, mas um povo de discípulos que procuram seguir Jesus o melhor possível.
É verdade. Sem dúvida. Contudo, não posso deixar de dizer que uma coisa é a falta de santidade e de perfeição que ainda não adquirimos, e outra, bem diferente, é a falta de seriedade e de coerência que mostramos: nos actos e nas palavras.
No tema em título e em análise, sempre me impressionou e incomodou a ligeireza e a imponderação com que a maior parte dos pais e dos padrinhos das crianças por eles apresentadas ao Baptismo respondem ao sacerdote que, à entrada do templo, os interroga sobre o compromisso que assumem nesse momento de educar os filhos e afilhados na fé e na vida cristã: os pais, de educar; os padrinhos, de ajudar.
Há cinquenta e três anos que venho fazendo essa pergunta e nunca algum pai, mãe, padrinho ou madrinha me respondeu que não. E no entanto, venho depois a verificar, da parte de muitos deles, um total e absoluto desleixo e desinteresse no cumprimento de tal compromisso. Incluídos muitos dos que assistem às reuniões de preparação.
Chegados depois à Pia Baptismal, e convidados os pais e os padrinhos a manifestarem a alegria da fé e a renúncia ao pecado, dizem todos a tudo que sim. E aqui vem a maior incongruência, de cortar o coração: pais e padrinhos que nunca põem os pés nas igrejas e só lá voltam quando os trouxerem numa urna ou num caixão, pais e padrinhos que vivem a vida inteira num contínuo afastamento da comunidade cristã e num total desleixo e desinteresse pela Eucaristia Dominical e pelos demais Sacramentos, pais e padrinhos que vivem em situação divergente e mesmo oposta às normas morais que o Evangelho ensina e a Igreja recomenda, dizem a tudo que sim: que crêem; que renunciam; que não querem nada com o demónio, nem com a mentira, nem com o pecado.
E toca a baptizar!
Mas se algum sacerdote, por imperativo dos cânones ou descargo de consciência, apresenta qualquer obstáculo ou manifesta qualquer dificuldade em baptizar uma criança, os pais recorrem ao bispo, ao papa se o bispo lhes não dá razão, e agora (está na moda…) até chamam a televisão e os jornais, para publicitar melhor o crime e amedrontar mais e melhor o “criminoso”!
Peço que os meus leitores me perdoem, mas não resisto a pôr aqui a expressão usada um dia por Cunhal: os sacerdotes são obrigados em alguns momentos a engolir mesmo “sapos vivos”.
Não é fácil. Mas, tal como as coisas estão, parece que nada mais há a fazer!
O Baptismo não é um rito mágico que tudo resolve e faz. Também não é um direito que todos temos, sem mais não. Também não é uma oportunidade para arranjar uns compadres simpáticos a quem devemos ou de quem esperamos favores. Também não é uma festa tradicional que se organiza para juntar a família e os amigos, num seleccionado restaurante, em data em que todos possam estar, mesmo que a criança tenha de esperar alguns anos, muitos. O Baptismo é um Dom de Deus e é uma dádiva da Igreja que nunca merecemos nem agradeceremos suficientemente, e é também um Compromisso de Vida com Jesus e com a Igreja, que se assume para sempre: os adultos, por si; os pais e os padrinhos pelas crianças.
Que Deus me perdoe, mas eu acho que a misericórdia divina não consegue cobrir tudo, e sobretudo estas nossas incoerências!
Nem sequer essa misericórdia toda que agora se proclama e oferece a rodos, mas que a maior parte dos cristãos não procura, não quer, não agradece, nem aceita.
Pe. J. Correia Duarte,
in Voz de Lamego

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