segunda-feira, 11 de março de 2013

A idolatria que ajuda a curtir a vida

Os fãs de Justin Bieber acampados desde sábado à porta
do Pavilhão Atlântico para o concerto

O Público online escreve o seguinte, caracterizando o que move os jovens para ver e ouvir o concerto do cantor do Canadá, Justin Bieber: «O Justin canta como ninguém. O Justin é lindo. O Justin é humilde. O Justin gosta de nós. O Justin é genuíno. O Justin é um exemplo. O Justin é diferente. O Justin é único. O Justin, o Justin, o Justin. “Vá lá, não é preciso explicar, é o Justin.” Nunca falaram com ele, e dificilmente terão essa oportunidade, mas sabem, ou acham que sabem, tudo sobre ele. Falam como se de um irmão, um amigo ou um namorado se tratasse, mesmo que “o Justin” nem os seus nomes saiba. Mas o que é que isso interessa? “É o Justin.” Sim, o Bieber. Motivo mais do que suficiente para acampar à porta do Pavilhão Atlântico, em Lisboa, e esperar pelo “melhor concerto do mundo”, que é já nesta segunda-feira». E há mais, «Poder-se-ia falar do frio, da chuva ou do vento. Do dinheiro que já gastaram para estarem ali ou dos dias que faltaram, ou vão faltar, à escola. Mas a verdade é que não há nada, mas mesmo nada, que arranque do Pavilhão Atlântico as dezenas de fãs que desde sábado de manhã estão acampadas à porta do recinto. A não ser, claro, que o Justin apareça num qualquer outro lugar».

No direto das redondezas do Pavilhão Atlântico, onde se vai realizar o concerto, um jovem dizia: «As músicas dele dizem-nos coisas que as pessoas que estão à nossa volta não nos conseguem dizer».
O que move estes jovens? Porque se sacrificam tanto, passando noites inteiras sem dormir, ao frio e à chuva para escutarem um cantor, que esperam que lhes diga algo que desejam ouvir, porque as pessoas que estão consigo todos os dias já não conseguem lhes dizer, só servirão então para lhes dar comida, casa, roupa lavada e dinheiro para andarem na vida que tanto gostam, sem diversão e mais diversão sem sentirem a responsabilidade de darem nenhum contributo para a família que os pariu e para a sociedade que os acolhe? – Inquietante e deve levar-nos a todos a tomarmos a reflexão sobre este assunto muito a sério…
Os pais dos jovens atuais estão mesmo de facto a dormir e não perecem despertar para este estado de coisas terrível que ameaça o futuro dos mais novos. Não é triste saber que 84% dos jovens consome drogas para se divertir? – Quais serão as diversões que nos querem falar? Ou ainda, onde está esse divertimento tão bom e tão elevado que necessita de intoxicação para acontecer? – Há nisto tudo algo que não bate certo ou então estamos todos fora do mundo e da realidade.
Há entre os nossos jovens um desencanto tal acerca da vida, que até mete dó. Não surpreende, que as noitadas constantes a embebedar-se, a drogar-se e a prostituir-se sejam regra semanal. A dimensão espiritual radica na idolatria de pessoas que se destacam em qualquer área da vida e não havendo pessoas pata tal fixa a escuta nas coisas e em formas banais de viver só porque sim, isso ajuda a «curtir». Eis então a crise a quanto obrigas...
As formas e as expressões que se utilizam para qualificar ou desqualificar a existência, são de uma barbaridade que até dói os nossos ouvidos quando as escutamos. O que conta para uma grande parte dos jovens, é única e exclusivamente «aproveitar a vida» ou «gozar a vida». Logo a seguir, com uma ingenuidade premeditada, atrevemo-nos a perguntar o que significa tal coisa. Respondem com o maior desassombro que quer dizer, saborear exaustivamente todos os prazeres que a vida tem. Isto é, comer, beber e fazer sexo.
Mas que mundo é este, que estamos a construir? – Os valores não têm lugar nenhum na reflexão que ainda tentamos fazer. Não há predisposição absolutamente nenhuma para discutir ou refletir sobre a dignidade, sobre o amor, sobre a paz ou sobre a harmonia das relações humanas.
Nunca como hoje se percebeu realmente como se tornou difícil comunicar o verdadeiro sentido da vida. Porque, até mesmo isso que noutros tempos seria elementar para a realização humana, hoje, tornou-se manifestação de «caretas» e teimosia de gente que é retrógrada.
A banalidade da vida é um sinal dos tempos que urge combater com todas as nossas energias. A distinção entre nascer, viver e morrer está cada vez mais ténue. Ou seja, são cada vez menos aqueles que distinguem as diversas etapas da vida como momentos essenciais para a felicidade. E a predisposição para aceitar aprender como se integram essas etapas na beleza que é viver, é também um horizonte cada vez mais distante.

Fonte: aqui

1 comentário:

  1. Excelente texto ! Retrata com argúcia o que se passa hoje no mundo dos jovens.
    Só gostaria de acrescentar que as sucessivas e desastradas reformas na Educação (?) que vêm ocorrendo nos últimos anos, têm também uma quota-parte enorme de responsabilidade nesta mentalidade do "dolce far niente" e do facilitismo, aliás incentivado pelos "doutrinadores" da educação...

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