sábado, 14 de março de 2020

À espera do Ressuscitado


A suspensão das missas comunitária por parte da Conferência Episcopal trouxe-me à mente a frase de Paul Claudel em O Anúncio a Maria: Para quê atormentar-nos se é tão fácil obedecer? Evidentemente que todo temos a nossa opinião sobre o assunto. E claro que todos temos liberdade de a dar. Mas pergunto-me: isso é útil? A verdade é que o Espírito Santo não escolheu bloggers católicos ou opinadores do Facebook para governar a Igreja. Escolheu os bispos.

Diante desta decisão, mais do que opiniões, parece-me que o mais útil é reflectir sobre este sacrifício a que o Senhor nos chama nesta Quaresma. Também a nós nos é pedido que nos retiremos do mundo durante um tempo. É evidente que não vamos para o deserto como Jesus. Hoje, mesmo fechados em casa, podemos estar em contacto com o resto do mundo. Para além disso temos o que comer e o que beber. Mas estes dias de recolhimento podem ser úteis para estar mais a sós com o Senhor.

Estes dias também são úteis para reavivar em nós a sede da Eucaristia. Falo por mim: a facilidade com que em Lisboa posso ir à missa leva-me tantas vezes a não lhe dar o devido valor. Quantas vezes trato a missa como uma maçada ou um inconveniente. Quantas vezes tento encaixar a missa entre os planos de Domingo. Quantas vezes chego a ter a ousadia de me chatear porque numa cidade onde há missa a quase todas as horas não haver nenhuma no horário que me era mais conveniente. Quando soube da decisão de suspender as missas públicas de repente senti-me privado de algo essencial na minha vida. E suponho que o tempo que levar até que volte a poder ir à Santa Missa só vai aumentar esse sentimento. Espero por isso que esta “ausência” sirva para cm crescer na consciência da graça que é poder is à missa e comungar o Corpo de Cristo.

Para além disso reparo que nestes dois dias desde que a decisão da CEP foi tomada começo a rezar mais e com mais intensidade. Como se a ausência da missa aumentasse em mim a urgência de estar com Deus. Aumentasse a minha dependência de Deus. Neste tempo de incerteza é bom reavivar esta consciência de que somos criatura de Deus, que dele estamos dependentes. Mas sobretudo, a consciência de que só Ele É.

Por fim penso que misericórdia que é para nós vivermos este sacrifício na Quaresma. Nesta Quaresma a espera pelo ressuscitado torna-se mais carnal. Também nós, como os apóstolos depois da crucifição, estamos fechados em casa com medo. Também para nós o Senhor está escondido. A suspensão das missas públicas é como a pedra à porta do sepulcro. E nós agora  iremos atravessar um logo Sábado Santo. Até ao dia em que está suspensão seja levantada. E aí poderemos correr à Eucaristia, como Pedro e João para o Sepulcro. Poderemos cair de joelhos como Tomé diante do Corpo de Cristo e exclamar “Meu Senhor e meu Deus”.

Em Deus querendo haveremos de voltar-nos a encontrar na Igreja. Voltaremos a adorar a Deus feito Carne num pedaço de Pão. Voltaremos a comungar o Sangue de Cristo. Que este tempo de espera aumente em nós o desejo pela Eucaristia e a consciência da Graça que Deus nos concede de cada vez que nela participamos. Sobretudo, não desesperemos. Como diz São Paulo:

Se Deus está por nós, quem pode estar contra nós? Ele, que nem sequer poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não havia de nos oferecer tudo juntamente com Ele?

Jesus Cristo, aquele que morreu, mas que ressuscitou, que está à direita de Deus é quem intercede por nós. Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? Em tudo isso somos vencedores, graças àquele que nos amou. Estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem o abismo, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus.
Fonte: aqui

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