Como a Igreja Paroquial está em obras, temos utilizado o Centro Paroquial para a celebração de Eucaristias.
A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) determinou a suspensão da celebração comunitária das Missas, até “ser superada atual situação de emergência”.
Em mais de seis décadas e tal de existência, nunca tinha passado por esta experiência. Desde pequenito que a Missa é para mim o coração do Domingo, a festa, o momento vital. Nunca a vi como um dever, uma obrigação, mas como necessidade vital.
Fazendo parte da assembleia celebrante, presidindo ou concelebrando, sempre vivi o domingo em comunidade, com a comunidade e para a comunidade.
Hoje foi uma experiência única. Fui para o Centro Paroquial bastante cedo, preparei tudo, fiz a oração de Laudes, pus uma música e passeei no salão. Apenas duas pessoas apareceram, mas dadas as respectivas explicações, agradeceram e, de imediato, regressaram a casa.
11 horas. Hora habitual da Missa do Dia, comecei a Eucaristia. Ao olhar para aquelas cadeiras vazias, um gelo percorreu-me a espinha e senti formigueiro na alma. Invadiu-me uma tristeza imensa.
De repente, comecei a ver todas as cadeiras ocupadas, todos os corredores ocupados. Tudo apinhado. Era gente de todo o lado. Tarouca, Castanheiro do Ouro, Ponte das Tábuas, Quintela, Vila Pouca, Gondomar, Arguedeira, Esporões, Valverde, Cravaz, Teixelo, Bustelo, Almofala… todos! Ia celebrar por todos, para todos, com todos. Ausentes fisicamente, unidos espiritualmente na comunhão da Igreja e na profissão da mesma fé. Então deixei de me sentir só e senti-me abraçado a todos nos braços abertos de Cristo. Foi isto que de coração disse ao Senhor no início da celebração.
Após as leituras, sentei-me e fiz a minha meditação. O cântaro vazio da Samaritana… os nossos cântaros vazios de esperança, de saúde, de paz, de fraternidade, de Deus…. O poço da ciência, do bem-estar, do consumismo, da indiferença, da fama… não preenchem a nossa sede, geram mais sedes. O coronavírus "apresenta-se como um sinal dos tempos de que o homem não é Deus de si próprio nem a ciência e a tecnologia encerram a última palavra de Esperança. Para nós esta circunstância pode ser vivida como uma séria interpelação ao primado de Deus nas nossas vidas e à importância da vivência fraterna do mandamento novo do amor". Só N'Ele encontramos a água viva que jorra para a vida eterna.
A Eucaristia seguiu normal e compassadamente.
No momento da Acção de Graças, louvei o Senhor, senti-me identificado com o brado de Cristo na cruz: "Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonaste?" e coloquei nas mãos do Pai:
- Todos os atingidos por este tremendo surto viral
- Os que já partiram
- O pessoal médico que luta denodadamente para ajudar os doentes
- Todos os voluntários e solidários
- Os cientistas e investigadores para que a luz do Espírito Santo os leve à descoberta da cura
- As autoridades para que ajam com sabedoria, decisão e oportunidade
- As pessoas que têm mais dificuldade em acolher e praticar as recomendações
- As famílias e pessoas em aflição, dor, abatimento, carências
- Cada um dos paroquianos e suas intenções
- O mundo inteiro, campo de Deus.
Arrumei tudo, fechei a porta e regressei. Mais pacificado interiormente. Deus é sempre fonte de paz, serenidade, esperança. Poder partilhar com Ele as preocupações do mundo, foi um dom do Seu amor.
Uma palavra de muito contentamento pelo comportamento dos paroquianos. Graças à acção de muita gente, foram muito poucos os que não sabiam da suspensão da Eucaristia. O acolhimento da decisão dos Bispos de Portugal foi aqui fantástico. Parabéns!
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