Pássaro Amarelo. O vazio que sente espicaça-lhe o desejo de voar, desafiando limites e contingências. O azul do céu desafia-o. Sente o gostoso stress da partida que lhe agita as asas em movimentos rápidos e tensos. O ímpeto de liberdade arrebata-o. O bando aparece-lhe como uma enorme prisão que o abocanha.
Encontrou no bando o Pássaro Negro, matreiro e engenhoso, com muita
experiência em voos arriscados e com imenso desejo de um companheiro para mais
uma aventura. Amarelo sentiu a ocasião como o momento. Embalado pela presença, jeito
envolvente do Negro e suas aventuras passadas, decidiu que partia mesmo, mais
nada o deteria.
Pássaro Verde, o bom conselheiro do bando, ainda tentou que o amigo não
se precipitasse. Aproximou-se, estendeu-lhe a asa em sinal de amizade e
murmurou-lhe:
- Amarelo, tens direito ao voo, ao desafio, ao teu caminho. Só te
pergunto se está na hora de deixares o bando. Tens o tempo todo à tua frente
para escolheres bem o momento. Não seria bom que enveredasses por uma viagem
sem retorno ou que a alegria da partida se tornasse nas lágrimas da volta.
Também a Pássara Augusta, a menina do Bando, conhecia muito bem
Amarelo, seus desvarios, devaneios, sonhos e projetos. Não quis ver partir o amigo, sem
oferecer a prova de amizade. Sussurrou-lhe:
- Olha, amigo Amarelo, sabes quanto te estimo, quanto torço pelo teu
sucesso.
Algumas experiências de voo arriscado que realizaste no passado, fizeram-te provar
o fel do fracasso. Por isso, proponho que vás com calma, a vida não se despeja
em cântaros apressados. Se o voo fracassa? Se a trovoada, a ventania, a
tempestade te atingem, magoam ou derrubam? E se o Negro te abandona ou te
despreza? E se numa aterragem qualquer ele, cansado da tua companhia, te troca
por outros pássaros também desejosos de aventura? E se te cansas da sua companhia? E se a alma se te esvazia?
Embriagado pela paixão da viagem, Amarelo apenas soltou uns secos pios:
- A vida é minha…. Faço dela o quer quiser… Ninguém tem nada com a
minha vida…Não me interessa nada o que pensam os outros pássaros… Vou ser feliz…
Estou todo nesta aventura…
Carinhosa e envolvente, a Pássara Augusta estendeu as asas, esticou o
bico e piou:
- Quero que saibas, amigo Amarelo, quando voltares ao bando, mesmo
ferido e abatido, eu estarei de asas estendidas para te acolher, indiferente ao
abandono com que os outros pássaros do
bando te possam receber.
Amadurecerás, Amarelo! Então poderás construir a tua felicidade. Começarás a ser livre...
Belíssima mensagem.
ResponderEliminarA vida é aventura.... sem aventureirices. Estas, por norma, transformam a Aventura em desventura.
Os casos são aos montes em todas as variantes da vida.
Obrigado pela mensagem.
Quim Fontes