As circunstâncias mudam. A evolução pessoal, social e de mentalidades também.
Nas décadas de 60/70, a situação económica, apesar de tudo, era muito diferente da atual. A pobreza de largas camadas populacionais, mormente no interior, era enorme. As pessoas emigravam para fugir à miséria, na expectativa de um futuro melhor para si e para os seus. A escolarização era então baixíssima, muitos não sabiam ou mal sabiam ler.
Ao emigrar, o português queria trabalhar e poupar o máximo, mesmo sujeitando-se a condições de vida muito sóbrias. A ideia era colocar em Portugal a maior quantidade de dinheiro possível, tendo em perspetiva, a médio ou longo prazo, contruir casa, comprar terrenos, aventura-se no negócio, adquirir/fundar a sua pequena empresa ou, tão somente, ter um fundo de maneio que lhe possibilitasse uma um viver tranquilo no futuro.
Nestas décadas, as remessas dos emigrantes foram fundamentais para as contas públicas do país.
Casas novas foram surgindo por todo o lado, os investimentos na educação dos familiares dos emigrantes eram um facto, terras foram adquiridas, negócios vários aconteceram, a mudança de mentalidades foi surgindo, a apoio ao desenvolvimento social, cultural e religioso das terras de origem foi notório.
Atualmente a emigração reveste-se de um cariz diferente.
Fruto da mudança cultural e social, as pessoas que emigram tentam viver nos países de acolhimento uma vida normal. Já não existe aquela ideia de poupar a todo o custo, sujeitando-se a condições rudimentares. Até porque esses países têm regras quanto à habitação, educação dos filhos, etc.
Ora se nos países de acolhimento se ganha mais do que aqui, também a vida é mais cara. Fazer nessas terras uma vida social normal tem os seus custos. Basta ver quanto custa nesses países uma cerveja ou um café...
Assim os investimentos em Portugal decaíram, as poupanças também, o apoio ao desenvolvimento cultural, social e religioso caiu imenso. Conheço mesmo casos em que os emigrantes, quando passam pela terra de origem, vêm à procura de ajuda de seus pais e familiares! Quando antigamente era exatamente ao contrário.
Também já ouvi da boca de emigrantes isto: "O que interessa é levar uma vida normal lá fora, mesmo que pouco ou nada poupemos. Quando regressarmos, com a reforma que trazemos, vivemos aqui muito bem."
Nesta perspetiva, muitos tendem a ficar no estrangeiro até à reforma, criando e educando lá os seus filhos que, maioritariamente, não regressarão a Portugal. É a 2ª geração de emigrantes. E quantos destes não contribuem claramente para o desenvolvimento dos países de acolhimento? No empresariado, no trabalho qualificado, na ciência, na investigação, na política, nas artes... Quanto devem esses países aos emigrantes! Não só em relação ao bom profissional da 1ª geração, como também às competências desenvolvidas pela 2ª e 3ª gerações.
Reformados, muitos regressam a Portugal para gozar a reforma. Mas como têm os filhos no estrangeiro, dividem o ano em temporadas, umas passadas cá, outras lá.
De 6 a 13 de agosto, decorre a Semana das Migrações, com o tema ‘Acolher o futuro - Novas gerações migrantes são o amanhã da humanidade’.
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