O bispo do Porto considera que a decisão do Governo
em fechar mais 311 escolas do primeiro ciclo no país
é uma solução baseada apenas na “tirania dos números”
e que revela a falta “de uma cultura de visão para o futuro”.
Em entrevista concedida hoje à Agência ECCLESIA, D. António Francisco dos Santos, responsável por uma das dioceses mais atingidas pela decisão do Ministério da Educação, sublinha que mais do que “medidas tomadas por inércia” é preciso encontrar soluções para “as causas” que estão por detrás do fecho destas escolas.
Entre elas, aponta o prelado, estão problemas como “a baixa da natalidade” e o “abandono das terras”, sobretudo no “interior” do país, devido à inexistência de “ideias criadoras de emprego”.
“Não há escolas porque não há crianças, mas isto acontece porque a montante não tem havido um projeto impulsionador de uma transformação do país que leve as pessoas a fixarem-se com motivações, com trabalho, com esperança, com sonhos”, com uma perspetiva de vida integrada “no todo nacional”, sustenta o bispo do Porto.
Para o antigo presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã, esta decisão vai reforçar a necessidade das populações em centrarem-se “nos grandes espaços demográficos das cidades”, deixando os restantes territórios cada vez mais “despovoados”.
Algo que é ainda mais difícil de entender porque surge “quase na eminência do novo ano letivo”, ou seja, muitas famílias “nem estão preparadas” para reorganizarem a sua vida.
Em causa está também a “liberdade” das comunidades e das famílias escolherem a solução mais conveniente para as suas crianças e jovens.
“Não pode ser só o Estado a decidir o encerramento das escolas sem ouvir inclusivamente as instituições locais, que podiam proporcionar respostas de escolas particulares que fossem ir ao encontro da realidade local”, sobretudo nas regiões do interior, “que são as mais desfavorecidas”, complementa D. António Francisco dos Santos.
A missiva do Governo dedicada ao “processo de reorganização da rede escolar para 2014/2015” refere que as crianças das 311 escolas em questão vão ser integradas em “centros escolares ou outros estabelecimentos de ensino com melhores condições”
O gabinete do ministro Nuno Crato frisa que na base desta estratégia estiveram, entre outros pontos, a intenção de “reduzir os riscos de abandono e insucesso escolares, mais elevados em escolas com menores recursos e alunos”.
Assegura ainda que durante o processo foram salvaguardadas “questões como a distância para a escola de destino e tempo de percurso, as condições da escola de acolhimento, o transporte e as refeições”.
“Nos casos em que não foi possível garantir essas condições, foram mantidas em funcionamento as escolas em causa com uma autorização excecional”, realça o comunicado do ME.
Na lista fornecida pelo Governo, os distritos de Viseu (57 escolas), de Aveiro (49) e do Porto (41) estão entre as regiões mais abrangidas pela reorganização da rede escolar nacional.
Fonte: aqui
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