- Já arranjei emprego! Começo a trabalhar em Setembro - assim me falava aquele amigo que mora numa grande cidade.
Só visto! Um sorriso de orelha a orelha, um ar feliz, um olhar vivo e intenso.
Trabalhara durante 35 anos, mas a Fábrica onde estivera nos últimos tempos fechou. Veio para a rua há um ano com mais uns tantos. Subsídio de desemprego e muitas angústias. Valeu a família que apoiou, incentivou, compreendeu.
Não parou. Bateu à porta dos centros de emprego e de amigos. Magoava-o aquela situação de desempregado. Sempre comera o pão com o suor do rosto e agora dependente do subsídio... Aquilo não era vida. Sentia-se bem a trabalhar, a dar o seu contributo para o progresso da sociedade, a realizar-se profissionalmente. Embora achasse que tendo 50 anos e 35 de de trabalho, o subsídio era mais do que justo, não era isso que o realizava e deixava feliz. Como cidadão, marido e pai de família queria mais... Não se mostrara sequer exigente com o tipo de trabalho, queria trabalhar.
Alguém que ouvira as suas palavras de contentamento, comentou:
- Eu não sei se procederia assim! 35 anos de trabalho é muita coisa... Eu, se fosse a ti, esgotava o direito ao subsídio e depois, lá mais para a frente, procurava emprego...
- Tás doido ou quê!? Que se lixe o subsídio! Eu quero é trabalhar, sentir-me gente, ser livre e não dependente, poder chegar ao fim do mês e sentir o meu ordenado, comer o pão que granjeei com o meu trabalho, poder dizer às filhas que têm que estudar porque o pai também trabalha.... Tu sabes o que isto quer dizer!?
O outro encolheu os ombros.
Fiquei feliz. O amigo encontrou emprego e está contentíssimo.
Fiquei feliz. O amigo tem estofo interior, grandeza moral, respeito por si e lutou pelo seu lugar à mesa da criação.
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