domingo, 15 de agosto de 2010

ANALFABETISMO RELIGIOSO

Mais uma vez vão abrir as nossas escolas: um novo ano de esforço para puxar para cima este país que nós somos, no conhecimento, na técnica, e sobretudo no no civismo, que bem é preciso. Segundo as estatísticas, no início do século passado, em cada cem pessoas que residiam nesta região, oitenta não sabiam ler nem escrever. Eram analfabetas.
Cem anos depois, com o esforço dos governos e das câmaras, já são poucos os que não sabem ao menos ler e assinar. E esses poucos — quase só aqueles que cresceram no passado e hoje são mais idosos.
Pese embora o desinteresse da maior parte dos alunos (que hoje não têm grandes objectivos), mau grado o abandono escolar por parte de muitos jovens, a meio dos cursos (por não verem perspectivas que justifiquem o empenho e o esforço que se lhes exige), sem falarmos dos problemas de “iletracia” (muita gente doutorada lê mal e escreve pior), a verdade é que os valores das estatísticas “viraram” ao contrário. A percentagem de analfabetos entre nós, é cada vez menos significativa.
Hoje, o analfabetismo é outro.
Excluída uma pequena percentagem de famílias, onde se reza e onde se fala de Deus, ficam todas as outras onde Deus é simplesmente um desconhecido e um ignorado: algo sem interesse ou apenas com interesse para as horas de aflição e de aperto.
Há anos atrás, as catequeses nas igrejas e nas paróquias, eram “rudimentares”. Apenas se ensinavam umas fórmulas e umas orações. Não era preciso muito mais porque, nas casas e nas famílias, respirava-se a Fé e bebia-se o Amor. Os mais “letrados” liam a Sagrada Bíblia em voz alta e todos os que estavam em casa aprendiam-na e meditavam-na como Palavra de Deus.
Ao contrário, quantos são hoje os pais que falam de Deus aos seus filhos? Quantos são os pais que se preocupam hoje com a educação da Fé das suas crianças e dos seus jovens? Quantos são os pais que ensinam os seus filhos a rezar? Quantos são os pais que acompanham os seus filhos às igrejas para com eles escutarem a Palavra de Deus, ao menos ao Domingo? Há quem faça isso, certamente... mas, que percentagem?
Se estivermos atentos, verificamos que a grande maioria dos nossos cristãos, religiosamente, não passam de analfabetos. Não sabem nada de Deus, nem da Fé, nem da Religião. Gostava que um jornalista viesse por aí, um dia destes, de casa em casa, e perguntasse a todas as pessoas “cristãs” das nossas terras os “Mandamentos de Deus”, os “Preceitos da Santa Mãe Igreja” e “As Obras de Misericórdia”. Podia também perguntar, se achasse bem, quem foi o “pai” de Jesus Cristo, quem é o Espírito Santo, e o que é ser Cristão e quais são os seus deveres fundamentais.
O que está a passar-se entre nós, nos meios rurais, é uma vergonha. Uma boa parte dos pais só mandam os filhos à catequese para poderem “fazer a Comunhão” com festa, com luxo e com grandezas... No Domingo seguinte, tudo acabou! Já não sabem mais o caminho para a igreja... nem eles nem os filhos. Muitas crianças que vão à catequese, não vão à Santa Missa, porque os pais, nem os mandam nem vão com elas. Ao mandá-los à catequese, o que pretendem é apenas e tão só que “façam as Comunhões”. Nas férias da catequese, a maior parte das crianças não põe os pés na igreja. Fazem o que os pais fazem.
E nós, os párocos, que devíamos exigir a quem “faz as Comunhões” que antes tivesse dado provas suficientes de vir depois a viver como bom cristão, não exigimos. E nós, os párocos, que não devíamos baptizar as crianças dos pais que não nos dão garantias seguras de educar os seus filhos na Fé e na Vida Cristã (e não as dão de modo nenhum os ditos católicos “não praticantes”), baptizamo-las. E nós, os párocos, que não devíamos aceitar como padrinhos de Baptismo aqueles que não frequentam os sacramentos e não vivem como cristãos, aceitamo-los. Ou seja, embarcamos nesta onda de hipocrisia e fingimento que é a vida cristã de muitos dos nossos católicos.
Quando deixaremos nós de suportar ou alimentar este “cristianismo de massas” ou este “catolicismo de maiorias” sociológicas, mas desconhecedor do Evangelho e descomprometido com o mínimo essencial da Vida Cristã?
A verdade é que não temos força para tanto…. sozinhos! Se algum sacerdote se atrevesse a fazê-lo, era de certeza queimado vivo na praça pública!
No meio disto tudo, que andamos nós a fazer? A fingir... de crentes e de cristãos. Nada mais. No baptismo dos filhos, pais e padrinhos comprometeram-se a educar na Fé e na Vida Cristã a criança. E depois?
Grande parte dos pais e dos padrinhos, ou não sabem o que responderam lá, ou não são sérios com Deus, com a Igreja e consigo próprios. A sua Fé, a sua Religião e a sua Vida Cristã, resume-se a umas tantas festas com vaidades e banquetes e umas idas a Fátima, em “excursão."
Alguns já não baptizam os filhos, e, se calhar, estão a ser mais coerentes do que muitos que os baptizam. Se a Vida Cristã (com Missa, Oração e Sacramentos) que se inicia no Baptismo, não serve para eles que não lhe ligam nenhuma... como vão impô-la aos seus filhos? Para viverem como eles (baptizados na Igreja e afastados d’Ela), realmente não vale a pena!
Por este andar, pese embora o esforço ingente que a Igreja tem vindo a fazer na catequese, com o desleixo e desinteresse de tantos pais, a transigência da Igreja com estas celebrações de sacramentos ocasionais e sem compromisso, e a influência nefasta de uma sociedade materialista e ateia, daqui a pouco, as pessoas serão tão ignorantes nas coisas de Deus e da Fé, que, como diz a Escritura, já não saberão mais “distinguir a mão direita da mão esquerda”. Mesmo alguns que tiveram pais sérios, cuidadosos e exemplares! Quanto mais os outros!
Uma tristeza dolorosa! Uma regressão arriscada! Um enorme empobrecimento moral e cívico para a uma sociedade que se diz evoluída, mas se degrada cada dia mais.
Dirão que sou pessimista. Acharão que só realço o negativo. Se assim for, peço desculpa. Convenço-me porém que é esta a realidade: tanto nas nossas aldeias como nas nossas cidades. Não querendo certamente que se apague a “torcida que ainda fumega”, acho contudo que se deve fazer alguma coisa para mudar esta situação, com seriedade.., com urgência... e com coragem!
Correia Duarte

1 comentário:

  1. penso que o vídeo que está na notícia do Link também ajudará a responder a algumas questões levantadas no texto do Sr. P.e Joaquim Correia Duarte.
    http://www.ionline.pt/conteudo/74062-padre-skater-espalhar-palavra-rodas---video

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