terça-feira, 27 de junho de 2017

Ele há coisas...

Há tempos precisei de utilizar o transporte público. Foi uma viagem de 5 horas e uns trocos.
Havia um leve e indefinido murmúrio no autocarro, pois aqui e ali as pessoas iam conversando. Ao pé de mim, não ia ninguém; mas do outro lado, duas senhoras, já entradotas, conversavam animadamente. Voei para os meus pensamentos, interrompendo-os aqui e ali em virtude de algo que me ia chamando a atenção na paisagem.
Mas numa viagem tão longa, também os pensamentos cansam. Foi num desses instantes de quietude interior que me entrou pelos ouvidos dentro a frase: "Não aguentava mais os roncos dele!" - dizia uma das senhoras para a outra.
Prestei alguma atenção para perceber o contexto.
A senhora falava do seu divórcio em tom altamente acusatório para com o ex-marido. Ela era pura e simplesmente a vítima.
- Foram muitos anos de martírio - dizia. - Nem dormir conseguia, pois ele roncava toda a noite. E ai de mim que o acordasse! Ficava possesso...
- Ai ele ressonava? - pergunta a outra.
- E de que maneiraaaa!- responde enfaticamente a queixosa. - E o problema não era só esse. É que ele ressonava por cima e por baixo. Ficava um cheiro insuportável! Oh! Quantas vezes tive que me levantar devagarinho para ir para o sofá da sala para poder descansar...
Não aguentei mais, não aguentei mais... Foram muitos anos de sufoco.
Desliguei e voltei aos meus pensamentos, agora na direção da conversa escutada.
Os motivos apresentados para o divórcio são muitos e variados. Nem sempre os apresentados correspondem fielmente aos reais.
- Deixei de o (a) amar
- Havia outra (o) a estragar a relação
- Ele (ela) era desconfiado (a) compulsivo (a)
- A vida em comum tornou-se insuportavelmente monótona
- Ele (ela) era agressivo (a)
- Ele (a) era gastador (a) e egoísta
- Discordâncias graves quanto à educação dos filhos
- Sentimento abocanhante de posse
- Dificuldades económicas
- Ele (ela) descarrega toda a educação dos filhos sobre as minhas costas
- A família dele (dela) são-me insuportáveis
- Ele (ela) é um egocêntrico (a) incorrigível e só pensa nele (nela)
- É um (uma) borguista e nunca para em casa
- Só vive para o trabalho e desliga da família
- Falta de carinho, de atenção, de pequenos gestos
- Etc

E os problemas "debaixo dos lençóis"?
Esses raramente se abordam  ou explicitam.
Uma vida sexual, envolta em carinho e doação, é fundamental para o bom funcionamento da vida conjugal. É porto seguro, é alento de corpo e de alma, é envolvimento, é satisfação, é superação, é encantamento. Quanto precisam os casais de investir neste aspecto!
Se a vida íntima do casal funcionar bem e em crescendo, será que os outros problemas atingem a relevância que por vezes aparentam?


As minhas vizinhas de viagem não deambularam por este tema, pelo menos que  me tivesse apercebido. Ficaram por outros (também debaixo dos lençóis). Certamente importantes.


A vida em casal não é propriamente fácil, mas bela e desafiante, onde o que há a conquistar é sempre mais do que o que foi conquistado.
Não é o casamento uma aventura a dois?
Mais bela e realizante se o casal aceitar que Deus caminhe com eles.

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