segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

POBRES, SEMPRE OS TEREMOS. MAS NÃO PODEMOS FAZER MAIS POR ELES?

«Perdi o que guardei, mas tenho o que dei».
São Ricardo de Chichester
1. Ano após ano, a pobreza persiste e — em circunstâncias como as que vivemos — até dá sinais de crescer.
Sucede que, enquanto muitos penam e sofrem, o mundo analisa o problema e vai diferindo a sua resolução.
2. Infelizmente, Portugal não é excepção a este fenómeno que — à guisa de tumor — se «metastiza» pela humanidade.
O nosso país persiste inclusive em ser um dos mais desiguais. Estudos recentes referem que 5% dos cidadãos acumula 42% da riqueza.
3. Acresce que nos acomodamos a um fenómeno que nos devia ruborizar de vergonha.
Até porque meios não faltam para o combater e superar. O que parece é faltar vontade efectiva de os aplicar devidamente.
4. É certo que o próprio Jesus asserou que «pobres, sempre os teremos» (Mt 26, 11).
Mas jamais insinuou que não fizéssemos nada por eles. Pelo contrário, foi ao ponto de assumir que tudo o que for feito aos mais pequenos é como se fosse feito a Ele mesmo (cf. Mt 25, 40).
5. E o certo é que os primeiros cristãos não permitiam que alguém passasse necessidade. Quem dispunha de bens repartia-os com aqueles que pouco — ou nada — tinham (cf. Act 4, 34).
Neste tempo de distopias em catadupa, facilmente catalogaremos este procedimento como utopia impraticável.
6. Dado que o mundo se tornou uma plutocracia — em que as pessoas ricas e nas nações ricas decidem tudo —, dificilmente os pobres acederão a mais do que (encolhidas) sobras.
Em alguns casos, pouco faltará para que se materialize o (sarcástico) presságio vertido num cartaz, algures no Brasil: «Haverá um dia em que os pobres só terão os ricos para comer».
7. Para que a voz do desespero não colha eco, é urgente que algumas assimetrias sejam corrigidas. E que a circulação de rendimentos não «estacione» sempre nos mesmos.
No fundo, trata-se de combinar — como propugna a Doutrina Social da Igreja — a propriedade privada com o destino universal dos bens. Cada um tem direito a possuir. Mas não pode haver qualquer «cesura» entre tal direito a possuir e o dever de repartir.
8. É sabido que a igualdade — postulada como um valor — acaba por se tornar uma impossibilidade.
As diferenças tornam-se inevitáveis e nem sequer contendem com a justiça. Tratar diferentemente o que é diferente é tão justo como avaliar igualmente o que se afigura igual.
9. O problema surge quando as diferenças se transformam em disparidades insuportáveis.
Mudam os ciclos políticos, alteram-se os fluxos económicos, mas o cenário de fundo mantém-se praticamente inalterável.
10. Uma minoria da população concentra uma significativa maioria de recursos.
Até quando? Também está nas nossas mãos inverter este (des)caminho!
João António Teixeira

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