quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017
Onde acaba a persistência e começa a teimosia...
Terminado o curso superior, João, Engenheiro Agrónomo, emigrou, uma vez que as possibilidades de trabalho, na sua área especifica, eram reduzidas por cá. No estrangeiro desenvolveu o seu trabalho numa empresa agrícola.
Anos mais tarde, herdou de sua tia-madrinha uma propriedade com muitos hectares. Regressou. Trazia na cabeça a ideia de modernizar a quinta que era gerida em modo tradicional. Monocultura era o objetivo.
Importaria do estrangeiro aquela qualidade de semente, deitaria os muros abaixo para possibilitar o trânsito da maquinaria agrícola, faria a rega das plantas em termos modernos.
Tinha da propriedade uma visão muito superficial, mas isso não o preocupava, o que interessava era o que queria fazer.
Mandara fazer uma análise climática e do terreno para ver se aquele tipo de planta era o indicado? Não.
Preocupou-se em estudar se havia água suficiente para a irrigação do terreno? Não.
Conversou com os trabalhadores e certificou-se se estavam preparados para a utilização da maquinaria agrícola que queria introduzir? Não.
Mas nestas coisas aparecem os "lambe-botas", os que só pensam em agradar ao patrão para subirem na vida. E foi assim que um dos trabalhadores se foi oferecer ao Engenheiro para tirar os cursos necessários para lidar com a nova maquinaria.
Esteve atento o patrão e viu se esse trabalhador tinha as capacidades para tal função? Verificou a sua ralação com os colegas? Não. Para ele o importante era ter alguém que exercesse esse trabalho.
Entretanto o Eng. Agrónomo foi aparecendo pela cidade vizinha e, como quem vem de fora "é sempre o melhor", logo foi assediado para presidir ao clube de futebol e para chefiar a união dos agricultores locais. Aceitou. O tempo para a quinta era escasso, aparecendo só quando não podia faltar.
Depois foi o que se viu...
A ausência de muros nos campos expôs os terrenos à erosão e à inclemência do inverno. A escassez de água suficiente para a monocultura impossibilitou que as plantas crescessem e frutificassem devidamente. Aquela espécie de planta não era a indicada para aquele terreno e para aquele clima, pelo que o seu desenvolvimento deixava imenso a desejar. A falta de capacidade do homem da maquinaria´era gritante, os trabalhos não andavam ao ritmo certo, as avarias técnicas sucediam-se sem ele nunca assumir responsabilidades, antes atribuindo-as habilmente aos restantes trabalhadores, gerando assim um ambiente de desconfiança que se refletia no individualismo e na ausência de espírito de colaboração entre todos.
No fim do ano, os resultados foram calamitosos. Face à situação, que fez o patrão? Analisou profundamente? Não. Ele sentia-se o homem mais certo do mundo. Se as coisas não correram bem, a culpa era dos trabalhadores. Conversou, ouviu, dialogou com os seus colaboradores? Não. Detestava que o chamassem à atenção ou que discordassem dele. No seu entender, não passavam de um bando de incompetentes.
Fez-lhes umas chamadas de atenção, mas insistiu nos mesmos objetivos e nas mesmas estratégias.
Os resultados dos anos seguintes foram ainda piores. O ambiente entre os trabalhadores/colaboradores era agora de indiferença. "Se ele quer assim, ele é que é o patrão!.. Resta-nos ir fazendo o nosso trabalhinho sem ondas."
No momento em que a escriturária daquela empresa agrícola foi apresentar as despedidas ao patrão, pois chegara a hora da sua desejada reforma, a senhora encheu-se de coragem e ousou pela primeira vez enfrentar o Engenheiro Agrónomo João:
- Olhe senhor Engenheiro, admirei-lhe a persistência numa primeira fase, mas depois passei a detestar a sua teimosia! E repare que teimosia pode significar falta de inteligência e ausência de humildade perante a vida!
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Quem será o visado(s)? Cheira-me a recado para alguém...
ResponderEliminarCumprimentos.
Boa noite, caro(a) visitante.
ResponderEliminarNão, ÑÃO é recado nenhum para alguém em concreto.
É apenas uma humilde reflexão sobre a sociedade em geral, colocando num único texto uma variedade enorme de situações que vemos, ouvimos e lemos.
Com os melhores cumprimentos,
Asas da Montanha