sábado, 16 de julho de 2011
Sobre a ordenação de mulheres
Nas últimas duas semanas, a ordenação de mulheres alcançou grande relevo nos media. Por causa de declarações inesperadas do cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo. Numa entrevista publicada no Boletim da Ordem dos Advogados declarara que "teologicamente não há nenhum obstáculo fundamental" à ordenação de mulheres. A recusa está baseada apenas na tradição.
A declaração teve eco em importantes órgãos de informação estrangeiros. Tanto mais quanto aparecia pouco tempo depois de um bispo australiano ter sido demitido devido à mesma abordagem do tema, e o vaticanista Andrea Tornelli fez notar que a declaração ia contra a doutrina afirmada por João Paulo II e Bento XVI.
Como seria de prever, choveram os protestos, provindos, segundo se diz, sobretudo do Opus Dei e do próprio Vaticano. As reacções, algumas de "indignação", obrigaram o patriarca a um esclarecimento, recuando. Nele, confessa a necessidade de "olhar para o tema com mais cuidado", acrescentando: "Verifiquei que, sobretudo por não ter tido na devida conta as últimas declarações do Magistério sobre o tema, dei azo a essas reacções." E reproduz a carta Ordinatio Sacerdotalis, de João Paulo II: "Declaro que a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja."
Quando se pensa, vê-se aqui a tipificação do que é na Igreja o respeito pelo direito de opinião e expressão. Depois, não se atende à vontade de tantos bispos a quem não só não repugnaria como até gostariam de ordenar mulheres. Ficou famosa a afirmação de D. Eurico Nogueira, então arcebispo de Braga: "Gostava de ver uma mulher no meu lugar."
As mulheres têm motivos para estar zangadas com a Igreja, que as discrimina. Jesus, porém, não só não as discriminou como foi um autêntico revolucionário na sua dignificação, até ao escândalo: veja-se a estranheza dos discípulos ao encontrar Jesus com a samaritana, que tudo tinha contra si: mulher, estrangeira, herética, com o sexto marido. Condenou a desigualdade de tratamento de homens e mulheres quanto ao divórcio. Fez-se acompanhar - coisa inédita na época - por discípulos e discípulas. Acabou com o tabu da impureza ritual. Estabeleceu relações de verdadeira amizade com algumas. Maria Madalena constitui um caso especial nesta amizade: ela acompanhou-o desde o início até à morte e foi ela que primeiro teve a intuição e convicção de fé de que Jesus crucificado não fora entregue à morte, pois é o Vivente em Deus.
Santo Agostinho, apesar da sua misogenia, declarou-a apóstola dos apóstolos, devido ao seu papel fundamental na convocação dos outros discípulos para a fé na Ressurreição. Aliás, já São Paulo na Carta ao Romanos pede que saúdem Júnia, "apóstola exímia".
Evidentemente, os opositores vêm sempre com aquela dos Doze Apóstolos, entre os quais não consta nenhuma mulher. Esquecem que na instituição dos Doze se trata de uma acção simbólica, para indicar que começava o novo povo de Deus. Como as mulheres e as crianças na altura não contavam, o símbolo perderia a sua eficácia, se se falasse também de mulheres entre os Doze.
E também se diz que na Última Ceia não houve mulheres. Ora, esta afirmação é contestada por grandes exegetas. Depois, o famoso biblista Herbert Haag, da Universidade de Tubinga, com quem tive o privilégio de privar, ironizou: como eram só judeus os presentes, então a Igreja só devia ordenar homens judeus.
Sobretudo: é sabido que as primeiras comunidades cristãs se reuniam na casa de cristãos mais abastados, e quem presidia era o dono ou a dona da casa. Então, se já foi possível mulheres presidirem à Eucaristia...
A questão tem, pois, de ser revista. Para não ferir este princípio fundamental do Concílio Vaticano II: "Toda a forma de discriminação nos direitos fundamentais da pessoa por razão de sexo deve ser vencida e eliminada, por ser contrária ao plano divino."
Anselmo Borges, aqui
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Todas as instituições deveriam, estar abertas ao diálogo e fazer grandes reflexões, sobre as suas formas de actuação na sociedade. Muitas vezes se verifica que estão erradas (não podemos esqueçer a época da inquisição, que nada abona a favor da igreja), por viverem demasiado agarradas a fundamentalismos, em que o homem só vê uma coisa; A supremacia.... Mudar não significa que seja para pior, apenas estar de acordo com outras vivências e formas de mudança da própria sociedade. Os mesmos valores se podem incutir ao utilizar formas de expressão, onde cada um de nós tem o seu lugar. Se aos olhos de Deus somos todos iguais, porquê a igreja discrimina tanto as mulheres. Talvez seja hora da igreja refletir que realmente está errada em certos conceitos ideológicos. Cada ser humano nasce com vocação para algo em especial, e assim deveria ser. Muitos padres são-no porque a familia lhe impôs essa profissão. Muitos vão para medicina porque é profissão de rico, (por isso os paizinhos pagam colégios particulares para terem altas notas sabe deus a que preço a maioria das vezes sem terem vocação para tal. Acabam por tirar a oportunidade daqueles que até tinham vocação para exercer, etc...O mesmo sucede com as mulheres, senão veja-se o caso da religiosa Madre Teresa De Calcutá,que dedicou a sua vida a grandes causas em prol dos necessitados.A igreja só teria a ganhar com a entrada de mulheres pela sua intuição, devoção, sensibilidade e generosidade.
ResponderEliminar"O importante não é o que se dá, mas o amor com que se dá.
(Madre Teresa De calcutá)
"O que acham de as mulheres poderem ser ordenadas?" Foi a questão que provocadoramente o professor de teologia do laicado lançou. E claro, a primeira resposta tinha logo de me ser pedida. A opinião que tenho é a mesma, embora tenha refletido depois sobre o assunto! Comecei por enunciar os vários argumentos que se escutam por aí, mas penso que nenhum é válido para refutar o que quer que seja, afinal tudo é relativo. E assim é! Não vejo com entusiasmo a ordenação das mulheres!!! E não me sinto discriminada por isso! Dei comigo a concluir que é uma mera questão pessoal, sem aludir a tradições ou conservadorismos, etc., etc. E também não vou enunciar argumentos que baseiam a questão pessoal, daria uma longa e boa conversa! Mas que, se algum dia a Igreja o permitir, vou procurar, por exemplo, missas celebradas por sacerdotes, isso vou! E depois então, falaremos (ferozmente) de outras questões como, a título de exemplo, os sacerdotes poderem contrair matrimónio! É porque a discriminação não se verifica tão somente no que ao género diz respeito.
ResponderEliminarAbraço, Pe. Carlos
Concordo com a opinião expressa por "Ab imo corde".
ResponderEliminarMuito simplesmente, sem aprofundar o assunto, que nos levaria decerto muito longe, parece-me que a ordenação das mulheres traria problemas inimagináveis à Igreja... Basta pensar um bocadinho...
Creio que D. Januário lançou uma opinião pouco fundamentada... (só porque está na moda...?). Aliás, D. José Policarpo incorreu na mesma ligeireza...
Muitos católicos sabem (e reprovam) como alguns Ordinários de Portugal desobedecem às orientações do Vaticano...
Jesus Cristo escolheu 12 homens para estarem mais perto de si - a eles, a esses homens (não às mulheres que também O seguiam...), lhes deu o poder de ligar e desligar da terra para o Céu...
Tal como disse será hora da igreja mudar. Longe vai o tempo em que a mulher era considerada inferior,como tal discriminada (ainda existe esse conceito em algumas tribos). Se a sociedade mudou e continua a mudar em todos os niveis...Já se provou que a mulher tem a mesma capacidade que o homem de lidar com toda e qualquer situação. Simplesmente não faz sentido fechar o sacerdócio ás mulheres que desejem e tenham essa vocação.
ResponderEliminarFelizes OS ILUMINADOS, tal como aqueles que têm o dom da fazer a mudança.
Em relação aos 12 apóstolos, acho que nem sequer é por aí. Além de que há quem acredite que Maria Madalena era um deles....
Muito se tem investigado, sobre a veracidade de alguns evangelhos... que foram modificados de acordo com os dogmas reinantes da época...
Hoje há muita informação que nos deixa inquietos e ao mesmo tempo nos levam a duvidar...Aos lideres religuiosos cabe estudar formas de adaptar, (seja com homens ou mulheres) a igreja ao ritmo da evolução da sociedade. Pois caso contrário irá sofrer grandes perdas dos cristãos, que se afastam da caminho religioso devido ao fundamentalismo que também esta reinando no sei da igreja.A igreja é local de culto, onde se venera Deus, mas as suas leis e regras foram criadas pelo homem. SE está provado que muitas delas deveriam ser mudadas de que estão á espera...