Muitos idosos portugueses são maltratados. Isto é o que se depreende de um Estudo da Organização Mundial de Saúde.
Dos 53 países europeus analisados pelo relatório, Portugal surge entre os cinco piores no tratamento aos mais velhos, juntamente com a Sérvia, Áustria, Israel e República da Macedónia.
Por dia, quatro milhões de idosos são vítimas de humilhações físicas e psicológicas na Europa. A directora da OMS para a Europa, Zsuzsanna Jakab, considera a situação "muito grave". No caso específico de Portugal, este é considerado um "problema sério".
"As pessoas não têm vergonha de discriminar os idosos, ao contrário do que acontece com a discriminação por razões étnicas ou de género", considerou uma especialista na matéria, Sibila Marques, que em Maio publicou o ensaio "Discriminação na Terceira Idade", da Fundação Francisco Manuel dos Santos. "São os próprios idosos a acreditar na sua falta de valor", disse a investigadora do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, aquando do lançamento da obra.
Segundo o Relatório de Prevenção contra os Maus Tratos a Idosos, da Organização Mundial de Saúde, o país tem 39,4 por cento de idosos vítimas de abusos. Os dados mostram ainda que 32,9 por cento são vítimas de abusos psicológicos, 16,5 por cento de extorsão, 12,8 por cento de violação dos seus direitos, 9,9 por cento de negligência, 3,6 por cento de abusos sexuais e 2,8 por cento de abusos físicos.
É uma vergonha o que se passa. Ainda por cima num país dito cristão.
O grande escritor romano Virgílio relata na Eneida um episódio digno de reflexão. Aquando da destruição de Tróia, Anquises, pai de Eneias, tinha já uma idade avançada e mal podia andar. Por esse motivo pediu ao filho que se fosse embora da cidade mas que o deixasse ali, pois não queria ser estorvo para a salvação do filho. E Eneias respondeu-lhe que nunca mais poderia viver em paz com a sua consciência se abandonasse o pai. E não esteve com mais: carregou aos ombros o seu pai e pegou pela mão o seu filho Iulo, até que os três ficaram a salvo.
Maltratar uma criança ou um idoso – e sobretudo um pai ou uma mãe – é uma desonra que a todos nos deveria envergonhar. E a sociedade tem de recriminar tais atitudes.
In O Amigo do Povo
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