Vamos, por momentos, fazer um pequeno exercício de imaginação. Como seria um Sínodo que desse efectiva voz aos jovens e que respondesse, de modo claro e com linguagem acessível, às suas inquietações? Uma imaginação na senda do grande Cardeal Henry Newman: não a fantasia de um mundo paralelo – quase como se de uma utopia se tratasse – mas a faculdade do possível, do real, que atinge o coração e torna a fé “real”.
Tomás Virtuoso, um dos 300 jovens presentes na reunião pré-sinodal, já havia dito que era “importante não infantilizar os jovens” e que “se há um erro que este Sínodo pode cometer é institucionalizar ou teorizar demasiado”. Disse ainda que a primeira parte do documento conclusivo dessa reunião era representativa do sentir dos jovens, ou seja, a necessidade de abordar questões como o sentido da vida, a pertença à comunidade cristã, o trabalho, a família, a educação, o lugar da mulher na Igreja e na sociedade, a descoberta da sexualidade, a justiça social e ainda a tecnologia. Foram apontados também os temas mais controversos e à espera de uma resposta concreta: contracepção, aborto, homossexualidade, convivência, matrimónio e sacerdócio.
1. Perguntas sem respostas
É verdade que, na globalidade, estes temas foram tratados pelos padres sinodais. Mas é também verdade que, quando analisamos a votação do documento final, os mais controversos foram precisamente os que mais pareceres negativos obtiveram. Falo de pontos como “as perguntas dos jovens” (43 votos contra), “as mulheres na Igreja” (38 votos), a “condição dos solteiros” (29 votos), a “sexualidade” (65 votos) ou ainda a “formação da consciência” (36 votos). Qual a razão? Dito de um modo simples, os jovens não tiveram respostas para as suas perguntas.
Vejam-se dois casos. O primeiro relativo ao corpo, afectividade e sexualidade. A resposta dos padres sinodais foi, literalmente, que são questões que “têm necessidade uma elaboração antropológica, teológica e pastoral mais aprofundada”. Depois socorreram-se da Congregação para a Doutrina da Fé para reafirmar a diferença e a reciprocidade entre o homem e a mulher. Outra questão fundamental: a vocação. Ao matrimónio é apenas dedicado um parágrafo, não obstante ser a vocação preferencial dos jovens, e sugere-se “acompanhar os casais num caminho de preparação ao matrimónio”. Mas como acompanhar, quais os caminhos?
No segundo caso, relativo às pessoas homossexuais, os padres sinodais congratularam-se com alguns caminhos de acompanhamento na fé existentes nalgumas comunidades cristãs… sem nunca mencionarem quais as comunidades ou quais os caminhos. Fica-se, por conseguinte, numa nublosa sobre temas considerados essenciais pelos jovens. Perguntas sem respostas.
2. Respostas pouco sinodais
A palavra “sínodo” significa, como sabemos, “caminhar juntos”. Foi também esse o desejo expresso pelos jovens. Um caminho conjunto onde o “jovem é protagonista e tem voz”. No horizonte da imaginação, e colocando de lado o facto de se tratar de um sínodo dos bispos, não seria mais evangélico promover um efectivo diálogo com os representantes dos jovens no decurso dos trabalhos? Parece ainda subsistir um modelo eclesial onde é reconhecido aos pastores, em exclusivo, o munus de ensinar. Na verdade, tanto leigos como clérigos, em virtude do baptismo, governam, santificam e ensinam.
Talvez por esta razão, os pontos relativos à forma sinodal da Igreja tenham sido igualmente rejeitados por um número considerável de participantes. Não é possível sublinhar a urgência da corresponsabilidade na missão, assim como a importância da “forma sinodal de Igreja” e, ao mesmo tempo, relegar os jovens para uma condição de ouvintes. Precisamente aquilo pelo qual o Papa Francisco veio depois retratar-se: “desculpai se vos enchemos os ouvidos”. Poder-se-ia dizer “mas então os jovens não foram ouvidos através dos inquéritos e reuniões pré-sinodais?”. Sim e não. Sim, foram ouvidos, tal como o foram os bispos, clérigos e consagrados. Não… porque essa consulta deveria ser apenas um ponto de partida para um diálogo e não a meta do caminho.
Chegados ao final do Sínodo, fica-se com a sensação de um documento que deixa muitas respostas em suspenso, à espera de reflexões posteriores, e com uma forte carga doutrinal. Princípios fundamentais como a identidade missionária da Igreja, o discipulado, a liturgia e a apresentação de Jesus ou Maria como modelos não oferecem qualquer resistência aos jovens. Sobre os princípios estamos todos de acordo. Problema maior é saber como traduzir esses princípios ou valores para a vida concreta. Seria isso o que se esperava deste Sínodo. Infelizmente não aconteceu.
Curiosamente, os jovens, sempre fiéis a si mesmos, foram capazes de imaginar um sínodo diferente, um sínodo onde haveria espaço para a sua voz, onde as suas perguntas seriam respondidas e enfrentadas sem medo, onde não não fosse mera repetição da clássica doutrina da Igreja. Mas os padres sinodais não foram, talvez, capazes de acompanhar este sonho.
Tomás Virtuoso, um dos 300 jovens presentes na reunião pré-sinodal, já havia dito que era “importante não infantilizar os jovens” e que “se há um erro que este Sínodo pode cometer é institucionalizar ou teorizar demasiado”. Disse ainda que a primeira parte do documento conclusivo dessa reunião era representativa do sentir dos jovens, ou seja, a necessidade de abordar questões como o sentido da vida, a pertença à comunidade cristã, o trabalho, a família, a educação, o lugar da mulher na Igreja e na sociedade, a descoberta da sexualidade, a justiça social e ainda a tecnologia. Foram apontados também os temas mais controversos e à espera de uma resposta concreta: contracepção, aborto, homossexualidade, convivência, matrimónio e sacerdócio.
1. Perguntas sem respostas
É verdade que, na globalidade, estes temas foram tratados pelos padres sinodais. Mas é também verdade que, quando analisamos a votação do documento final, os mais controversos foram precisamente os que mais pareceres negativos obtiveram. Falo de pontos como “as perguntas dos jovens” (43 votos contra), “as mulheres na Igreja” (38 votos), a “condição dos solteiros” (29 votos), a “sexualidade” (65 votos) ou ainda a “formação da consciência” (36 votos). Qual a razão? Dito de um modo simples, os jovens não tiveram respostas para as suas perguntas.
Vejam-se dois casos. O primeiro relativo ao corpo, afectividade e sexualidade. A resposta dos padres sinodais foi, literalmente, que são questões que “têm necessidade uma elaboração antropológica, teológica e pastoral mais aprofundada”. Depois socorreram-se da Congregação para a Doutrina da Fé para reafirmar a diferença e a reciprocidade entre o homem e a mulher. Outra questão fundamental: a vocação. Ao matrimónio é apenas dedicado um parágrafo, não obstante ser a vocação preferencial dos jovens, e sugere-se “acompanhar os casais num caminho de preparação ao matrimónio”. Mas como acompanhar, quais os caminhos?
No segundo caso, relativo às pessoas homossexuais, os padres sinodais congratularam-se com alguns caminhos de acompanhamento na fé existentes nalgumas comunidades cristãs… sem nunca mencionarem quais as comunidades ou quais os caminhos. Fica-se, por conseguinte, numa nublosa sobre temas considerados essenciais pelos jovens. Perguntas sem respostas.
2. Respostas pouco sinodais
A palavra “sínodo” significa, como sabemos, “caminhar juntos”. Foi também esse o desejo expresso pelos jovens. Um caminho conjunto onde o “jovem é protagonista e tem voz”. No horizonte da imaginação, e colocando de lado o facto de se tratar de um sínodo dos bispos, não seria mais evangélico promover um efectivo diálogo com os representantes dos jovens no decurso dos trabalhos? Parece ainda subsistir um modelo eclesial onde é reconhecido aos pastores, em exclusivo, o munus de ensinar. Na verdade, tanto leigos como clérigos, em virtude do baptismo, governam, santificam e ensinam.
Talvez por esta razão, os pontos relativos à forma sinodal da Igreja tenham sido igualmente rejeitados por um número considerável de participantes. Não é possível sublinhar a urgência da corresponsabilidade na missão, assim como a importância da “forma sinodal de Igreja” e, ao mesmo tempo, relegar os jovens para uma condição de ouvintes. Precisamente aquilo pelo qual o Papa Francisco veio depois retratar-se: “desculpai se vos enchemos os ouvidos”. Poder-se-ia dizer “mas então os jovens não foram ouvidos através dos inquéritos e reuniões pré-sinodais?”. Sim e não. Sim, foram ouvidos, tal como o foram os bispos, clérigos e consagrados. Não… porque essa consulta deveria ser apenas um ponto de partida para um diálogo e não a meta do caminho.
Chegados ao final do Sínodo, fica-se com a sensação de um documento que deixa muitas respostas em suspenso, à espera de reflexões posteriores, e com uma forte carga doutrinal. Princípios fundamentais como a identidade missionária da Igreja, o discipulado, a liturgia e a apresentação de Jesus ou Maria como modelos não oferecem qualquer resistência aos jovens. Sobre os princípios estamos todos de acordo. Problema maior é saber como traduzir esses princípios ou valores para a vida concreta. Seria isso o que se esperava deste Sínodo. Infelizmente não aconteceu.
Curiosamente, os jovens, sempre fiéis a si mesmos, foram capazes de imaginar um sínodo diferente, um sínodo onde haveria espaço para a sua voz, onde as suas perguntas seriam respondidas e enfrentadas sem medo, onde não não fosse mera repetição da clássica doutrina da Igreja. Mas os padres sinodais não foram, talvez, capazes de acompanhar este sonho.
Artigo de opinião do Pe. Tiago Freitas, publicado no Igreja Viva a 1 de Novembro de 2018
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