8 de Setembro. Na zona, esta data é conhecida como o Dia de Nossa Senhora dos Remédios.
Quem como eu nasceu praticamente à sombra de Nossa Senhora dos Remédios, claro que esta data diz muito.
A minha terra natal é a freguesia que mais perto fica do Santuário de Nossa Senhora dos Remédios.
Em criança e nos tempos de estudante, vinha às novenas que, pelas seis da manhã, ali se realizavam.
Recordo o vozeirão do sr. cónego Marrana que afugentava para bem longe o sono. Era, além disso, um homem de fé vibrante.
Recordo que depois veio Mons. Noura. Uma voz suave numa fé profunda e serena.
Mais tarde, já padre, preguei na novena. Duas vezes. A convite do Reitor de então, P.e Melchior.
Igreja sempre à cunha. Nos corpos cansados, sobressaía um rosto feliz. Estar com a Mãe era uma festa.
Naquele tempo, trabalhava-se de sol a sol no campo. Era então uma época de grande azáfama, porque se arrancavam as batatas. À enxada.
Na ausência de automóveis e de estradas, as gentes das povoações mais afastadas saíam de casa pelas três, quatro horas da manhã. Eu saía de casa às 5.30h. Vantagem de estar perto.
Seis horas. Missa, novena e pregação. Oito horas, uma segunda Missa em que praticamente só participava gente da cidade, porque a das aldeias, logo que terminasse a novena, ia a correr para a faina agrícola.
Seis, sete e oito eram dias de grande movimento. Todas as redondezas se despejavam para Lamego. Marcha Luminosa, Noitada, Procissão...
Embora houvesse as festas populares nas freguesias, a verdadeira festa era a Senhora dos Remédios.
Recordo os grupos enormes de pessoas que, vindos da serra, passavam pela minha terra a caminho de Lamego. Merendas à cabeça, gargantas em rebuliço, ar cheio de cantigas. Mar de gente que voltava a subir pelo mesmo caminho e com a mesma alegria.
A malta nova ia poupando pelo ano fora alguns tostões para gastar na festa. Os carrinhos, o carrossel, os petiscos, as danças, as bebidas, o fogo de artifício, os namoricos, os engates, as brincadeiras e partidas, os zés-pereiras, a música, os encontros de amigos, a feira, os espetáculos, os cortejos, a procissão. Lamego era uma colmeia humana. A certas horas era patente a dificuldade em arranjar lugar para petiscar nas tendas para desgosto da fome ou da gulodice.
A magia dos Remédios!
Quem viveu com intensidade a magia da Festa jamais a esquece.
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