segunda-feira, 18 de outubro de 2021

NÃO HÁ FÉ SEM EUCARISTIA

O cada vez maior afastamento (desprezo, relativização) da Eucaristia é um sintoma óbvio da perda e/ou morte da fé. Diz o Catecismo da Igreja Católica: «O que o alimento material produz na nossa vida corporal, realiza-o a Comunhão, de modo admirável, na nossa vida espiritual. A comunhão da carne de Cristo Ressuscitado, “vivificada pelo Espírito Santo e vivificante”, conserva, aumenta e renova a vida da graça recebida no Batismo. Este crescimento da vida cristã precisa de ser alimentado pela Comunhão eucarística, pão da nossa peregrinação, até à hora da morte, em que nos será dado como viático.» (CIC 1392) Quem não se alimenta, acaba por morrer, também na vida espiritual = fé.
O mesmo documento lembra ainda que a prática da caridade depende da Eucaristia: «Tal como o alimento corporal serve para restaurar as forças perdidas, assim também a Eucaristia fortifica a caridade que, na vida quotidiana, tende a enfraquecer-se; e esta caridade vivificada apaga os pecados veniais. Dando-Se a nós, Cristo reaviva o nosso amor e torna-nos capazes de quebrar as ligações desordenadas às criaturas e de nos radicarmos n'Ele.» (CIC 1394)
Além disso, a Eucaristia – sobretudo a dominical – é o “ponto de encontro maior” (em alguns casos único) das famílias cristãs: à volta da Mesa da Palavra ouvem o Senhor, pedem perdão e auxílio, apre(e)ndem a sabedoria; sobre a Mesa do Pão ofertam as suas vidas (alegrias e tristezas, vitórias e fracassos, esperanças e desventuras) e alimentam a sua fé ao abeirar-se da Sagrada Comunhão. Sem a Eucaristia a fé morre e a própria comunidade acaba reduzida a uma agência de serviços, onde alguns hão de sempre acorrer, mais não seja para satisfazer interesses materiais, terrenos e mundanos.
O tão aplaudido (pouco seguido) Papa Francisco, na Exortação Apostólica pós-sinodal “Alegria do Amor”, lembrava às famílias cristãs a importância (necessidade) de participar na Eucaristia: «O caminho comunitário de oração atinge o seu ponto culminante ao participarem juntos na Eucaristia, sobretudo no contexto do descanso dominical. Jesus bate à porta da família, para partilhar com ela a Ceia Eucarística. Aqui, os esposos podem voltar incessantemente a selar a aliança pascal que os uniu e reflete a Aliança que Deus selou com a humanidade na Cruz. A Eucaristia é o sacramento da Nova Aliança, em que se atualiza a ação redentora de Cristo. Constatamos, assim, os laços íntimos que existem entre a vida conjugal e a Eucaristia. O alimento da Eucaristia é força e estímulo para viver cada dia a aliança matrimonial como “igreja doméstica”.» (AL 318)
Hoje, ainda há quem pense que “ir à Missa” é fazer a vontade ao(s) padre(s)! De facto, o sacerdote tem por dever celebrar diariamente a Eucaristia, mas não precisa de muita assembleia, um fiel basta: «Os sacerdotes, tendo sempre presente que no mistério do Sacrifício eucarístico se realiza continuamente a obra da redenção, celebrem com frequência; mais, recomenda-se-lhes instantemente a celebração quotidiana, a qual, ainda quando não possa haver a presença de fiéis, é um ato de Cristo e da Igreja, em que os sacerdotes desempenham o seu múnus principal. […] A não ser por causa justa e razoável, o sacerdote não celebre Sacrifício eucarístico sem a participação ao menos de algum fiel.» (CDC 904 e 906)
Além disso, ao padre só é permitido celebrar mais que uma Missa diária se razões pastorais o justificarem: «Excetuados os casos em que, segundo as normas do direito, é lícito celebrar ou concelebrar a Eucaristia várias vezes no mesmo dia, não é lícito ao sacerdote celebrar mais que uma vez por dia. Se houver falta de sacerdotes, o Ordinário do lugar pode permitir que, por justa causa, os sacerdotes celebrem duas vezes ao dia, ou mesmo, se as necessidades pastorais o exigirem, três vezes nos domingos e festas de preceito.» (CDC 905) E já contando as Missas vespertinas…
Outro “pormenor” triste e frequente é a instrumentalização (comércio) que muitos fazem da Eucaristia, sobretudo nas negociadas “intenções de missa”: só vão à igreja quando nas “queridas intenções” estão anunciados os seus familiares e amigos falecidos. Como explicar a estes devotos incréus que procurar Cristo só por interesse próprio se chama oportunismo? Se a Eucaristia é “memorial da Páscoa de Cristo” (torna presente a sua entrega de amor por nós) e “Mistério da Fé” (“anunciamos, Senhor, a vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição”), não participar não será ofensa grave, além de ingratidão? Se o lugar por excelência onde se reúnem os filhos é à volta da(s) Mesa(s), não estar presente não será romper os laços de comunhão e pertença à família de Deus? Se na Eucaristia acontece comunhão entre as igrejas Peregrina (Terrena), Purgante (Purgatório) e Triunfante (Céu), sempre que faltamos não estamos a desperdiçar a melhor oportunidade de estar mais próximos uns dos outros (vi-vos e defuntos) e mais próximos de Deus?
«Não há verdadeiramente nada mais útil para a nossa salvação do que este sacramento no qual se purificam os pecados, as virtudes aumentam e se encontra com abundância todos os carismas espirituais. Na Igreja, Ele é oferecido para benefício de todos, vivos e mortos, porque foi instituído para a salvação de todos os homens.» (São Tomás de Aquino)
(P. António Magalhães Sousa), aqui

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