terça-feira, 30 de julho de 2019

O que seria se deixasse de haver missa aos Domingos?

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1. No último Domingo o Senhor Arcebispo, D. Jorge Ortiga, manifestou a sua e nossa crescente preocupação pela (in)capacidade de prover todas as Paróquias com um pároco. Há, por exemplo, actualmente mais de 100 párocos em exercício que já ultrapassaram os 75 anos de idade. Há uns tempos, uma outra figura relevante da Igreja Católica portuguesa perguntava: “já pensaram o que seria se deixasse de haver Missa dominical?”. E tentou responder: “se deixasse de existir seriamos muito menos sociedade”, perderíamos a única oportunidade de “nos encontrarmos”. Talvez. Talvez devêssemos perguntar às Dioceses portuguesas onde isso já acontece (sim, já acontece em várias!).
2. Podemos, todavia, colocar outras perguntas: o que será de um padre que tem de celebrar seis ou mais missas dominicais (mais Baptismos, funerais e matrimónios), mesmo estando legalmente proibido de o fazer? (não, não é o excesso de trabalho que está em causa em dois dias da semana; é só a inevitável banalização dos Sacramentos). Ou, por outro prisma, serão só as missas dominicais que nos preocupam? Há igual receio em perder formação ou em perder a proximidade com os mais pobres? Às vezes, com algum temor, pergunto-me qual será o peso que têm as chamadas intenções de missa em todo este processo. As intenções, entenda-se, o que elas implicam de memória orante (rezar a Deus pelos defuntos é uma obra misericórdia, muito justa), de dúvida pelo convívio dos falecidos com Deus, de expiação, de valores cobrados e autossustentabilidade paroquial... Talvez seja tempo de interpretar o que seriam as celebrações da missa, durante umas semanas, sem intenções oficiais.
3. Na paróquia 552 da Arquidiocese de Braga (Santa Cecília de Ocua, Diocese de Pemba-Moçambique), a maior parte dos cristãos tem oportunidade de ir à missa, na melhor das hipóteses, uma vez de dois em dois anos. A maior parte, só no dia do Baptismo. Não me parece que, por isso, sejam mais pecadores nem menos santos. Encontraram, ao longo dos tempos, com a ajuda dos seus Bispos, outros modos “sinodais” de decisão e programação, esquemas de celebração da Palavra dominical, redescobriram outros ministérios dentro da própria comunidade, assumiram por si mesmos a ritualidade e a caridade nos funerais, vão implementando o catecumenado (“catequese”) de adultos... E quando chega, finalmente, a oportunidade rara de celebrar Eucaristia e outros sacramentos? Há uma festa. Ficam anos “à espera do presbítero” e não esmorecem na fé.
4. Desculpem, porventura, alguma ligeireza das próximas palavras, diante do mais alto mistério que é a Missa. O que seria se deixasse de haver Missa aos Domingos em algumas paróquias? Num primeiro momento? Nas maiores comunidades, um pequeno tumulto social, obviamente, e alteração de rotinas religiosas. Nessas, os mais diligentes, deslocar-se-iam a outras comunidades para a Eucaristia e dariam boleia a outros com maior dificuldade. Nas comunidades mais pequenas: lamentações por estarem cada vez mais esquecidos. Num segundo momento? Em cada comunidade emergiriam algumas forças adormecidas para os ministérios, absolutamente necessários num corpo. As mulheres assumiriam, como já agora, a dianteira. O padre, quem sabe, apareceria mais itinerante, mais missionário, mais coordenador da pastoral. O Domingo (entenda-se “Eucaristia” no sentido amplo da palavra) aconteceria num outro dia da semana. O boletim paroquial serviria para algo mais do que enumerar intenções e horários de missa. As actividades de formação seriam inter-paroquiais. A religiosidade popular assumiria nova relevância. Até me surgem outros pensamentos, mas deixo ao estimado(a) leitor(a) a liberdade de criar os próximos tempos e de ler o “Evangelho da Alegria” do Papa Francisco. Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a Vida.
Jorge Vilaça, padre, aqui

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