Encontrava-me num dos guichets do Hospital para tratar de assuntos burocráticos. Reparei que a outro guichet ao lado acedeu um homem apoiado em duas bengalas. O esforço do senhor era patente.
A
senhora que atendia nesse guichet disse-lhe para ir tirar a senha. Apercebi-me
da aflição do senhor. Além da dificuldade em mover-se, acrescia a dificuldade
em ultrapassar a burocracia. Parecia não saber como proceder.
Eis
que a senhora se levantou e apercebeu-se melhor das limitações do cliente.
Então disse-lhe que se deixasse estar, pois ela iria tratar da senha de acesso.
No rosto do homem a aflição cedeu lugar ao contentamento.
Naquele
momento, admirei o serviço daquela funcionária.
Só
que me comecei a sentir mal comigo mesmo. "Então eu ali ao lado e nada fiz?”
Tinha-me apercebido da situação antes da
funcionária. E do íntimo de mim, vinha contundente e interpelante a pergunta: “Por
que motivo não foste buscar a senha para aquele homem? Falhaste.”
Não
o fiz por mal. Estava tão imerso nas minhas preocupações que não tomei
consciência das dificuldades do senhor.
Confesso
que essa falha me perseguiu pela tarde inteira.
A
solidariedade nas pequenas coisas pode ser uma riqueza para quem é ajudado. O
heroísmo do dia a dia. Que interessa ser herói uma vez na vida, se depois somos
anti-heróis nas pequenas coisas?
Todos
podemos ser capitalistas de pequenos gestos de amor e serviço solidário.
“O que vos mando é que vos ameis uns aos outros”, disse o maior Mestre.
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