terça-feira, 21 de julho de 2020

Confesso que essa falha me perseguiu pela tarde inteira

Encontrava-me num dos guichets do Hospital para tratar de assuntos burocráticos. Reparei que a outro guichet ao lado acedeu um homem apoiado em duas bengalas. O esforço do senhor era patente.

A senhora que atendia nesse guichet disse-lhe para ir tirar a senha. Apercebi-me da aflição do senhor. Além da dificuldade em mover-se, acrescia a dificuldade em ultrapassar a burocracia. Parecia não saber como proceder.

Eis que a senhora se levantou e apercebeu-se melhor das limitações do cliente. Então disse-lhe que se deixasse estar, pois ela iria tratar da senha de acesso. No rosto do homem a aflição cedeu lugar ao contentamento.

Naquele momento, admirei o serviço daquela funcionária.

Só que me comecei a sentir mal comigo mesmo. "Então eu ali ao lado e nada fiz?”

 Tinha-me apercebido da situação antes da funcionária. E do íntimo de mim, vinha contundente e interpelante a pergunta: “Por que motivo não foste buscar a senha para aquele homem? Falhaste.”

Não o fiz por mal. Estava tão imerso nas minhas preocupações que não tomei consciência das dificuldades do senhor.

Confesso que essa falha me perseguiu pela tarde inteira.

A solidariedade nas pequenas coisas pode ser uma riqueza para quem é ajudado. O heroísmo do dia a dia. Que interessa ser herói uma vez na vida, se depois somos anti-heróis nas pequenas coisas?

Todos podemos ser capitalistas de pequenos gestos de amor e serviço solidário.

“O que vos mando é que vos ameis uns aos outros”, disse o maior Mestre.

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