terça-feira, 24 de agosto de 2021

CREIO NUM DEUS MACHISTA?

Pelos vistos, a segunda leitura da Eucaristia deste (último) domingo (Ef 5, 21-32) deixou em pulgas as tribos feministas e seus partidários. É estranho que só agora se tenham apercebido de um texto que de três em três anos - ciclo B - é proclamado e, várias vezes, escolhido pelos noivos para a celebração do matrimónio. Confirma o que há muito aviso: a maioria dos católicos não conhece a Sagrada Escritura, seja porque não vai à Missa (a hipocrisia do “não praticante”) ou, quando vai, está a dormir ou a pensar na morte da bezerra.
Quanto ao dito texto espero que, pondo de parte a má-fé, ignorância supina e (pre)conceito (ressabiados?) seja lido com serenidade e inteligência, na sua totalidade (globalidade) e não, como fazem as seitas, literalmente, isto é, frase a frase. Já que o problema está na palavra “cabeça”, sendo também verdade que “pensar incomoda”, porque não dar uso àquilo que a preenche? Caso contrário, estaríamos na presença de gente limitada, enviesada, ao serviço de interesses, ideologias e minudências linguísticas. Leem assim os Lusíadas ou a Mensagem?
Diz São Paulo: «Submetei-vos uns aos outros no temor de Cristo. As mulheres estejam sujeitas aos seus maridos, como ao Senhor, porque o homem é a cabeça da mulher, como Cristo é a cabeça da Igreja e o salvador do Corpo. Como a Igreja está sujeita a Cristo, estejam as mulheres em tudo sujeitas aos seus maridos». (vv. 21-24)
A submissão que aqui é sugerida começa por ser “uns aos outros”. Não será, por certo, um apelo ao colonialismo, exploração ou escravidão… “Como ao Senhor”: porque a submissão a Deus não nos diminui, bem pelo contrário, fazemo-la por amor, em confiança total e incondicional. É assim que as crianças “se submetem” (entregam, confiam, sujeitam) aos pais = por amor. A imagem do “marido como cabeça da mulher” parte da “imagem de Cristo como cabeça da Igreja”. Que fez Cristo pela Igreja? Amou-a dando a vida por ela. Foi o “salvador do Corpo”, diz o texto. Não há qualquer possessão, apenas e só doação, aniquilamento, esvaziamento ( = kenosis).
Se dúvidas houvesse, o segundo parágrafo dissipa-as: «E vós, maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de purificá-la com o banho da água e santificá-la pela Palavra, para apresentar a si mesmo a Igreja, gloriosa, sem mancha nem ruga, ou coisa semelhante, mas santa e irrepreensível». (vv. 25-27) Aos maridos é pedido que amem as esposas como Cristo amou a Igreja. Haverá algum modo melhor para significar o amor esponsal? Não será maravilhoso a mulher saber-se amada pelo marido que modela o seu amor pelo modo de Cristo amar a Igreja?
Como se não bastasse, acrescenta o texto: «Assim também os maridos devem amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo, pois ninguém jamais quis mal à sua própria carne, antes alimenta-a e dela cuida, como também faz Cristo com a Igreja, porque somos membros do seu Corpo». (vv. 28-30)
Sinceramente, não me admiro dos comentários pérfidos, torcidos e ensimesmados que tenho lido e ouvido acerca do texto. Sobretudo, porque a ignorância é atrevida. Se a liberdade de expressão é um direito, também existe o dever de se informar e de procurar a verdade. Se há quem, para ser popular e liderar se sirva de demagogia, meias-verdades e má-fé, eu continuo a preferir a misericórdia: “Ensinar os ignorantes; corrigir os que erram”.
(P. António Magalhães Sousa), aqui

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