«Em nome de Cristo, suplicamos-vos: reconciliai-vos com Deus» (2 Cor 5, 20)
Queridos irmãos e irmãs!
O Senhor concede-nos, também neste ano, um tempo propício para nos prepararmos para celebrar, de coração renovado, o grande Mistério da morte e ressurreição de Jesus, cerne da vida cristã pessoal e comunitária. Com a mente e o coração, devemos voltar continuamente a este Mistério. Com efeito, o mesmo não cessa de crescer em nós na medida em que nos deixarmos envolver pelo seu dinamismo espiritual e aderirmos a ele com uma resposta livre e generosa.
Também hoje é importante chamar os homens e mulheres de boa vontade à partilha dos seus bens com os mais necessitados através da esmola, como forma de participação pessoal na edificação dum mundo mais justo. A partilha, na caridade, torna o homem mais humano; com a acumulação, corre o risco de embrutecer, fechado no seu egoísmo. Podemos e devemos ir mais além, considerando as dimensões estruturais da economia. Por este motivo, na Quaresma de 2020 – mais concretamente, de 26 a 28 de março –, convoquei para Assis jovens economistas, empreendedores e transformativos, com o objetivo de contribuir para delinear uma economia mais justa e inclusiva do que a atual. Como várias vezes se referiu no magistério da Igreja, a política é uma forma eminente de caridade (cf. Pio XI, Discurso à FUCI, 18/XII/1927). E sê-lo-á igualmente ocupar-se da economia com o mesmo espírito evangélico, que é o espírito das Bem-aventuranças.
Queridos irmãos e irmãs!
O Senhor concede-nos, também neste ano, um tempo propício para nos prepararmos para celebrar, de coração renovado, o grande Mistério da morte e ressurreição de Jesus, cerne da vida cristã pessoal e comunitária. Com a mente e o coração, devemos voltar continuamente a este Mistério. Com efeito, o mesmo não cessa de crescer em nós na medida em que nos deixarmos envolver pelo seu dinamismo espiritual e aderirmos a ele com uma resposta livre e generosa.
1. O
Mistério pascal, fundamento da conversão
A alegria do cristão brota da escuta e receção da Boa Nova da morte e
ressurreição de Jesus: o kerygma. Este compendia o Mistério dum amor «tão real,
tão verdadeiro, tão concreto, que nos proporciona uma relação cheia de diálogo
sincero e fecundo» (Francisco, Exort. ap. Christus vivit, 117). Quem crê neste
anúncio rejeita a mentira de que a nossa vida teria origem em nós mesmos,
quando na realidade nasce do amor de Deus Pai, da sua vontade de dar vida em
abundância (cf. Jo 10, 10). Se, pelo contrário, se presta ouvidos à voz
persuasora do «pai da mentira» (Jo 8, 44), corre-se o risco de precipitar no
abismo do absurdo, experimentando o inferno já aqui na terra, como infelizmente
dão testemunho muitos acontecimentos dramáticos da experiência humana pessoal e
coletiva.
Por isso,
nesta Quaresma de 2020, quero estender a todos os cristãos o mesmo que escrevi
aos jovens na Exortação apostólica Christus vivit: «Fixa os braços abertos de
Cristo crucificado, deixa-te salvar sempre de novo. E quando te aproximares
para confessar os teus pecados, crê firmemente na sua misericórdia que te
liberta de toda a culpa. Contempla o seu sangue derramado pelo grande amor que
te tem e deixa-te purificar por ele. Assim, poderás renascer sempre de novo»
(n. 123). A Páscoa de Jesus não é um acontecimento do passado: pela força do
Espírito Santo é sempre atual e permite-nos contemplar e tocar com fé a carne
de Cristo em tantas passoas que sofrem.
2. Urgência
da conversão
É salutar
uma contemplação mais profunda do Mistério pascal, em virtude do qual nos foi
concedida a misericórdia de Deus. Com efeito, a experiência da misericórdia só
é possível «face a face» com o Senhor crucificado e ressuscitado, «que me amou
e a Si mesmo Se entregou por mim» (Gl 2, 20). Um diálogo coração a coração, de
amigo a amigo. Por isso mesmo, é tão importante a oração no tempo quaresmal.
Antes de ser um dever, esta expressa a necessidade de corresponder ao amor de
Deus, que sempre nos precede e sustenta. De facto, o cristão reza ciente da sua
indignidade de ser amado. A oração poderá assumir formas diferentes, mas o que
conta verdadeiramente aos olhos de Deus é que ela escave dentro de nós,
chegando a romper a dureza do nosso coração, para o converter cada vez mais a
Ele e à sua vontade.
Por isso,
neste tempo favorável, deixemo-nos conduzir como Israel ao deserto (cf. Os 2,
16), para podermos finalmente ouvir a voz do nosso Esposo, deixando-a ressoar
em nós com maior profundidade e disponibilidade. Quanto mais nos deixarmos
envolver pela sua Palavra, tanto mais conseguiremos experimentar a sua
misericórdia gratuita por nós. Portanto não deixemos passar em vão este tempo
de graça, na presunçosa ilusão de sermos nós o dono dos tempos e modos da nossa
conversão a Ele.
3. A vontade
apaixonada que Deus tem de dialogar com os seus filhos
O facto de o
Senhor nos proporcionar uma vez mais um tempo favorável para a nossa conversão,
não devemos jamais dá-lo como garantido. Esta nova oportunidade deveria
suscitar em nós um sentido de gratidão e sacudir-nos do nosso torpor. Não
obstante a presença do mal, por vezes até dramática, tanto na nossa existência
como na vida da Igreja
e do mundo, este período que nos é oferecido para uma mudança de rumo manifesta
a vontade tenaz de Deus de não interromper o diálogo de salvação connosco. Em
Jesus crucificado, que Deus «fez pecado por nós» (2 Cor 5, 21), esta vontade
chegou ao ponto de fazer recair sobre o seu Filho todos os nossos pecados, como
se houvesse – segundo o Papa
Bento XVI – um «virar-se de Deus contra Si próprio» (Enc. Deus caritas est,
12). De facto, Deus ama também os seus inimigos (cf. Mt 5, 43-48).
O diálogo
que Deus quer estabelecer com cada homem, por meio do Mistério pascal do seu
Filho, não é como o diálogo atribuído aos habitantes de Atenas, que «não
passavam o tempo noutra coisa senão a dizer ou a escutar as últimas novidades»
(At 17, 21). Este tipo de conversa, ditado por uma curiosidade vazia e
superficial, carateriza a mundanidade de todos os tempos e, hoje em dia, pode
insinuar-se também num uso pervertido dos meios de comunicação.
4. Uma
riqueza que deve ser partilhada, e não acumulada só para si mesmo
Colocar o
Mistério pascal no centro da vida significa sentir compaixão pelas chagas de
Cristo crucificado presentes nas inúmeras vítimas inocentes das guerras, das
prepotências contra a vida desde a do nascituro até à do idoso, das variadas
formas de violência, dos desastres ambientais, da iníqua distribuição dos bens
da terra, do tráfico de seres humanos em todas as suas formas e da sede
desenfreada de lucro, que é uma forma de idolatria.Também hoje é importante chamar os homens e mulheres de boa vontade à partilha dos seus bens com os mais necessitados através da esmola, como forma de participação pessoal na edificação dum mundo mais justo. A partilha, na caridade, torna o homem mais humano; com a acumulação, corre o risco de embrutecer, fechado no seu egoísmo. Podemos e devemos ir mais além, considerando as dimensões estruturais da economia. Por este motivo, na Quaresma de 2020 – mais concretamente, de 26 a 28 de março –, convoquei para Assis jovens economistas, empreendedores e transformativos, com o objetivo de contribuir para delinear uma economia mais justa e inclusiva do que a atual. Como várias vezes se referiu no magistério da Igreja, a política é uma forma eminente de caridade (cf. Pio XI, Discurso à FUCI, 18/XII/1927). E sê-lo-á igualmente ocupar-se da economia com o mesmo espírito evangélico, que é o espírito das Bem-aventuranças.
Invoco a
intercessão de Maria Santíssima sobre a próxima Quaresma, para que acolhamos o
apelo a deixar-nos reconciliar com Deus, fixemos o olhar do coração no Mistério
pascal e nos convertamos a um diálogo aberto e sincero com Deus. Assim,
poderemos tornar-nos aquilo que Cristo diz dos seus discípulos: sal da terra e
luz do mundo (cf. Mt 5, 13.14).
FRANCISCUS
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