E foi assim que
tomámos consciência de que entrámos não apenas num outro tempo, mas também num
outro mundo.
2. A despesa da
guerra contra o terrorismo arruinou os Estados Unidos. E a vontade de justiça
depressa degenerou em sede de vingança. Os ofendidos acabaram por reproduzir o
comportamento dos ofensores.
À falência
económica somou-se, pois, a decadência moral. Resultado: a resposta à violência
consistiu num acréscimo de violência e num decréscimo da segurança. Não
estávamos seguros em 2001. Estaremos mais seguros hoje?
3. A mudança para
a qual o mundo acordou pode ser sinalizada na queda do Muro de Berlim e naquilo
que ela significou. O adversário deixou de ser visível e localizado. Passou a
ser ignoto e a estar em parte incerta, ou seja, em toda a parte.
Esta situação é
mais perigosa. O risco já não vem de um estado, nem de um exército. Em último
caso, vem do coração humano.
Uma única pessoa pode destruir a humanidade.
Uma única pessoa pode destruir a humanidade.
4. Uma das
(muitas) coisas que o 11 de Setembro inaugurou foi uma percepção terrível. O
terrorismo é como a morte: acaba sempre por acontecer. Só não sabemos
quando.
Daí que o
pessimismo aparente ser mais inteligente que o optimismo. Leva-nos a contar com
o pior e a tentar retardar os factos. Mas estes, de uma forma ou de outra,
acabarão por sobrevir.
5. Neste momento,
mesmo quando não há combates, o mundo sente-se em guerra. Mesmo quando não
existem ataques, a humanidade sente-se na necessidade de se defender.
Até 2001, sabia-se
onde morava o inimigo. Agora, não sabemos onde ele se encontra. Nem o lugar do
próximo atentado. Nem qual é o seu alvo. Que, aliás, pode ser qualquer um de
nós.
6. O terrorismo
global inaugurou uma era paradoxal. Qualquer atentado pode ser visto em
directo.
Os seus autores é
que permanecem invisíveis. Outrora, anunciava-se o início dos combates. Hoje, os
atentados só são conhecidos depois de ocorrerem e de terem contabilizado muitas
vítimas.
7. Ninguém diga,
por isso, que estava preparado ou que tinha soluções para estes problemas. O que
veio depois do 11 de Setembro atesta que, por vezes, as soluções agravam os
próprios problemas.
Quando se fala da
necessidade de fazer justiça, na prática o que se pretende é imitar quem comete
a injustiça. Acha-se que, respondendo ao mal com o mal, a justiça fica reposta.
Mas, na verdade, é somente a violência que cresce.
8. A violência só
desaparecerá com a introdução de uma cultura da não-violência.
Jesus foi, por
vezes, mal recebido em certas terras. Nessa altura, não litigava. Ia para outro
lugar. Gandhi, que muito admirava Jesus, recomenda o mesmo: seguir em
frente.
9. Os séculos,
aprendemos com Eric Hobsbawn, não se contam apenas por datas. Contam-se
sobretudo pelos acontecimentos que os balizam. O século XX terminou, em 1989,
com o desmoronamento daquilo que o tinha iniciado em 1917: a Revolução
Russa.
10. O século XXI
terá começado em 2001. Nele, as guerras já não opõem apenas povos. As guerras
podem ser de uma pessoa ou de um grupo contra a humanidade inteira.
Entraremos no
século XXII quando a civilização vencer a barbárie. Bastarão cem anos para lá
chegarmos?
In http://theosfera.blogs.sapo.pt
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