terça-feira, 2 de setembro de 2025

Há lugares onde é mais perigoso adoecer

 
As férias decorriam normalmente, Até que, de repente, um familiar meu sentiu dores fortes e persistentes. Dirigiu-se ao Centro de Saúde mais perto. O médico atendeu-o, examinou-o e receitou-lhe um antibiótico e um medicamento para a febre. Regressou a casa, mas as dores persistiam e intensificavam-se. Foi então levado para um Hospital central. Por sinal, e ao contrário do esperado, não havia muita gente à espera de ser atendida. Pelo caminho, o doente contactou a Linha de Saúde 24. Um tormento, dado o sofrimento do enfermo! Um questionário interminável e numa linguagem técnica incompreensível para o paciente, o que levava este a referir constantemente: "Não percebi!"

Ao chegar ao Hospital, foi logo atendido. Tempo depois é enviada para casa, apenas com um antibiótico diferente.

O sofrimento acentua-se. Torna-se insuportável. Regressa ao hospital. Então é descoberto o mal: uma apendicite.  O doente quer regressar à cidade de residência, mas é aconselhado por profissionais de saúde a não o fazer. Seria muito perigoso,  naquele estado...

É operado de urgência. Intervenção prolongada no tempo. E depois oito dias no hospital em recuperação, com os primeiros tempos a serem muito difíceis.  

Felizmente, ao terminar o tempo de férias, ele também teve alta, regressando à residência habitual com os seus, continuando a recuperação satisfatoriamente. 

Aquele hospital tem péssimas recordações também para mim. Há 11 anos, passei ali mais de 10 horas à espera que me tirassem um espinha da garganta.

Num Algarve onde se gastou uma fortuna com um estádio de futebol  sem praticamente utilização pela modalidade, o Hospital central deixa muito a desejar a nível de estruturas.  Não me parece, contudo, que tal justifique tudo. Houve erros humanos a mais que poderiam ter sido fatais. 

O meu familiar não se queixou de funcionários e de enfermeiros. Já a comunicação médica deveria ter sido mais clara e presente, tanto para o doente como para a família. 

Pelo que me aconteceu a mim há anos, pelo que sofreu o meu familiar no presente e pelo testemunho de pessoas, o Algarve é dos piores lugares  para adoecer. 

Há 11 anos, dizia-me uma enfermeira que no Verão quadruplicava a população no Algarve, mas o pessoal de saúde era o mesmo, pese embora a propaganda política em sentido contrário...

Por sinal, nesta mesma ocasião, outra pessoa da família realizou um intervenção cirúrgica programada noutro Hospital do país. Em si a operação correu bem, mas surgiram problemas, segundo informações, advinda do contexto da anestesiologia  que preocuparam e que, neste momento, se estão a ultrapassar, felizmente. 

A segunda parte das férias foi assim marcada pela preocupação, como diz o povo, "de coração nas mãos".  Visitas ao hospital, telefonemas, mensagens, contactos...

Que para o ano seja melhor, bem melhor! Deus nos ajude.

Tal como a habitação, a saúde precisa de ser um desígnio nacional, sem dogmatismos e sem fundamentalismos ideológicos. 

Precisamos de melhores estruturas de saúde. Precisamos cuidar, mais e melhor, do tesouro da vida. 

Precisamos de mais médicos. Médicos que juntem competência e humanidade.

"O senhor Doutor, aquela pessoa distante, ser superior, algumas vezes intratável", tem que baixar à terra dos humanos e ser humano com eles. 

O país investe imensos recursos na formação dos seus médicos. É natural que mantenha em relação a eles a exigência de compromisso, humana e cientificamente, irrepreensível. 

Eu sei, todos sabemos, que há clínicos - muitos, muitos - extraordinários. Na dedicação, na competência, na humanidade, no serviço até ao limite. E mesmo estes podem errar, porque não são deuses.