[O artigo é um pouco longo mas merece ser lido várias vezes, porque reflete o que muitos de nós pensamos e sentimos… Seja padre, religioso ou leigo. Aliás, seria interessante ser partilhado, comentado, dialogado. As redes sociais também podem ajudar a corrigir e melhorar…]
Um sacerdote alemão fez uma lista de algumas coisas que não funcionam na Igreja: «Depois de 30 ANOS de serviço, deixo a minha atividade como pároco e o meu serviço ativo na diocese de Münster. Pedi a demissão e abandonei o campo que configurou, durante décadas, os meus dias, a minha vida, a minha pessoa». O padre Thomas Frings foi pároco da cidade de Münster, Alemanha. Agora, decidiu deixar a paróquia e passar um tempo de reflexão num mosteiro. Está desanimado pelo que considera um “esforço inútil” de uma “pastoral esclerosada e inadequada”.
Entretanto, fez uma lista de coisas que não funcionam na Igreja alemã, mas que podem referir-se a qualquer outra Igreja do mundo. São problemas que afastam as pessoas e enfraquecem a instituição eclesiástica (também muitos dos seus padres), deixando-a estranha aos olhos de muitas pessoas:
1- POUCAS VOCAÇÕES, MUITA CONFUSÃO
Segundo Thomas Frings, uma das figuras que gera mais desconfiança é a do seminarista. Ser sacerdote parece o mesmo que pertencer a uma empresa complicada, quase titânica. Seja pelos vínculos tão duros, como o celibato e a promessa de obediência, seja porque não é fácil definir o próprio futuro num contexto em que há falta de sacerdotes e de fé. «Em 1980, comecei a estudar Teologia. Em Münster, éramos 40 seminaristas naquele semestre. Éramos somente a metade em relação a 25 anos atrás. Mas as perspetivas eram boas: 3 postos de capelão em 4 anos, depois pároco. Nas estruturas da época, era algo factível. Quem começa hoje a estudar Teologia, provavelmente já não encontrará esse caminho. Há 30 anos, a estima por esta vocação ainda era muito alta. Não se escolhia ser padre por isso – ao menos normalmente. Mas a perda de consideração certamente não ajuda a estar motivado para isso. (…) Não somos uma empresa. Mas alguém aconselharia um jovem a fazer parte de uma companhia com estas perspetivas e com celibato e promessa de obediência?», pergunta o padre.
2- DISCUSSÕES INFÉRTEIS NOS CONSELHOS PAROQUIAIS
Outro erro que deixa a Igreja pouco atrativa são as discussões que frequentemente se repetem nos órgãos paroquiais. «Que impressão teria um não crente ou uma pessoa de outra religião que participasse das discussões dos conselhos paroquiais, em que são negociados os lugares e horários das nossas celebrações? Quando se negocia meia hora antes ou mais tarde para que dê tempo de fazermos o trabalho no jardim, dormir até mais tarde ou assistir a uma partida de futebol? Quando se falam de costumes e comidas, ao invés de discutir o significado da morte e ressurreição de Jesus? (…) Como podem brotar da Missa a luz e a alegria, esperança e convicção, quando ela já não é tão importante quanto um café da manhã mais tarde ou um jogo entre o Colonia e o Bayern de Munich?», pergunta-se o padre.
3- MUDAR SIM, MAS SEM FERIR SENTIMENTOS
»Às vezes, participo de celebrações litúrgicas e, ao final delas, me pergunto se eu continuaria indo àquela igreja. Ao final da Missa, me sinto verdadeiramente ‘despedido’, no sentido literal da palavra. Às vezes, mesmo como fiel, saio da celebração eucarística e não sei se deveria sentir-me zangado, triste ou até afetado. Nem sempre isso depende do celebrante ou da homilia; geralmente depende do quadro em seu conjunto. Se, por exemplo, querem mudar os costumes e tradições, antes de fazer isso é preciso levar em conta a sensibilidade dos fiéis. (…) Um companheiro contou, visivelmente emocionado, que lhe fizeram uma amável advertência depois de sua primeira Missa na paróquia. Um homem aproximou-se dele e disse: ‘Padre, na nossa paróquia é preciso distribuir a comunhão mais devagar. Nós levamos muito tempo para comungar’. A advertência e a sua formulação diziam muito da atmosfera que reinava na celebração eucarística e na relação existente entre as pessoas da comunidade. Além disso, aquela advertência caiu num terreno disposto a recebê-la», esclarece o Padre Thomas.
4- A PROMESSA BATISMAL NÃO CUMPRIDA
“Prometemos educar o nosso filho na fé”. Quem já participou de um batizado conhece esta frase. E muitos já a pronunciaram, de forma mais ou menos consciente. Hoje, a crise da fé, sobretudo entre os mais jovens, deve-se muito à distância das famílias em relação à Igreja, que se recuaram da promessa feita no batismo.
«Encontrei-me, certa vez, com um casal que tinha deixado a Igreja e queria batizar o filho somente para que ele pudesse frequentar, depois, uma escola diocesana. Eu não batizei a criança. Mas os pais encontraram outro padre que, talvez, tenha tido outras boas razões para fazer o batismo», lamenta o padre. O sacerdote pensa que uma solução poderia ser a “introdução de um catecumenato mais longo” para pais, padrinhos e madrinhas dos batizandos. «Seria, provavelmente, um caminho, mas só funcionará se todas as paróquias seguirem-no».
5- PRIMEIRA COMUNHÃO? UM SHOW!
Sobre os problemas da cerimónia da Primeira Comunhão, Padre Thomas é duro. Hoje, é cada vez mais difícil transmitir às crianças a importância do primeiro “encontro” com o corpo de Cristo. «Reina em todas as partes um grande nervosismo. O salão é arejado, limpo e enfeitado. Os bancos são reservados e o programa com o desenvolvimento da cerimónia é impresso. Vários ornamentos são colocados no caminho da entrada e na fachada da igreja. Depois, chegam eles, os pequenos protagonistas, por quem se gastam tanto tempo e dinheiro. Eles vão vestidos como se fossem a um antigo e prestigioso Gran Hotel, com roupas e adornos de pequenos adultos», diz.
À luz dessas experiências, o Padre Thomas propõe outro modelo de preparação para a comunhão: numa hora as crianças receberiam a explicação sobre a celebração eucarística, noutro momento ensaiariam a celebração e, no domingo, elas já participariam da celebração. No final, todos seriam convidados a seguir a catequese como preparação posterior (não anterior, como acontece hoje), em forma de grupos, com reuniões e participação na Eucaristia do domingo.
6- COMPREENSÃO E AJUDA AOS CASAIS
O casamento pode ser o momento em que os noivos voltam a encontrar a fé. E para que comecem a viver uma nova vida cristã depois de um período de distanciamento espiritual. Mas os padres, geralmente, não dão aos noivos a oportunidade de conhecer a fundo o valor do que eles vão celebrar. Para fazer isso, é preciso compreender a história dos que vão receber o sacramento. «Um dia, veio até mim um jovem casal que havia redescoberto a fé. Eles me contaram isso e também disseram que os membros das suas famílias poderiam participar do casamento, mas não de uma celebração eucarística. Para o casal, era muito importante que a Comunhão fosse dada a todos, mas os seus convidados não saberiam o que fazer com ela. No entanto, eles não queriam renunciar à Eucaristia. Por outro lado, não poderiam excluir o resto da família da celebração. A solução foi simples. O matrimónio foi celebrado com a Liturgia da Palavra e, depois, os recém-casados receberam a comunhão numa Missa, mais tarde», exemplificou o autor.
7- MAU EXEMPLO
O mau exemplo que os responsáveis pelas instituições dão no que diz respeito ao estilo de vida e à ostentação afastam as pessoas da Igreja. Escreve o Padre Thomas: «antes de administrar o sacramento da confirmação, um bispo quis dialogar em tom amistoso com os confirmandos. Ele pediu para que os crismandos perguntassem tudo o que eles queriam saber sobre um bispo. Ele lhes disse: ‘Sou um de vocês, podem perguntar tudo’. Então, um deles respondeu: ‘Senhor bispo, enquanto o senhor se vestir assim e andar nesse carro com motorista, o senhor não será um de nós’».
8- UM VERDADEIRO “CENTRO DE SERVIÇOS” PARA OS FIÉIS E PARA OS DEMAIS
«Se eu vejo a igreja como algo que tenho na minha frente, então posso desejar algo dela, exatamente como o cliente num restaurante, onde ele é rei», explica o padre alemão. «Pode-se argumentar que, na Igreja, fala-se com amor às pessoas e que elas não podem vir com exigências. Efetivamente, isso não deveria acontecer nunca em relação aos sacramentos, mas entre os dois extremos – o pedido e a exigência – há um caminho longo. E quem se aproxima deveria ser bem-vindo», conclui Thomas Frings.
Um sacerdote alemão fez uma lista de algumas coisas que não funcionam na Igreja: «Depois de 30 ANOS de serviço, deixo a minha atividade como pároco e o meu serviço ativo na diocese de Münster. Pedi a demissão e abandonei o campo que configurou, durante décadas, os meus dias, a minha vida, a minha pessoa». O padre Thomas Frings foi pároco da cidade de Münster, Alemanha. Agora, decidiu deixar a paróquia e passar um tempo de reflexão num mosteiro. Está desanimado pelo que considera um “esforço inútil” de uma “pastoral esclerosada e inadequada”.
Entretanto, fez uma lista de coisas que não funcionam na Igreja alemã, mas que podem referir-se a qualquer outra Igreja do mundo. São problemas que afastam as pessoas e enfraquecem a instituição eclesiástica (também muitos dos seus padres), deixando-a estranha aos olhos de muitas pessoas:
1- POUCAS VOCAÇÕES, MUITA CONFUSÃO
Segundo Thomas Frings, uma das figuras que gera mais desconfiança é a do seminarista. Ser sacerdote parece o mesmo que pertencer a uma empresa complicada, quase titânica. Seja pelos vínculos tão duros, como o celibato e a promessa de obediência, seja porque não é fácil definir o próprio futuro num contexto em que há falta de sacerdotes e de fé. «Em 1980, comecei a estudar Teologia. Em Münster, éramos 40 seminaristas naquele semestre. Éramos somente a metade em relação a 25 anos atrás. Mas as perspetivas eram boas: 3 postos de capelão em 4 anos, depois pároco. Nas estruturas da época, era algo factível. Quem começa hoje a estudar Teologia, provavelmente já não encontrará esse caminho. Há 30 anos, a estima por esta vocação ainda era muito alta. Não se escolhia ser padre por isso – ao menos normalmente. Mas a perda de consideração certamente não ajuda a estar motivado para isso. (…) Não somos uma empresa. Mas alguém aconselharia um jovem a fazer parte de uma companhia com estas perspetivas e com celibato e promessa de obediência?», pergunta o padre.
2- DISCUSSÕES INFÉRTEIS NOS CONSELHOS PAROQUIAIS
Outro erro que deixa a Igreja pouco atrativa são as discussões que frequentemente se repetem nos órgãos paroquiais. «Que impressão teria um não crente ou uma pessoa de outra religião que participasse das discussões dos conselhos paroquiais, em que são negociados os lugares e horários das nossas celebrações? Quando se negocia meia hora antes ou mais tarde para que dê tempo de fazermos o trabalho no jardim, dormir até mais tarde ou assistir a uma partida de futebol? Quando se falam de costumes e comidas, ao invés de discutir o significado da morte e ressurreição de Jesus? (…) Como podem brotar da Missa a luz e a alegria, esperança e convicção, quando ela já não é tão importante quanto um café da manhã mais tarde ou um jogo entre o Colonia e o Bayern de Munich?», pergunta-se o padre.
3- MUDAR SIM, MAS SEM FERIR SENTIMENTOS
»Às vezes, participo de celebrações litúrgicas e, ao final delas, me pergunto se eu continuaria indo àquela igreja. Ao final da Missa, me sinto verdadeiramente ‘despedido’, no sentido literal da palavra. Às vezes, mesmo como fiel, saio da celebração eucarística e não sei se deveria sentir-me zangado, triste ou até afetado. Nem sempre isso depende do celebrante ou da homilia; geralmente depende do quadro em seu conjunto. Se, por exemplo, querem mudar os costumes e tradições, antes de fazer isso é preciso levar em conta a sensibilidade dos fiéis. (…) Um companheiro contou, visivelmente emocionado, que lhe fizeram uma amável advertência depois de sua primeira Missa na paróquia. Um homem aproximou-se dele e disse: ‘Padre, na nossa paróquia é preciso distribuir a comunhão mais devagar. Nós levamos muito tempo para comungar’. A advertência e a sua formulação diziam muito da atmosfera que reinava na celebração eucarística e na relação existente entre as pessoas da comunidade. Além disso, aquela advertência caiu num terreno disposto a recebê-la», esclarece o Padre Thomas.
4- A PROMESSA BATISMAL NÃO CUMPRIDA
“Prometemos educar o nosso filho na fé”. Quem já participou de um batizado conhece esta frase. E muitos já a pronunciaram, de forma mais ou menos consciente. Hoje, a crise da fé, sobretudo entre os mais jovens, deve-se muito à distância das famílias em relação à Igreja, que se recuaram da promessa feita no batismo.
«Encontrei-me, certa vez, com um casal que tinha deixado a Igreja e queria batizar o filho somente para que ele pudesse frequentar, depois, uma escola diocesana. Eu não batizei a criança. Mas os pais encontraram outro padre que, talvez, tenha tido outras boas razões para fazer o batismo», lamenta o padre. O sacerdote pensa que uma solução poderia ser a “introdução de um catecumenato mais longo” para pais, padrinhos e madrinhas dos batizandos. «Seria, provavelmente, um caminho, mas só funcionará se todas as paróquias seguirem-no».
5- PRIMEIRA COMUNHÃO? UM SHOW!
Sobre os problemas da cerimónia da Primeira Comunhão, Padre Thomas é duro. Hoje, é cada vez mais difícil transmitir às crianças a importância do primeiro “encontro” com o corpo de Cristo. «Reina em todas as partes um grande nervosismo. O salão é arejado, limpo e enfeitado. Os bancos são reservados e o programa com o desenvolvimento da cerimónia é impresso. Vários ornamentos são colocados no caminho da entrada e na fachada da igreja. Depois, chegam eles, os pequenos protagonistas, por quem se gastam tanto tempo e dinheiro. Eles vão vestidos como se fossem a um antigo e prestigioso Gran Hotel, com roupas e adornos de pequenos adultos», diz.
À luz dessas experiências, o Padre Thomas propõe outro modelo de preparação para a comunhão: numa hora as crianças receberiam a explicação sobre a celebração eucarística, noutro momento ensaiariam a celebração e, no domingo, elas já participariam da celebração. No final, todos seriam convidados a seguir a catequese como preparação posterior (não anterior, como acontece hoje), em forma de grupos, com reuniões e participação na Eucaristia do domingo.
6- COMPREENSÃO E AJUDA AOS CASAIS
O casamento pode ser o momento em que os noivos voltam a encontrar a fé. E para que comecem a viver uma nova vida cristã depois de um período de distanciamento espiritual. Mas os padres, geralmente, não dão aos noivos a oportunidade de conhecer a fundo o valor do que eles vão celebrar. Para fazer isso, é preciso compreender a história dos que vão receber o sacramento. «Um dia, veio até mim um jovem casal que havia redescoberto a fé. Eles me contaram isso e também disseram que os membros das suas famílias poderiam participar do casamento, mas não de uma celebração eucarística. Para o casal, era muito importante que a Comunhão fosse dada a todos, mas os seus convidados não saberiam o que fazer com ela. No entanto, eles não queriam renunciar à Eucaristia. Por outro lado, não poderiam excluir o resto da família da celebração. A solução foi simples. O matrimónio foi celebrado com a Liturgia da Palavra e, depois, os recém-casados receberam a comunhão numa Missa, mais tarde», exemplificou o autor.
7- MAU EXEMPLO
O mau exemplo que os responsáveis pelas instituições dão no que diz respeito ao estilo de vida e à ostentação afastam as pessoas da Igreja. Escreve o Padre Thomas: «antes de administrar o sacramento da confirmação, um bispo quis dialogar em tom amistoso com os confirmandos. Ele pediu para que os crismandos perguntassem tudo o que eles queriam saber sobre um bispo. Ele lhes disse: ‘Sou um de vocês, podem perguntar tudo’. Então, um deles respondeu: ‘Senhor bispo, enquanto o senhor se vestir assim e andar nesse carro com motorista, o senhor não será um de nós’».
8- UM VERDADEIRO “CENTRO DE SERVIÇOS” PARA OS FIÉIS E PARA OS DEMAIS
«Se eu vejo a igreja como algo que tenho na minha frente, então posso desejar algo dela, exatamente como o cliente num restaurante, onde ele é rei», explica o padre alemão. «Pode-se argumentar que, na Igreja, fala-se com amor às pessoas e que elas não podem vir com exigências. Efetivamente, isso não deveria acontecer nunca em relação aos sacramentos, mas entre os dois extremos – o pedido e a exigência – há um caminho longo. E quem se aproxima deveria ser bem-vindo», conclui Thomas Frings.
Fonte do texto: aqui
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